A Senhora ProfessoraMaria Manuela de Medeiros Nóbriga Gomes(24.12.1928 – 24.12.2009)Uns mais que outros, os
professores marcam. Sempre.

De todos, aqueles que mais marcam são, em princípio,
os da instrução primária. Marcam os alunos e os pais, as escolas e as comunidades, as gerações e os tempos, as histórias e os percursos...
marcam os destinos de uma criança.
A Senhora Professora, a D. Manuela, como lhe chamávamos, marcou. E marcou-me. Muito.
Chamado “à parte”, recebi a notícia [do seu falecimento] umas horas depois, em cima da Noite de Natal. Abri a palma da mão e contei os cinco dedos... quem mais me marcara até hoje?
Marcar não advém, directamente, de gostar ou amar. Não resulta, necessariamente, de simpatizar ou admirar. Não deriva, obrigatoriamente, de laços de sangue ou amizade.
Marcar, pode ser também isso tudo, conjunta ou separadamente. Mas é diferente disso.
Marcar galga os «afluentes do rio». Marcar é «moldar o barro». Marcar é configurar. Marcar é «o timbre e o selo» que, uma vez aposto, cada qual leva consigo.Não é saber andar, falar, ler, contar, escrever, comer, brincar, estudar, trabalhar, pensar, cumprir, merecer, lutar, acreditar ou sonhar...
é adquirir uma determinada forma de andar, falar, ler, contar, escrever, comer, brincar, estudar, trabalhar, pensar, cumprir, merecer, lutar, acreditar ou sonhar... e por aí adiante, vida fora.
Marca-nos quem nos emblema, quem cunha decisivamente uma certa forma de ser e de estar.

A
D. Manuela, com elevado mérito, honrosa distinção e louvável brio, soube preservar, recriar, vincar e configurar o emblema da
Escola Primária da Fazenda. Fê-lo ao longo de décadas. Atravessou gerações.
Marcou as pessoas de um tempo e de um lugar, que tanto fez por elevar, e que com tanta tristeza ou alegria viu quedar ou sobressair.
Se abrirmos «a palma da mão da Fazenda» e contarmos, a
D. Manuela merece estar, com inteira justiça,
entre quem mais e melhor iluminou o espírito daquela Comunidade - situando-nos na segunda metade do século XX.
Seria, portanto, da
mais elementar gratidão, que quem de direito tomasse a iniciativa de propor adequada evocação institucional à Senhora Professora, tomada ao menos no seu sentido literal, pois a palavra, na sua mais lídima acepção, tem força bastante para dizer sobre o estatuto da figura a que respeita.
A título pessoal, aqui fica este pensamento, testemunho de quem tenta alinhavar estas linhas a jusante, não sem acrescentar que assume com orgulho o emblema que a D. Manuela deixou à Escola e que aceita, prezado, o quinhão da marca que lhe cabe, por ter sido seu aluno.
Preto no Branco,
Ricardo Alves GomesPS: Não se pretende ensaiar aqui qualquer retrato biográfico ou elogio póstumo. Há-de haver quem saiba fazê-lo melhor e com maior propriedade. Isso não significa, porém, que alguém fique coarctado de comungar o fio desta nota singela, cuja exclusividade é de todos os que a queiram fazer sua.