Queremos turismo selectivo e de qualidade
O concelho de Santa Cruz das Flores situa-se na metade norte da ilha das Flores. Tem uma área de cerca de 72 km2, está dividido em 4 freguesias e tem uma população que, hoje, ronda os 2.500 habitantes, praticamente sem variação relativamente aos Censos de 2001.
Com uma localização charneira entre o município das Lajes das Flores, a sul, e a ilha e município do Corvo, a norte, a vila de Santa Cruz das Flores constitui-se como a principal povoação da ilha e do Grupo Ocidental, servindo de sede a um conjunto significativo de infraestruturas e serviços, como é o caso do Aeroporto das Flores, do Centro de Saúde, da Escola Básica e Secundária, do Tribunal Judicial e da maioria das delegações governamentais e dos serviços dependentes do Estado e da administração regional autónoma.
Quando nos propomos reflectir sobre o futuro deste concelho torna-se oportuno citar Abraham Lincoln: “Se pudermos primeiro saber onde estamos, e para onde poderemos ir, estaremos em melhores condições para definir o que fazer, e como fazê-lo...”. Comecemos então por nos situar quanto ao presente.
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No que concerne ao sector primário da actividade económica, em Santa Cruz das Flores predominam a agro-pecuária e as pescas.
A indústria transformadora reduz-se praticamente aos lacticínios e, apesar da excelência dos produtos, a produção é escassa por falta de matéria-prima, uma vez que existe uma clara predominância da fileira da carne sobre a fileira do leite.
No sector terciário da economia o realce vai para o turismo e actividades conexas, que começam a dar os primeiros passos. De um modo geral, a qualidade ambiental do concelho é muito boa, apesar de se registar uma crescente pressão sobre os recursos naturais, nomeadamente em resultado do errado conceito de “desenvolvimento” que presidiu a algumas decisões políticas, e mau grado ainda não ter sido solucionado o problema dos resíduos sólidos urbanos por forma a permitir a selagem da lixeira a céu aberto existente no concelho.
Podemos pois afirmar que a principal riqueza e o maior potencial de desenvolvimento do concelho de Santa Cruz das Flores reside, inequivocamente, na excelência dos seus produtos (carne, peixe, leite e seus derivados), na qualidade ambiental e nas extraordinárias belezas naturais e paisagísticas.
Feita a caracterização do concelho, determinados os seus constrangimentos e as suas potencialidades, importa definir qual o modelo de desenvolvimento económico e social adequado para Santa Cruz das Flores.
Em suma, é urgente encontrar as adequadas respostas para a questão: que futuro para o concelho de Santa Cruz das Flores? O concelho de Santa Cruz das Flores constitui uma unidade territorial, económica e sócio-cultural diversificada, com características próprias e dotado de recursos e potencialidades que importa conservar e valorizar de uma forma sustentada, tendo sempre presente a necessidade de gerar riqueza e melhorar a qualidade de vida dos munícipes.
Sou dos que acredita que, por princípio, a acção para o desenvolvimento deve partir da sociedade. No entanto, em zonas menos desenvolvidas e pouco povoadas, como é o caso de Santa Cruz das Flores, os poderes públicos, em geral, e as Câmaras Municipais, de modo particular, têm de ter uma prática activa, isto é, ser um motor de desenvolvimento local.
Desenvolvimento que, em meu entender, se baseia em quatro eixos estruturantes: desenvolvimento rural, empreendedorismo, turismo e economia social.
O desenvolvimento rural passa por uma aposta séria na produção de produtos locais de qualidade. Para tal, o sector da pecuária e dos lacticínios terá que manter a sua importância, colocando-se, no entanto, a ênfase cada vez menos na quantidade produzida, e mais na qualidade, garantida por certificados de qualidade ambiental.
A necessidade da comercialização dos produtos locais levanta o problema do desenvolvimento das empresas num concelho em que a diminuta dimensão do mercado é limitadora das economias de escala, o que constrange o investimento por parte da iniciativa privada.
Num concelho em que é evidente o peso significativo da Administração Pública na economia local, constituindo-se o sector público como o grande empregador do concelho, é fundamental promover o empreendedorismo jovem e fomentar a criação de microempresas, potenciando cabalmente os apoios financeiros disponíveis e aproveitando nichos de mercado ainda por explorar.
Sem prejuízo das medidas de política implementadas pelo Governo Regional para incentivar o regresso dos jovens às suas ilhas de origem através dos programas Estagiar, uma população cuja pirâmide etária se encontra invertida e os baixos índices de natalidade tornam difícil, no futuro imediato, recuperar população e potenciar o mercado interno.
Assim, o turismo constitui-se como uma actividade económica fundamental para o desenvolvimento do concelho de Santa Cruz das Flores, enquanto actividade geradora de emprego e potenciadora de mercado. Turismo que, contudo, não se quer massificado, mas sim selectivo e de qualidade. Um turismo ambiental que passa, desde logo, pela preservação dos recursos naturais e da elevada qualidade e beleza da paisagem e do mar circundante. Um turismo que pode ser potenciado por medidas como a classificação das ilhas das Flores e do Corvo como Reservas da Biosfera ou a implementação do projecto Green Island.
Finalmente, é fundamental desenvolver sinergias e integrar esforços, designadamente na promoção e divulgação destas duas ilhas do “outro arquipélago”, através da cooperação intermunicipal.
Aqui chegados, somos levados a concluir que o futuro do concelho de Santa Cruz das Flores passa pelo cabal aproveitamento das características e qualidades que lhe são próprias. Em suma, as respostas para o desenvolvimento de Santa Cruz das Flores exigem um modelo de desenvolvimento sustentável, que se define como “um desenvolvimento que satisfaz as necessidades do presente sem comprometer a capacidade das gerações futuras satisfazerem as suas próprias necessidades”.
O desenvolvimento sustentável pressupõe uma dimensão social, ambiental e económica e pressupõe também a obrigação, por parte da actual geração, de legar às gerações vindouras recursos sociais, ambientais e económicos pelo menos tão elevados como os actuais.
Implica também, e necessariamente, a melhoria do sistema educativo, porque o adequado investimento na educação vai permitir que, a longo prazo, as habilitações e qualificações aumentem, contribuindo para o surgimento de uma capacidade empreendedora mais acentuada e uma economia mais diversificada e competitiva. Em resultado da consequente melhoria das condições de vida, poderá mesmo verificar-se o regresso de parte daqueles que tiveram de abandonar o seu concelho por falta de oportunidades para aqui se realizarem profissionalmente.
Na minha perspectiva este é o caminho a trilhar, com vista a garantir o futuro do concelho de Santa Cruz das Flores. E o futuro começa hoje!
Manuel Herberto Rosa
Presidente da Assembleia Municipal de Santa Cruz das Flores
Artigo de opinião de Manuel Herberto Rosa, integrante da edição de 27 de Março do semanário regional «Expresso das Nove», contendo um caderno temático especial exclusivamente sobre a ilha das Flores.
Saudações florentinas!!