As nossas pequenas ilhas [açorianas] das Flores e Corvo são duas pérolas com pouco mais de 150 km2. Fácil é percorre-las, de ponta a ponta, admirando as infindáveis belezas [naturais] que têm para nos oferecer, difícil é lá chegar.
E digo difícil porque
para além dos constrangimentos causados pelas intempéries [naturais] a que [estas ilhas] estão sujeitas, os popularmente denominados “ventos cruzados à pista”,
outros surgem por acção do homem. Dificuldades e constrangimentos que se prendem não só com as disponibilidades de lugares [nos voos], mas, também, com o preço das passagens [aéreas] que se tornam incomportáveis para quem quiser desfrutar daquele cantinho do céu.
Dificuldades atrozes, se não vejamos dois casos recentes:
1º caso: viagem com destino à ilha do Corvo com origem na ilha Terceira e regresso pela ilha das Flores.
Não existindo lugares nos voos directos de ida e volta, terá o passageiro de “saltitar” por diversas ilhas até chegar ao seu destino. Para isso, paga 273 euros, para além de levar 6 horas a chegar ao seu destino.
2º caso: viagem com destino à ilha das Flores, com origem na ilha Terceira.
Não existindo lugares no voo directo de regresso à ilha Terceira, o passageiro tem de passar pela ilha do Faial. Para isso, paga 260 euros, para além de levar 4 horas a chegar ao seu destino.
Será possível quebrar qualquer tipo de isolamento com tais constrangimentos?Durante séculos, as ilhas do Corvo e das Flores sofreram por serem as ilhas mais afastadas do arquipélago. Ilhas, com poucos produtos [próprios] para exportar, que não suscitavam grande tráfego comercial. Mas,
hoje, parecem sofrer de outro tipo de isolamento, o isolamento imposto pelo homem que, apesar de anunciar e fazer uma série de infraestruturas, esquece-se que tão ou mais importante é lá chegar.Para além de todos estes problemas de mobilidade que afectam todas as ilhas, em particular [as ilhas d]o Grupo Ocidental, existem
outras situações graves que, depois de uma tarde no Aeroporto das Flores, nos fazem pensar como é possível certas coisas acontecerem. É inadmissível que, depois de [haver] voos cancelados pelos tais “ventos cruzados à pista”, os passageiros desesperados que tentam a todo o custo regressar à sua casa ou mesmo os turistas que tentam chegar à ilha seguinte do seu plano de viagem, se deparem com situações que, no mínimo, nos deixam de boca aberta.
Fui um desses passageiros. Apresentaram-me uma solução que aceitei, iria para a Horta onde teria de pernoitar por falta de ligação à ilha Terceira e no dia seguinte lá voaria para a minha ilha. Supostamente, o meu voo com destino à ilha do Faial partia às 19h50, e voltava em seguida às Flores para seguir para a ilha de São Miguel. Quando embarquei observei a longa fila de "check-in" para o próximo voo com destino a São Miguel.
Qual não é o meu espanto quando chego ao avião e ouço dizer que [afinal] o avião não voltava [naquele dia] às Flores!O meu primeiro pensamento foi para aqueles que pacientemente esperavam na longa fila de "check-in" convencidos que iriam para o seu destino naquele fim de tarde.
Não me importam as razões de tal decisão, se por falta de iluminação na pista que condiciona o tráfego nocturno, se o limite de horas de voo do pessoal da Sata. Apenas importa a justificação que devia ter sido dada aquelas pessoas que ainda faziam "check-in" para um voo que [já se sabia] não se iria realizar.E
tudo isto penaliza a mobilidade para as ilhas mais pequenas do nosso arquipélago, situadas no ponto mais ocidental da Europa. Os
turistas que lá vi não pareciam nada satisfeitos, pior devem ter ficado depois.
Mas, parece que tudo isto se resolve com a construção de um certo Hotel perto de um Parque Industrial!?Post-scriptum: A situação será mais grave se [eu] der ouvidos a certo
alvitre sobre um cancelamento [de voo] do dia 30 de Junho devido a avaria técnica, mas cuja justificação pública recaiu sobre [os] supostos ventos cruzados [na pista do Aeroporto].
Carla BretãoO presente artigo de opinião [acima transcrito] é da autoria de Carla Bretão, deputada regional do PSD pela ilha Terceira, tendo sido (originalmente) publicado na edição "on-line" do jornal «A União» (com a escrita deste artigo a estar datada de 4 de Julho, ou seja, possivelmente alguns dos acontecimentos referidos no artigo reportam-se à viagem da autora às ilhas das Flores e Corvo englobada nas Jornadas Parlamentares dos deputados regionais do PSD, no final do passado mês de Junho).Saudações florentinas!!