Saudade e Poesia #6
Quadras Soltas
Quanto mais lenha no feixe
Mais depressa coze o bolo;
Quanto mais tolo mais peixe,
Quanto mais velho mais tolo.
Sem teres dom ou vocação,
Tiraste à força um curso;
P'ra não te chamarem cão,
Mas já te chamaram urso.
Quando tu passeios dás,
Muitos espelhos encontras,
Olhas p'ró lado e p'ra trás,
Para te veres nas montras.
Ao entrar tiras as botas
P'ra não sujares o tapete;
Foi um treino - mas não notas,
Que te esqueceu o barrete...
Enquanto tiveste bens,
Viviam outros à míngua;
Gastaste; já nada tens,
Só te ficou foi a língua.
Não deve mandar nas Flores
Os candidatos de fora,
Qualquer ilha dos Açores;
Tem dos seus a toda a hora.
O moleiro tira a maquia,
Quando nos mói a moenda;
O camarário a "quantia"
Contributo da fazenda...
Esmola p'ra ser bem feita,
É dada sem ninguém ver;
Entregue co'a mão direita,
Sem a esquerda saber.
Muitas vezes o andante,
Vê mais que o cavaleiro;
E um esperto ajudante,
Dá ideias ao pedreiro...
Se ensinares teu filho,
Ensina como se faz;
Não vá ele sachar milho
E deixar a erva atrás.
Mastigar de boca aberta,
Só se for batatas quentes;
D'outra forma, é ver s'acerta
A comida entre os dentes.
As redondilhas que fiz,
Não tem meta dirigida;
Mas nalgumas delas diz,
Algo que tem nossa vida.
Denis Correia Almeida
Hamilton, Ontário, Canadá
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