Mar açoriano: a fome e a lixeira
Em Abril de 2010 publicou o semanário «Tribuna das Ilhas» um artigo da minha autoria intitulado “A Pesca do Chicharro”, no qual alertava para o elevado número de licenças de pesca com redes de argola passadas para barcos da ilha de São Miguel que fazem a pesca do chicharro. Passado um ano, o peixe continua a ir para lixeira e os pescadores, que normalmente fazem esta pesca, a ganhar soldadas miseráveis!
Os Açores beneficiam-se de situação geográfica privilegiada relativamente a muitas outras paragens, pese embora o facto de, nos últimos anos, os Invernos serem bastante rigorosos e, por consequência, os pescadores ficarem por longos períodos sem poder sair para o mar. Claro, quando o tempo permite, todos procuram pescar o máximo possível e então a oferta (no caso chicharro) é muito superior ao consumo. Descem substancialmente os preços na Lota e há mesmo peixe que não consegue ser vendido, tendo como destino a lixeira.
Actualmente vivemos nos meandros de uma crise que uns poucos criaram e que muitos, a grande maioria, está pagando os respectivos custos. Algumas das entidades que praticam a caridade (Cáritas, Cozinha Económica, etc.) quase já não conseguem dar resposta a tantas e tantas solicitações. Hoje não são só os que “tradicionalmente” eram considerados pobres, muitos mais vieram e engrossaram a fileira. Também não há professor que não conheça na respectiva escola casos de crianças com fome. Será que alguém entende que nestas nossas lindas ilhas se passe fome? E cada vez há mais fome! Diga-se o que se disser mas “alimentar” de peixe a lixeira enquanto se passa fome é, no mínimo, um atentado à nossa dignidade!
As licenças para redes de cerco, os subsídios atribuídos para compra e apetrechamento das embarcações que operam com este tipo de aparelho, que à partida podia ser considerada uma boa medida de gestão, só não foi uma vez que tais licenças e subsídios foram dadas indiscriminadamente, mais uma vez não foi tido em conta (a existir) qualquer parecer científico ou estudo económico. Aliás, esta parece ser prática recorrente por parte dos responsáveis por tão importante sector da nossa economia – as Pescas. Veja-se o caso das licenças de pesca para demersais passadas pelas entidades regionais com competência na matéria a embarcações que operam no Mar dos Açores com companhias exteriores à Região (espanhóis, peruanos e outros) e que continuam a delapidar o pouco que nos resta, contribuindo decididamente para mais falências dos pequenos armadores.
Não é tornando os pescadores subsídiodependentes, nem com medidas que estão contribuindo para falências que se dignifica tão importante e imprescindível profissão, que já viveu melhores dias por incrível que pareça. Algo está errado e só quem não quer não entende!
Genuíno Madruga
Artigo de opinião originalmente publicado no «Correio dos Açores».
Saudações florentinas!!
1 comentário:
hà quem diga que está para breve a entrada do cabo de fibra no porto das lajes, não me admira nada de tal caso acontecer são cabos que não podem passar em lugares de baixios que provocam avarias.
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