«Brumas e Escarpas» #123
Moinhos de mão
Os antigos moinhos de mão açorianos, muito comuns na ilha das Flores e mais concretamente na Fajã Grande, eram feitos de pedra basáltica e constituídos por duas peças talhadas manualmente na própria pedra. Uma era mó, de forma redonda e com um olho ou buraco no meio sobre o eixo central por onde se deixava cair o grão de cereal que se pretendia moer. Esta mó, sob a forma de tampa gigante, tinha encastoado, próximo do bordo exterior, um manípulo de maneira a imprimir o movimento mais ou menos rápido à própria mó. A segunda peça, sobre a qual assentava a mó, era uma espécie de base fixa e, obviamente também redonda, com um rebordo ligeiramente mais alto do que a mó. A base sobre a qual rodava a mó tinha uma pequena falha ou rebordo num dos lados, sob a forma duma pequenina rampa e através da qual a farinha depois de moída saía. Uma terceira peça que não fazia parte da estrutura do moinho era a destinada a recolher a farinha, sendo que muitas vezes se usava um saco ou simplesmente um pano.
Estes moinhos comuns em muitas casas, dado que a farinha que moíam ficava bastante grossa, na Fajã Grande eram usados geralmente para moer o milho quando ele ainda não estava bem amadurecido ou seco. Era com esta farinha que se faziam as chamadas papas grossas, que comidas quentes com o leite, ou simplesmente frias e às talhadas eram saborosíssimas. Havia também quem quando frias as comesse cobertas com o leite a ferver ou até fritas. Era sobretudo nos dias anteriores à apanha do milho que se recorria a este apetitoso manjar.
Moer no moinho de mão era tarefa das mulheres que muitas vezes pediam ajuda às crianças, a fim de irem lentamente deitando o milho no buraco da mó enquanto a mãe ou a irmã ou outra mulher ia rodando a mó, por vezes um pouco pesada.
Consta que no início do povoamento das ilhas, antes dos moinhos de água estes equipamentos domésticos terão sido de grande importância. Uma vez que ainda não existiam os moinhos de água ou de vento, era a eles que se recorria para moer os cereais, nomeadamente o trigo, muito utilizado nos primórdios do povoamento açoriano. Mesmo mais tarde, já com o funcionamento daqueles moinhos, as famílias mais pobres recorriam ao seu uso, obtendo, assim obter a farinha sem o encargo de pagar a maquia ao moleiro ou outros impostos.
Carlos Fagundes
Este artigo foi (originalmente) publicado no «Pico da Vigia».
1 comentário:
Excelente artigo. Deu saudade dos meus tempos de meninice...
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