domingo, 5 de outubro de 2008

«Miscelânea da Saudade» #3

Basicamente, e fisicamente falando, conheci três ilhas nos Açores. Desde que estou no Canadá, há 43 anos, o meu tempo, até à data da saída para esta terra, foi dividido por três ilhas: Flores, São Miguel e Terceira; esta última, foi "ovo fora do ninho"...

Até ao ponto de partida para esta terra, Canadá, a ilha das Flores e São Miguel, foram proprietárias deste "modelo móvel e antigo" que vos escreve. Dividi 14 anos de vida por cada ilha. A terceira parte, a mais pequena e intermediária, foi vivida na ilha Terceira, como também menos d'um ano nos E.U.A.. Nova Inglaterra, por volta do assassinato do JFK.

Sair das Flores; ir para São Miguel, Terceira, América e Canadá, não me faz dizer que sou homem viajado. Pelo contrário, fui pouco mais do que um canário de gaiola...
Para pôr o leitor ciente das minhas "africanagens" nunca passei da ilha de Santa Maria para o Leste. O nosso Continente português, não me dá saudade de ver; porquê?... Porque nunca o vi... Sendo assim, vinguei-me com unhas e dentes do sectarismo de imperialistas que eram possuidores de nós, (bem, refiro-me ainda ao tempo do homem de Santa Comba Dão) e que deixaram estas duas ilhas, Flores e Corvo, cinquenta anos à deriva e ao Deus-dará; dos tempos, das águas das aves e de diabos a quatro...

Se os americanos abrissem os olhos, as Flores, hoje, pertencia ao "uncle Sam" mas isso também não seria bom para nós florentinos, porque o tio Sam, nestes últimos tempos, tem contraído os músculos, em conflito uns contra os outros, o que faz lembrar o ditado do João do Outeiro; conhecem?... Têm conflitos dentro de casa, para podermos dizer o que os antigos diziam: "na casa onde não há pão, todos brigam sem razão".

Prezados leitores; ainda tenho mais desvantagens em não ser viajado: vivi 14 anos em São Miguel, e nunca fui às Sete Cidades. Acreditam?...
Nas cantorias do improviso, aquilo a que chamam "cantigas as desafio" (das quais fui profissional), cantei 3 anos na ilha Terceira; dez anos de freguesia em freguesia, em volta da ilha de São Miguel, e nunca vi, nem fui às Sete Cidades. Isto, é muito pior do que ir a Roma e não ver o Papa; porque eu não fui a São Miguel; eu vivi em São Miguel.
Nos dias d'hoje, qualquer um sem possuir eira nem beira viaja meio-Mundo.

Por falar em "cantigas ao desafio", não precisaria revelar todo este mistifório para dizer ao leitor que, por esta data, primeira semana de Outubro, Festa de Nossa Senhora do Rosário, na minha saudosa vila das Lajes das Flores, quando tinha 8-9 anos de idade, nas escadas da casa do saudoso padre Soares, no largo do Jogo da Bola, incentivaram-me para cantar ao desafio, com um José Elídio (salvo o erro, cuidador de gado da firma do sr. Maurício Fraga, se não me engano). Isto, pela festa de 7 de Outubro. Saiu muita gente do arraial, quando disseram que havia um rapazote a cantar no largo nas escadas do padre Soares.

Aplaudiram-me pela minha idade, audácia ou, talvez atrevimento, não pelas cantigas; porque, afinal que pode cantar um garoto com 8-9 anos?... Decerto disse pouco. O dito José Elídio (do Pico da Pedra, São Miguel, homem mais ou menos de 25 anos), não ficou lá muito entusiasmado com as palmas que me deram, porque numa quadra eu lhe havia chamado bêbado de São Miguel.

Irritado, e já quentinho, através de suas quadras ele disse que o povo das Flores era um povo doido e nervoso por beber muito café puro, e bater palmas a um fedelho de escola (esta volta do café puro, ele tinha razão, mas isto é caso para outra escrita). Creio que ainda deve haver pessoas desse tempo que se lembram desta passagem. Isto, por data de 1942/43.

(Continua no próximo segmento...)

Denis Correia Almeida

2 comentários:

Anónimo disse...

Sem querer ofender gostaria que me explicasse se o seu nome e mesmo esse ou adoptou-o quando emigrou?por mais que tente saber as suas raizes nas flores,ninguem me sabe explicar.Parabens pela sua escrita e que continue a participar aqui no blogue,pois e de artigos como os seus que isto vai para a frente...

Anónimo disse...

DCA=HARDLINKone
Sr. Pedro Bettencout;
Agradeço os elogios que me dá, do pouco que escrevo,como também sua curiosidade em indagar minhas raízes. Por enquanto, tentarei satisfazer um pouco do seu interesse, dizendo-lhe que, nos próximos textos,na coluna de Etiquetas/Marcadores, sob (DCA)
irá ler algo mais, acerca de minhas raízes.
Desde já, um obrigado, sempre com aquele abraço florentino.
Denis Correia Almeida