«Miscelânea da Saudade» #14
Aqui por estas comunidades portuguesas, em volta dos grandes lagos do Ontário, a democracia destas pessoas é parecida à crise da classe trabalhadora da superfície externa de Portugal continental, que se encontra espalhada por ilhas como por exemplo os Açores, que só fala nos jornais e na televisão, porque à noite os bares andam cheios desses que se queixam durante o dia.
Eu cá não vejo, mas ouço de alguns que vão aos Açores e voltam dizendo: "qual crise! as tabernas e cafés estão sempre cheias". Outros dizem um pouco diferente: "oh homem! eles têm que beber para esquecer as complicações da vida". Segundo o que leio nos jornais dos Açores, quem se queixa mais são os empresários de hotéis, que dizem que este foi um ano mau por causa da crise. Bom, deixemos isso. O que me fez esgatanhar estas linhas foi a minha estória sem história.
Há três dias, quando noticiaram que o líbio Muammar Al Khadafi foi morto, lembrou-me Adolf Hitler quando teve o "seu Natal" anunciado. Esse bípede de dimensões variáveis, porque não era verdadeiramente mau p'ra todos, era um protegido ou vice-versa do professor do Vimieiro, do concelho de Santa Comba Dão, que preferiu deixar-nos às escuras, a comer pão feito de farinha amarela e cheia de gorgulho, do que negar tudo isso e ter que marchar com a mochila às costas.
Mesmo cobardemente, fazia-o. No meu tempo de rapazote, com 9 anos, os meus neurónios eram mais do que alguns gravadores modernos. Tudo o que entrava pelos olhos e ouvidos, ficava dentro desta bola que ainda se encontra agarrada a este pedaço de tronco que já foi gente.
Havia uma família do Continente hospedada temporariamente em casa das senhoras Nunes. Era o senhor Pinheiro, sua esposa, dois rapazotes e uma moça de 17 anos, qual nome ainda me lembro, Estela. Ele era faroleiro na Rádio Naval. Eu e os filhos, um pouco mais velhos do que eu, andávamos sempre na brincadeira; ora em casa deles, ora no farol com o pai.
A Guerra de 1939 por essa altura estava a terminar. Do Continente português para a Rádio Naval chegara umas revistas a preto-e-branco, anunciando a morte de Hitler. Na capa da revista trazia a foto do féretro de Adolf Hitler. Caixão aberto e cara branca cor de cal; teso como um balhau, mas bigode sempre preto. Fiquei com uma revista em casa. Não aqueceu lugar. O senhor Pinheiro muito agoniado pediu-me a revista p'ra tràs. Salazar deu ordens para recolher o envio de todas as revistas da guerra, principalmente as que anunciavam a morte do tirano...
Denis Correia Almeida
2 comentários:
Bonita história Sr. Dinis.
Pois é!!!!
A NATO acaba de participar e de incentivar auma barbárie que foi o linchamento em publico e mostrado ao mundo de Kadhafi.
Foi um tirano, não há duvida! Um dépota, que matava sem dó nem piedade, mas que durante anos e anos foi um lider de um pais e que era recebido por aqueles que agora organizaram a sua morte publica com honras de Estado.
è uma vergonha!!! Agora os rebeldes cagam para a NATO e já nem querem fazer a autópsia.
Pois, o serviço tá feito!!!
Já que foi possivel captura-lo vivo, deveria tersido julgado, de forma civilizada e nao bfazer como ele o fazia. A final existem muitos Kadhafis por aí!!!!
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