Memórias da rádio a Ocidente
Andava eu na rebeldia da adolescência quando a Rádio Flores emitia na frequência 104.5 FM. Da janela do meu quarto o meu minúsculo aparelho não conseguia captar o sinal. Era um jogo de “apanhada” entre uma janela e outra da casa dos meus pais para tentar apanhar em condições o sinal retransmitido do lugar da Ponta Ruiva.
Na altura, o nosso querido Max (era assim tratado o responsável pela estação) passava músicas com dedicatórias, publicidade do comércio local e notícias locais de interesse para a população. Era feito um esforço da parte dele e da parte dos seus colaboradores que se dividiam entre os seus trabalhos e a carolice de fazer rádio nos tempos em que esta ainda era a companhia das famílias e um meio de difusão e comunicação nas pequenas localidades.
Anos mais tarde, com a saída do Max da ilha, a rádio calou-se. E ficou um silêncio tão grande e um vazio tão intenso que juntou um grupo de jovens, movidos pela irreverência, pela rebeldia, mas sobretudo por uma sede de cultura que os fez iniciar o projeto da “SOS pirata”. Sim era um verdadeiro SOS.
Eram as vozes locais que se queriam fazer ouvir, que se queriam difundir uma vez mais numa frequência emitida a muito esforço por aparelhos “reinventados” por cérebros pulsantes e enérgicos que durante algum tempo levaram às casas das nossas gentes o saber local e a cultura da nossa pequena tribo nesta pequena ilha perdida no Atlântico. Silenciados foram também por politiquices e pelas “legalidades” e formalidades que desgastam aqueles que a algum custo tentam fazer viver as pequenas ilhas.
Hoje ouvir rádio já não é o que era. As emissoras que chegam às nossas casas estão bastante “distantes” de nós, da nossa cultura, das nossas vivências e das nossas notícias.
Um dia os nossos filhos e netos sentirão falta do registo noticioso da história da nossa ilha. As leis e as exigências e os custos incutidos aos órgãos de comunicação social são a “morte” do papel fundamental que eles exerciam, são a “morte” do registo local que se fazia.
Caiu as Flores no silêncio. Aquele silêncio que a alguns conveio!
Opinião de Maria José Sousa, publicada no «Azores News».
Saudações florentinas!!
Sem comentários:
Enviar um comentário