“Não entendo por que a luta biológica não tem expressão na agricultura dos Açores”, afirma técnico holandês
Theo de Groot é um voluntário holandês, ao serviço da PUM Netherlands, associação sem fins lucrativos que se dedica a utilizar a experiência dos seus membros, normalmente técnicos já em idade de reforma, no apoio a empresas de zonas em desenvolvimento.
Theo está em São Miguel há vários anos e está ligado à agricultura, especialmente na vertente ecológica e da luta biológica. E a conclusão a que chegou é que os Açores, sendo uma região com um potencial agrícola “enorme”, mas afectados “por um número enorme de pragas”, ainda não perceberam como “resolver o seu problema de forma ecológica, estando ainda na fase da utilização de químicos, o que é um erro enorme”. Não há dúvidas sobre as pragas existentes no arquipélago. “Em boa parte devido às importações, os Açores recebem pragas de quase todo o mundo. E devido ao seu clima ameno, elas conseguem sobreviver nas ilhas, coexistindo neste momento pragas dos climas tropicais, sub-tropicais e frios”, diz o técnico.
Para ele, não são os químicos, mas a luta biológica, a solução para o problema. “Os produtos químicos foram introduzidos na década de 1930 e durante algum tempo pareceu que eram a solução. O facto, no entanto, é que os químicos não são a solução: para além de matarem em simultâneo uma série de organismos salutares para a agricultura, reduzindo assim as defesas naturais dos terrenos, também dão provas de já não serem eficazes contra um número crescente de insectos, obrigando ao aparecimento de novos químicos. Mas neste processo, a diversidade biológica perde-se, o que é muito triste”.
Mais triste ainda, como refere, é que os processos da luta biológica já atingiram um estádio de grande avanço que, no caso dos Açores, tornariam o uso de pesticidas perfeitamente dispensável em inúmeros casos. Na Holanda, já 90% de todos os legumes produzidos no país utilizam a luta biológica e já é possível comprar os organismos de que se necessita numa simples loja de produtos agrícolas – e não em qualquer universidade. A tecnologia está perfeitamente dominada e já existem mais de 400 organismos que são alvo de produção e comercialização regulares.
“O maravilhoso da luta biológica é que ela funciona e não tem problemas colaterais ou impacto na qualidade ambiental”, diz. O conceito assenta num princípio elementar: enquanto os insectos introduzidos têm a praga – da qual são inimigos naturais – para atacar, a sua população cresce; à medida que a praga começa a reduzir-se, a população dos insectos introduzidos também decai. Porquê? Porque esses novos insectos são os inimigos naturais de determinadas pragas e por isso não atacarão outros animais – simplesmente vão desaparecendo à medida que a praga também desaparece. O ideal, como refere, é que cada exploração agrícola tenha as condições ideais para que um pequeno número desses insectos se mantenha vivo e capaz de atacar as pragas. E basta deixar umas pequenas áreas com determinadas espécies – por exemplo o trevo – para que um pequeno número sobreviva. Por exemplo, uma só planta de trevo é suficiente para albergar cerca de 50 joaninhas – um poderoso auxiliar contra as pragas mas que é sistematicamente aniquilado pela luta química. O segredo, no entanto, está na próximidade dessas “ilhas” em relação às culturas que se pretende proteger.
O problema nos Açores é que a actividade das novas pragas não pára, sem que pareça existir uma resposta oficial clara e decidida. Ainda recentemente uma árvore quase centenária que existia no jardim do Hotel São Pedro teve de ser abatida por ter sido atacada por uma borboleta chamada Opogona sacchari, que está a atacar inúmeras espécies de vimes, estrelícias, bananeiras e árvores decorativas. “É incrível que mesmo já se sabendo da sua existência, não existe qualquer tentativa de controlar este insecto através da luta biológica, optando-se sempre pela luta química. E este é tão táctil de resolver”. Theo de Goor afirma que “os Açores têm belíssimos investigadores nesta área e até as instalações necessárias para o desenvolvimento de uma acção concertada neste domínio, mas inexplicavelmente muito pouco é feito. Parece que têm medo e o facto é que a ligação entre a investigação e a prática parece não existir”.
Notícia: «Diário dos Açores».
Saudações florentinas!!
2 comentários:
muito se fala na agricultura bologica. no meu tempo já era bologica e não se usava estes termos. mas depois do 25 de abril foi um tal espejar sacas de adubo para adoeçerem as pessoas.
Espantado?
É o tal da cana roca a debitar ideias e pensamentos...
Tomem nota, porque ele nao dura sempre.
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