«Preto no Branco» #31
A bem classificada e os mal classificados
Quando há uma estratégia definida, tal como os países, também as regiões, as ilhas e os municípios, em especial aqueles de dimensão mais reduzida e localização mais periférica, adoptam os seus planos de desenvolvimento em função dos vectores que os podem diferenciar pela positiva (as ideias âncora, como agora se diz) e apostam nos seus mais elevados títulos, os designados “brands”.
Foi assim, há uns anos, quando alguém (com a visão que hoje parece não haver rejuvenescido ou sequer regenerado) passou a invocar reiteradamente a mais-valia florentina sobre o que o mar das Flores representa e acrescenta à Zona Económica Exclusiva, no contexto económico da Região Autónoma dos Açores, ou quando se levou Sintra (Cabo da Roca) de vencida e conseguiu o reconhecimento político e institucional da ilha das Flores como Ponto mais Ocidental da Europa.
Pois bem.
Como todos sabem, (este «Fórum» e os media em geral deram destaque à notícia), em Maio passado, a UNESCO, graças ao interesse de vários, ao empenhamento de alguns e à sorte de outros, decidiu classificar as Flores como Reserva da Biosfera e incluir a Ilha entre (apenas) 517 outros locais no Mundo merecedores desse estatuto.
Ora, como o Corvo já fora distinguido, temos hoje todo o Grupo Ocidental dos Açores ao abrigo do “grant” da UNESCO, o que, para além de constituir uma enorme janela de oportunidades é também uma enorme responsabilidade, tal como logo tratou de vir dizer o Secretário Regional do Ambiente e do Mar - que lá há-de ter tido as suas razões para dar logo o “recado”.
Sem falar nas baboseiras que alguns partidos disseram sobre a candidatura, o que é mais espantoso é a reacção das autoridades locais e de alguns destacados dirigentes perante a notícia...
É triste, confrangedor e pesaroso ver o que os legítimos mandatários destas almas (oposições incluídas) vieram declarar, através de umas arengas da treta, balbuciadas e arrazoadas, como que a precisar terapia da fala!
Pois claro... não fazem a mínima ideia do significado da decisão da UNESCO, de quão difíceis são as negociações para “arrancar uma decisão deste calibre”, do grau de responsabilidade e de exigência que o novo estatuto implica ou sequer, ao menos, dos proveitos que se podem alcançar.
Na escala de prioridades e na ordem de grandeza dessas cabeças a classificação da UNESCO há-de equivaler, mais coisa menos coisa, à atribuição da Bandeira Azul para as zonas balneares - o que já não é (seria) pouco...
Mais. Podia argumentar-se: “... bom, isso é uma coisa que ultrapassa os foros da Ilha e até da Região, e as instâncias próprias, pela voz dos órgãos e titulares capacitados para tal, na altura certa vieram pronunciar-se... adequada, oportuna e convenientemente...”. Pois, pois... está-se mesmo a ver.
E as medidas locais subsequentes, então? Não vamos falar aqui das lixeiras, saneamento, estações de tratamento, recolha e exportação de resíduos, etc.
Apenas isto: Passaram as principais festas e a época de maior fluxo de turistas. Houve espectáculos, foguetórios, ilusionismo, raves, sopas e caldos para todos os gostos...
Mas, que diabo! Com tantos meios e recursos afectos, não restou capacidade nem interesse para, ao menos num gesto simbólico ou atitude pedagógica, colocar contentores de recolha selectiva de lixos, alargar a rede de “pilhões”, instalar uns cinzeiros de rua, distribuir uns panfletos com informação a sensibilizar os locais e visitantes para o assunto, colocar “outdoors” nos principais pontos da ilha, enfim... já que se estão marimbando para o assunto, talvez pudessem disfarçar com qualquer coisa... mas nem isso!
Devem estar à espera que qualquer dia venham “uns senhores de fora” tratar do assunto... faz lembrar a charada das plantas: “... A) Aqui estão as plantas que pediram. B) E quem é que as vem plantar?”.
Tudo isto era uma comédia engraçada se o assunto não fosse demasiado sério. Tão sério que a elevação da Ilha ao almejado estatuto - ser inscrita no catálogo das Reservas da Biosfera da UNESCO - depois do 25 de Abril, da consagração da Autonomia e da entrada de Portugal na CEE, será, porventura, a notícia mais importante, marcante e histórica que as Flores poderia receber.
Curiosamente, (salvaguardando desde já alguma outra eventual excepção, a que só por lapso não nos referimos), foi o Prof. Monteiro da Silva, num artigo publicado n' «O Monchique», quem mais e melhor atenção deu ao assunto, vendo de longe “o mosquito”, quando outros não enxergam “o boi”, mesmo à frente do nariz. Assim mesmo e Preto no Branco.
Ricardo Alves Gomes
8 comentários:
eu sou de santa maria e pergunto se o santorin está avariado nas flores é que ele está desde a semana passada encostado ao porto das lajes.
Decidimos seguir o caminho dos piratas da Somália.O barco está "aprisionado" até terem mais respeito pelas ilhas pequenas! Esperemos que o Viking fique em Santa Maria!
bela ideia.
a camara de filmar e que avariou...
obrigado amigo do dia 8 de setembro ás 19,05 pela informação. eu mais tarde olhei para o canto e vi a data que não conrrespondia ao dia em que estava a ver.
Excelente.Simplesmente excelente, é como posso qualificar a qualidade deste Preto no Branco 34.
Parabens ao articulista, e é com trabalhos com esta qualidade que os blogues marcam a diferença.
Está na hora dos responsáveis desta Ilha se entenderem duma vez por todas, e trabalharem em conjunto, quer a nivel autarquico, quer a nivel politico.
A Ilha das Flores tem grandes potencialidades a muitos niveis, mas é necessario valoriza-las, dando-a a conhecer aos que não cá vêem, e dando a conhecer tudo o que tem de bom aos que fazem o favor de cá vir.
Temos que valorizar o galardão que lhe foi atribuido, pois nem todos têm essa oportunidade.
O articulista diz e é verdade, sem ser a comunicação social, ningúem sabia que a Ilha das Flores faz parte de uma elite de locais que compôem a Reserva da Biosfera.
Localmente terá que haver mais outdoors a dar a conhecer o que temos para oferecer a nivel de qualidade ambiental, e menos caras e mensagens que todos nos já conhecemos .
gostei sim senhor de ler o artigo do anonimo das 16,28.
Para o tal da cana roca e para os nossos estremosos presidentes de camara, essa coisa de biosfera é um yogurte liquido que se bebe ao pequeno almoço.
Quando é que esta ilha adquire mais um bocadinho de massa critica?
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