quinta-feira, 21 de abril de 2011

«Brumas e Escarpas» #20

O Salão

A igreja da Fajã Grande tinha apenas uma sacristia, situada do lado do Evangelho, ou seja, a sul e que ficava anexa ao templo com o qual comunicava através do púlpito e de duas portas, uma que dava para a capela-mor e a outra para o cruzeiro. Era um edifício pequeno, de um piso e com duas divisões. Uma destas divisões era a chamada sacristia de cima, onde o celebrante se paramentava e que, para além de duas ou três cadeiras e uma pequena mesa que servia de secretária ao pároco, tinha um enorme gavetão, com alguns santos velhos em cima, em cujas gavetas se guardavam os paramentos e todas as outras vestes e roupas litúrgicas e um armário, encastoado na parede, que servia de resguardo aos cálices, píxides, relicários e restantes objectos de culto. Por sua vez, a outra divisão, onde se localizava a única porta que dava acesso ao exterior, chamada sacristia de baixo, era mais pequena, sendo grande parte do seu espaço ocupado com as escadas do púlpito, reduzindo-se o restante praticamente a um corredor de passagem, ladeado por alguns armários de arrumos.

O padre Pimentel, no início da década de cinquenta, que paroquiava a Fajã Grande nessa altura, sentindo que a sacristia era exígua e, sobretudo, por pensar que lhe faltavam espaços para arrumos, para a catequese, para ensaios, para preparar os andores, para guardar a Senhora da Soledade, para apoio à quermesse da Senhora da Saúde e até para recolher o milho das almas, decidiu que se havia de construir um salão. O projecto era simples e, ele próprio, o arquitectou. Tirava-se o tecto à sacristia, subiam-se-lhe três paredes, porque a do lado da igreja estava subida por natureza, colocava-se-lhe um tecto novo e construía-se assim, por cima de toda a área da sacristia, um segundo andar, formando um salão com um espaço um pouco superior ao da referida sacristia. A concretização do projecto, no entanto, era substancialmente obstaculizada pela falta de dinheiro e de mão-de-obra. Mas quando o pároco, na missa de domingo, anunciou o projecto, todo o povo se ofereceu para ajudar. O dinheiro era apenas um pequeno problema: fazia-se uma derrama pela freguesia, escrevia-se para a América a pedir aos emigrantes e arranjava-se o necessário. Quanto ao trabalho?! Bem esse, nem problema era. Então não é que estavam ali todos para ajudar?

Fez-se a derrama, escreveu-se para a América a arranjou-se dinheiro para a madeira, para a cal, para a telha, para as fechaduras, para as janelas e para pagar a um ou outro carpinteiro. Aos domingos, porque o pároco esclarecera que trabalhar aos domingos e dias santos de guarda, para a igreja e em benefício de Nosso Senhor, não era pecado, formavam-se filas e filas de carros de bois, uns a acarretar areia do Canto do Areal ou madeira dos Paus Brancos, outros a transportar carradas de pedra do Calhau Miúdo, até atulhar por completo o adro que, na altura ainda não era cimentado. Homens, mulheres e crianças, todos trabalhavam e ajudavam, consoante a sua capacidade, uns a cortar árvores, outros a partir ou a ajuda-la a carregar e descarregar a pedra, outros a encher sacos de areia e, os mais experientes, a aplainar as traves e os tirantes, a fazer parede, a amassar o cimento com a areia e a chegar e aplicar a argamassa. O empenho da população foi tal que, passados alguns meses o salão foi inaugurado.

A construção do salão assim como a compra da Filarmónica (com a oferta do leite do primeiro domingo de cada mês) e tantos outros projectos, embora menores, que na freguesia ganharam forma e concretização ao longo dos anos, foram e são, inequivocamente, um exemplo da força, da raça, do querer, do dinamismo, da generosidade, do espírito de entreajuda e de cooperação do povo da Fajã Grande.


Carlos Fagundes

8 comentários:

Anónimo disse...

Muito bem Carlos Fagundes.
Bem haja por trazer aqui estas memórias que demonstram quão verdadeira é a máxima:"Deus quer,o homem sonha e a obra nasce".
Muitos dos problemas que hoje defrontamos, resolviam-se fácilmente,se hovesse capacidade de mobilização,entreajuda e solidariedade entre as pessoas. O egoismo, o materialismo que se instalou nas sociedades,tolheram-lhes toda a capacidade de voluntarismo que no passado era mais frequente.
Sinais dos tempos, em que é necessário vencer,atingir objectivos, superar-se a si próprio e aos outros.
Boa Páscoa.

Anónimo disse...

estes tempos estao cada vez mais proximos. mas a muita gente que ainda nao viu..........

Anónimo disse...

não viu ou faz que não vê mas, se não viu vai ainda ver e não vai levar muito tempo o que eu acho é que vaiam pensando em trabalhar a terra e começar arrancar cana-roca nos lugar onde se fazia a cultiva da batata milho feijão etc, etc, e não vale a pena imigrar porque a crise também chegou a onde se imigrava alguns anos atrás.

Anónimo disse...

Acho bem que começem a preparar todas as terras lavradias.

Muitas terras aráveis que estão transformadas em pastagens têm que ser preparadas para milho, cevada, trigo, fava, batata doce, hortaliças, tomates, ervilhas, abóboras, mogangos, hortaliças,etc.

Vamos acabar com essa coisa da «comida da loja», que é muito cara e faz mal à saúde

Anónimo disse...

Vamos acabar com a comida da loja. Tem toda a razão este anónimo que faz mal á saude, e é verdade no tempo em que se andava por cima das paredes á procura de uns ramos de funcho que no inverno desaparecia e quando eu vinha de levar as vacas á relva antes de ir para a escola trazia debaixo do braço o agrião para quando vie-se da escola ao meio dia já tinha a sopa.Era estas comidas é que davam saúde.

Anónimo disse...

gosto bastante das suas publicacoes.é bom ver e trazer tomar conhecimento destas memorias em especial aos mais novos... bem a linda freguesia da faja grande o encanto mais ocidental da europa, ja nao se pode dizer que é de gente unida nem de colaboracao entre todos; isso parece que ja la vai. os acontecimentos que aconteceram na paroquia à cerca de um ano... a falta de respeito pelas autoridades religiosas etc... e a falta de democracia o respeito foi assim se perdendo embora ja tudo tenha voltado ao normal. abc de um emigrante.

Anónimo disse...

é bem verdade cada vez mais se vê a falta de respeito com a igreja,com o passal com o espirito santo e com os párocos da freguesia da fajã grande,infelizmente jà chegou ao ponto de até nas insignas do espirito santo e dos cabeças dos impérios serem só de quem está por detrás escondido é que escolherem quem se pode por nas listas e também para levar as insignas,acho que todos os mordomos têem direito a ser cabeças e devia de correr o rol todo,infelizmente não se passa assim,a fajã já não é o que era ,temos uma filarmónica ao abandono,muito custou ela a ganhar para que?pois está fechada porque não há união entre as pessoas desta freguesia ou pelo menos com os que já tocaram ,ainda hoje podia ser uma boa filármónica mas não é de estranhar porque quando dois ou três é que querem mandar em tudo e em todos,por isso acontece dessas coisas,até a irem pedir o que já tinha sido dado,e o ditado assim o diz o que é dado é mais que vendido,até a mesa e as cadeiras que estavam no passal da fajã grande já se foi pedi-las de volta,infelizmente essas pessoas não dão a cara mandam é o pau mandado que nunca diz que não nada,são coisas que nunca se viu é triste mas é a realidade,mas não se brinca com o que não é nosso, mas sim de todas as pessoas,como o divino espirito santo e a igreja, mas infelizmente a fajã-grande tem de tudo muitas pessoas são boas mas outras são falsas já não sabemos quem nos quer bem ou quem nos quer mal .um realista

Anónimo disse...

É verdade. É bom que os mais novos tomem conhecimento destas memorias... mas não as sabendo respeitar, não serve de muito e assim não podem dar o exemplo aos que vão vir a seguir. A Faja Grande é sem duvida o ponto mais ocidental da europa, mas só em paisagem; É triste. como existem pessoas de nivel baixo, que não sabem respeitar as Autoridades Religiosas!! Ao ponto de se tornarem mesquinhos, mudar, manipular de virar pessoas, pessoas fracas em espirito; o que pretendem? virar as pessoas para seu lado. Por isso esta freguesia esta como esta!!! Coitado de quem é pau mandado. Querem tudo, ate madarem nas mesas e cadeiras da Casa Paroquial! Mesa e cadeiras, veio para a rua,Que tinha sido oferta da junta de freguesia e estava mais dada que vendida! Que veio para posse de donos e senhores e para e para completar o quadro uma discuçao de nivel volgar e baixo! Nâo ha respeito pelas Autoridades religiosas por parte desses. Aqui fiquem sabendo que se não fosse uma dessas Autoridades Religiosas nunca tenha posto algumas dessas pessoas no seu devido lugar e assim endireitou a Faja... Nessa freguesia ainda ha muita gente empenhada em ajudar e colaborar e sim de opinião e a favor dos Senhores Padres. Força.