Mas és deputado desde 1996. Lembras-te, certamente, do primeiro mandato do Governo PS e dos primeiros "tiques" de alguma autocracia de Carlos César. Vieram os cursos de formação jurídica apenas para técnicos superiores que estivessem "em sintonia" com a política do Governo. Ficaste calado. Veio o ofício que estabelecia a "obrigação" de funcionários públicos assistirem à posse de um secretário regional. Ficaste calado. Veio o ofício que acompanhava a fotografia do presidente, a aconselhar que se metesse aquilo numa parede das instituições para onde era enviada. Ficaste calado. Conquistada a maioria absoluta, a que se seguiriam mais duas, muitas foram as "cesarianas" às quais sempre esperei que tu, ou alguém com coragem dentro do PS, se opusessem. Mas ficaste calado. Entendi, então, que das duas uma: ou estavas de acordo com tudo o que César decidia; ou não estavas, mas preferias ficar calado, na perfeita consciência de que, se falasses, seguirias o mesmo caminho de todos quantos falaram contra o grande soberano. O que não seria nada do teu interesse.
Só que chegou uma altura em que não podias ficar calado, Vasco. Quando César resolve ir embora e decide que serias um digno sucessor, era o momento de ouro para dizeres "não posso aceitar, isto não é uma monarquia, é um partido político, com militantes aos quais deve ser dada (devolvida) voz, assim funciona a democracia, assim dita a Lei, fico honrado(?) com a escolha, mas seria contra todos os meus princípios aceitar que um homem só ou uma espécie de Comité Central que é a Comissão Regional decidam a sucessão". Não o fizeste. Não sei se pela mesma vaidade que sempre caracterizou o teu antecessor, se por qualquer outra razão, aceitaste e meteste pelas ilhas todas os teus olhos castanhamente ternurentos com a máxima "renovar com confiança". Vasco, Vasco, como se pode ter confiança num homem que não quis saber se os militantes do seu partido nele confiam? Depois, vieste com "ganhar o futuro". Mas como pode ganhar o futuro quem ajuda a hipotecar o presente, pela cumplicidade nos erros do passado?
Se ganhasses, não serias apenas um homem que ficou calado perante o inaceitável. Serias também o sucessor, embora em linha colateral, de um homem que se comportou como um rei dentro do seu partido e à frente dos destinos destas ilhas. Não sei como alguém se permite aparecer sozinho num cartaz, a dizer que é o "nosso" Presidente. É demasiado sul-americano para o meu gosto. Mas sei que não gostaria nada de ver a mandar quem em toda a sua vida política foi um pau mandado.
António Bulcão
Artigo de opinião originalmente publicado no jornal «Diário Insular», de 3 de Outubro [disponível online apenas para assinantes].
Saudações florentinas!!
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