domingo, 6 de setembro de 2009

Saudade e Poesia #6

Quadras Soltas

Quanto mais lenha no feixe
Mais depressa coze o bolo;
Quanto mais tolo mais peixe,
Quanto mais velho mais tolo.

Sem teres dom ou vocação,
Tiraste à força um curso;
P'ra não te chamarem cão,
Mas já te chamaram urso.

Quando tu passeios dás,
Muitos espelhos encontras,
Olhas p'ró lado e p'ra trás,
Para te veres nas montras.

Ao entrar tiras as botas
P'ra não sujares o tapete;
Foi um treino - mas não notas,
Que te esqueceu o barrete...

Enquanto tiveste bens,
Viviam outros à míngua;
Gastaste; já nada tens,
Só te ficou foi a língua.

Não deve mandar nas Flores
Os candidatos de fora,
Qualquer ilha dos Açores;
Tem dos seus a toda a hora.

O moleiro tira a maquia,
Quando nos mói a moenda;
O camarário a "quantia"
Contributo da fazenda...

Esmola p'ra ser bem feita,
É dada sem ninguém ver;
Entregue co'a mão direita,
Sem a esquerda saber.

Muitas vezes o andante,
Vê mais que o cavaleiro;
E um esperto ajudante,
Dá ideias ao pedreiro...

Se ensinares teu filho,
Ensina como se faz;
Não vá ele sachar milho
E deixar a erva atrás.

Mastigar de boca aberta,
Só se for batatas quentes;
D'outra forma, é ver s'acerta
A comida entre os dentes.

As redondilhas que fiz,
Não tem meta dirigida;
Mas nalgumas delas diz,
Algo que tem nossa vida.


Denis Correia Almeida
Hamilton, Ontário, Canadá

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