Histórinhas... a propósito de Rádio!!!
Ainda há algum tempo atrás, falava eu do sinal “errante” das antigas transmissões televisivas que recebíamos há uns “anitos” atrás (isto a propósito de um artigo sobre banda desenhada), porque “vivíamos” a nossa ultra-perificidade de forma muito acentuada (gosto muito destas neo-classificações).
Éramos uma ilha onde “São Vapor” apenas se dignava a visitar mensalmente, (falo já do “meu tempo” e isto quando o tempo permitia, quando não era assim) vivíamos tempos de constante falta de bens de primeira necessidade e dos açambarcamentos, verdadeiros “tesourinhos deprimentes” (perdoem-me os “monços” do «Gato Fedorento»...) de tempos passados. E “valha-nos Deus” (assim dizem os mais idosos) que isso já não acontece (com a mesma frequência).
Mas voltando ao assunto, os florentinos sempre tentaram “combater” o isolamento da melhor forma que sabiam e podiam (acho eu na minha humilde visão das coisas...)
Sempre se “bateram” umas cartadas (nos “clubes” e nas “juntas” ou onde quer que o povo se juntasse à noite para dar largas à “cavaqueira”) ainda que à luz da vela para passar o tempo, sim porque os Invernos rigorosos (leia-se “brutais ventanias”) davam frequentemente “cabo das linhas da luz”.
A ocidente, por muitos anos, se teimou em usar a criatividade e um dos mais apreciados frutos da inteligência de alguns e do engenho aguçado destas gentes (algumas...gentes...) foram as emissões “piratas”. Imaginem que chegamos a ter uma televisão local.
Eu sei... eu sei... era um bom assunto para relembrar, mas infelizmente não me vou alargar por aí por falta de conhecimento, estou certo que o Paulo [Leal] há-de tirar um dia para vos contar essa história.
Por isso falo de rádio... mas de rádio local...
Daquela feita por gente da ilha para gente da ilha...
Daquela feita à perda de serões por detrás de uma “mesa de mistura”, dois “pratos” e um “deck” com cassetes de fita castanha e discos de vinil... (no início, claro, que depois chegou o cd em grande!), quando ainda não havia a informatização, nem o mp3, nem a rádio a metro (como muitas que por ai andam) com tudo “programadinho”, “cotizado” e “despersonalizado” para correr bem.
Falo de rádio... mas de rádio local...
Daquela... [rádio] pirata de espada à cinta e pala no olho...
Daquela rádio com as “brancas” e as falhas próprias das coisas feitas mais pelo coração do que com a sapiência.
Daquela feita da carolice de uns quantos a partir de um emissor “amador” e de uma antena artesanal instalada no quintal...
Daquela que recebia apenas o “subsídio” do reconhecimento de uma audiência assídua nos tempos em que a televisão era como era...
Uma vez mais, não podia deixar aqui um texto sem relembrar alguém ligado a este assunto, neste preciso caso um dos rostos por detrás da rádio nesta ilha, porque crédito dá-se a quem merece, esteja presente ou, como é infelizmente o caso, já não esteja entre nós, porque não se pode falar de rádio nesta ilha sem relembrar o “Max”, o homem dos 1.001 talentos, que mexia e remexia nos transístores e resistências (penso que se chamam assim, nada percebo dessas geringonças electrónicas) e que deu voz a muitas e muitas emissões nas (também muitas) frequências que usou.
Era o “Max”, conhecido por toda a gente e que (já numa fase mais recente) foi a “alma” por detrás da última “Rádio Flores”.
Desse tempo já nem o edifício existe, corre por aí que foi uma operação estética em prol do progresso, pena que [na ilha das Flores] o custo do progresso passe pela destruição de património cultural.
Relembrei o “Max”, porém muitos foram (seus contemporâneos) os que deram “som” a esta ilha.
Os últimos faziam parte de um projecto chamado Rádio S.O.S.
A rádio “S.O.S.” arrancou para o ar em 12 de Abril de 1993, se hoje ainda estivesse entre nós teria 14 anitos... (conto essa história aos mais esquecidos da próxima vez, que desta já vou longo...)
Falei de rádio...
Daquela rádio que se fazia “pirateada”...
Era ilegal? Talvez... mas nunca incomodou ninguém... e, bem mais importante, era feita por florentinos para florentinos!!!
Todos têm direito de discordar deste artigo. E eu... Eu tenho direito a uma opinião!!!
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