domingo, 18 de março de 2007

Pérolas do «Rocha dos Bordões» #1

Republicação de «Houve um "tsunami" na ilha das Flores em 1940??!», originalmente publicado no Rocha dos Bordões a 2 de Maio de 2005.
photo «Cientistas referem tsunami ocorrido na ilha das Flores em 1940»!! Encontra-se em reedição o "Catálogo das Catástrofes Naturais dos Açores", numa iniciativa do objectivo 3 do projecto INTERREG III-B VULCMAC 2; por esse motivo alguns investigadores do Observatório Vulcanológico e Geotérmico dos Açores [OVGA] estão a proceder a uma revisão do [anterior] catálogo de 1986, adicionando-lhe [novos] elementos [entretanto] recolhidos de diversas fontes.
Uma das grandes novidades desta revisão [do "Catálogo das Catástrofes Naturais dos Açores"] consiste na identificação de fenómenos tsunâmicos, nomeadamente os que se desenvolveram nas ilhas das Flores e do Corvo, ainda em fase de estudo.
Com a colaboração do historiador florentino João Gomes Vieira, os cientistas do OVGA têm já como certo o registo de vagas gigantes de origem sismogénica no dia 25 de Setembro de 1940, conforme um documento oficial descoberto na Guarda Fiscal de Santa Cruz das Flores e do qual [seguidamente] se reproduz um breve reumo:
"O temporal que levou o azeite de baleia de toda a ilha das Flores atingiu todas as costas da ilha, com maior intensidade nos portos do Boqueirão, que destruiu todas as instalações baleeiras, levando armazéns e cisternas do azeite da campanha de um ano [inteiro].
[O temporal] Destruiu as muralhas do Porto Velho e do porto das Poças, (as ondas d)o mar destruíram paredes de relva e terreno de culturas à cota da antiga estação telegráfica das Flores, que fica por detrás da piscina natural.
As ondas foram muito altas, [ainda] mais junto da costa [em] que atingiram áreas que estavam sensivelmente a 20-25 metros de altitude. [O temporal] Destruiu muitas embarcações nos vários portos da ilha.
No porto das Lajes das Flores [o temporal] levou toda a produção de azeite de baleia da campanha daquele ano, [e ainda] muitas embarcações e um barco de carga que era do meu pai"
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Segundo a nota da Guarda Fiscal [o documento oficial descoberto em Santa Cruz, do qual acima reproduzimos um breve resumo], ao fenómeno [as referidas ondas gigantes] seguiram-se maresias que se estenderam pelo dia inteiro. Os cientistas do OVGA encontram-se a pesquisar notícias deste tipo nos jornais da época, tanto das Flores como do Faial. Recorda-se que o acontecimento [as ondas gigantes] ocorreu em tempo de plena Segunda Guerra Mundial; ou seja, essas ondas gigantes podem [eventualmente] ter tido origem bélica ou em meras experiências de guerra.
Note-se que a ocorrência nos Açores de tsunamis com elevado poder destrutivo é de baixa probabilidade, pois nos Açores não existe [a chamada] "plataforma continental", ou seja, parece existir uma relação estreita entre a leve inclinação do fundo do mar sobranceiro aos continentes e a violência dos tsunamis. "O que vemos das nossas ilhas são autênticas pontas de vulcões, que têm origem a mais de 2 mil metros de profundidade" (referem os cientistas), pois para uma onda gigante que se forme no fundo do oceano subir esta muralha parece ser um movimento pouco natural, constantemente contrariado pela sua constante elevação e irregularidade; quando a maré [eventualmente tsunâmica] chega à superfície, praticamente já não é assassina.
Saudações florentinas!!

7 comentários:

Anónimo disse...

Não tinha lido isto antes, no outro blog, mas gostei de saber! Venham posts destes!

Anónimo disse...

Eu sempre ouvi contar uma história parecida mas, salvo erro, teria a ver com a quebrada da Costa do Lajedo que teria originado uma onda que ultrapassava a muralha do porto das Lajes.

Anónimo disse...

Marisa, isso foi noutra data e numa altura em que o porto das Lajes ainda era mais pequeno...

Anónimo disse...

Sim, mas a muralha ao pé da fábrica já existia, não?

Anónimo disse...

Claro que sim!

Anónimo disse...

Caros amigos, já com o porto construido vi o mar ultrapassar essa muralha.

Fórum ilha das Flores disse...

No passado dia 19, o nosso (muito amável) conterrâneo Horácio Flores enviou-nos (por email) um pequeno esclarecimento sobre o assunto tratado neste texto, aqui o transcrevemos:

Só uma achega a propósito do possível tsunami nas Flores em 1940.
Eu não sei se a designação é legítima, mas lembro-me muito bem do que então chamámos simplesmente temporal. Tinha então 9 anos e como meu pai era sócio duma armação baleeira, vivemos muito o caso lá em casa.
Ainda não tinha sido construída a Fábrica da Baleia e havia no Boqueirão, lá em baixo junto ao mar, duas "casas de derreter", uma da companhia Esperança (depois António Caetano de Serpa) e outra de Reis & Flores. Esta ["casa de derreter"] foi completamente destruída [pelo temporal] e como tinha no [seu] subsolo toda a produção dum ano, o mar levou tudo.
Lembro-me duma grande onda, no Porto Velho, que galgou a estradinha que vai do armazém da Alfândega ao farolim e no recuo deixou tudo esventrado: o piso de bagacina e os muros que dum lado e doutro contornavam essa rua. Julgo que o farolim [do Porto Velho] também se foi, mas não afianço.
Mas como ainda restam por aí [na ilha das Flores] pessoas mais velhas do que eu, poucos embora, talvez algum octogenário não de todo desmemoriado vos possa ajudar [com mais informações sobre o ocorrido em 1940]...
Um abraço do conterrâneo
Horácio Flores
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