quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Três açorianos, 3 destinos diferentes: trabalhar “lá fora” para alcançar o sonho de uma vida...

Três açorianos, três destinos diferentes. Tércio Sousa, Tiago Santos e Dário Miguel fizeram as malas, despediram-se dos mais próximos e lutam agora naquela que todos apelidam de “aventura”, lá fora.

Moçambique, Espanha e Brasil, são os países aos quais Tércio, Tiago e Dário, respectivamente, escolheram ou tiveram oportunidade para encontrar um trabalho diferente, quem sabe um destino melhor. As razões que levam estes e tantos outros jovens a deixar os Açores são normalmente motivadas por questões económicas ou pelo espírito de aventura propício da sua juventude e leva a que estes muitas das vezes se transformem em histórias e com carreiras de sucesso.

Tércio Sousa, natural de Santa Cruz das Flores, 26 anos, viajou para Moçambique há quatro meses e ocupa actualmente a direcção de logística de uma empresa de construção civil, Castanheira e Soares, não sabe ao certo quanto tempo vai ficar no continente africano, mas considera o seu trabalho cativante e “não é o mesmo de trabalhar em Portugal/Açores”, afirma. “Conhecer África, a verdadeira África, onde posso coabitar com os locais, nos mais diversos sítios e as questões monetárias”, tornam a sua presença em Moçambique numa experiência de vida fantástica e que o florentino aconselha a qualquer pessoa que tenha algum espírito de aventura.

Tiago Santos, natural de Ponta Delgada, São Miguel, viajou aos 23 anos para Valência, em Espanha, para ingressar no ramo da informática. Técnico de instalação e manutenção de redes informáticas de uma empresa chamada ProSeleccion, o micaelense planeia ficar pelo menos mais 6 meses na vizinha Ibérica porque se adaptou bem e gosta do modo de vida a que se habituou. A possibilidade de aprender coisas novas e o seu grande interesse pela língua, o espanhol, aliado a motivos pessoais motivaram a sua saída dos Açores e, garante o próprio, voltaria a fazer o mesmo se surgisse novamente a proposta laboral. “Um grande apoio da minha família, e amigos em especial, foi essencial e voltaria a tomar a mesma decisão de sair dos Açores se fosse hoje”, referiu Tiago.

Dário Miguel, 31 anos, natural da Terra Chã, na Terceira, está há 9 meses em Cuiába, no Estado do Mato Grosso, no Brasil, e trabalha no ramo da hotelaria, no hotel Deville. A falta de trabalho nos Açores, e a esposa, que também se encontra no Brasil, levaram Dário a viajar para a América do Sul onde “temos oportunidade de crescer profissionalmente”, salientou.


Ambições

A nível profissional, Tércio está empenhado em ajudar a empresa onde trabalha a referenciar-se no mercado. “É difícil, mas são os objectivos complicados que nos fazem trabalhar mais e melhor”, sublinhou. “A nível pessoal, sinceramente não posso responder a isso, vou deixando a vida decidir. Por enquanto, não penso em regressar a Portugal”, salienta o jovem das Flores que agora tem que acordar às 4:30 da manhã para iniciar um dia trabalho.

Tiago ambiciona viver a vida a cada momento. “Nunca se sabe o que o futuro nos reserva, mas gostava de continuar a trabalhar na minha área”, refere. A falta dos amigos e da família são os principais condicionalismos de estar tão longe de casa.

Já Dário que mora numa cidade com muito movimento, muita poluição e com “trânsito muito desorganizado”, afirma que se vive praticamente com a mesma cultura, mudando os hábitos alimentares e o vestuário que agora são mais “leves”. A picanha e o arroz com feijão substituiu a alcatra à moda terceirense, e até o vocabulário teve que sofrer algumas alterações... “saudades da família que ficou nos Açores e das gentes das nossas ilhas, sem falar da beleza natural”, são as coisas que mais relembra.


Vivências

Tomar café a seguir ao jantar, “algo banal em Portugal”, refere Tércio, é um luxo em África. São pequenos detalhes como este que mostram a diferença e a variedade cultural que os continentes intercalam. A RTP-África é aquilo que liga Tércio a Portugal, mas iniciativas por parte da comunidade portuguesa não são frequentes.

Tiago refere que o português não se fala [quase] nada em Espanha pelo que, não fosse o seu interesse pelo espanhol, estaria agora em “maus lençóis”. “O sonho é correr e conhecer o mundo todo e quem sabe depois de esta grande experiência não seja possível”, afirma Tiago Santos.

Dário Miguel traz uma curiosidade às nossas questões. Segundo o terceirense falar “do jeito como se fala na Terceira... (risos) brasileiro não entende”. O vocabulário teve mesmo que sofrer algumas alterações e nem a língua de Camões parece ser mesmo suficiente para bom entendedor.


O futuro

A Pérola do Índico, Moçambique, é a casa de Tércio Sousa. “Viajar” por cidades e províncias, contactar directamente com populações, chamadas do “Terceiro Mundo”, e vivenciar de perto situações de miséria e desenvolvimento simultâneo são ocorrências diárias e que acrescentam história ao caminho e percurso deste florentino.

A falta da presença dos amigos e família nunca pode ser colmatada e qualquer um destes jovens açorianos vai relembrar a sua terra mais que ninguém. “O facto de acordar sempre com uma temperatura apetecível, com milhares de quilómetros de praia, uma gastronomia fabulosa, as melhores frutas que já tive o prazer de comer, e um povo amistoso”, são razões que, para Tércio, atenuam a distância e o que ficou para trás. “Como se diz cá: Moçambique quem te conhece, não te esquece jamais”, relembra Tércio Sousa.

Tiago Santos acostumou-se às tradições de Espanha e da sua língua. O facto de a Europa estar cada vez mais próxima reduz uma distância, que afinal não é tão grande para quem é ilhéu e sabe o que custa sair e voltar aos Açores. O seu contrato, o seu trabalho que enaltece e quer ver reconhecido podem ser a rampa para um mundo de sonhos e concretizações pessoais e profissionais. São Miguel e o mundo esperam-no.

Dário Miguel saiu da Terceira, deixou para trás a sua família, os seus amigos, as suas gentes e costumes. Agora, como referiu, tem oportunidade de crescer e enfrentar novos desafios num mercado promissor em terras americanas. Quando se fala num português nos “quatro cantos do mundo”, podemos acrescentar um açoriano, um ilhéu, um desejo de poder ir e conquistar um sonho ou simplesmente aventurar-se numa nova etapa. O Tércio, o Tiago e o Dário são apenas três exemplos, três açorianos, três destinos diferentes.


Reportagem integrante do «Diário dos Açores» desta 2ª-feira (dia 1).
Saudações florentinas!!

5 comentários:

MILHAFRE disse...

Felicito estes três jovens que tiveram a coragem e a ousadia de irem para o exterior desenvolver as suas capacidades.

Na verdade, aqui nos Açores, assim como em todo o país, há cada vez mais dificuldades, desemprego e caos económico.

Ir trabalhar para o exterior é uma boa e saudável alternativa para quem não quer andar aqui a pedinchar empregos e a submeter-se às lógicas partidárias e burocráticas dum país e duma região à beira dum ataque de nervos.

Que esses jovens tenham muito êxito na sua vida pessoal e profissional, são os votos do Dr.Pardal.

Anónimo disse...

Hardlink diz:

Nos dias de hoje, a volta de emigrar de país para paíz, principalmente sair dos Açores, deve ser mais aventura do que necessidade.

O Correio dos Açores esta semana, em forma de notícia, publicou que, há cerca de 5000 emigrantes nos Açores, vindos de: Cabo Verde- Brasil--Ucrânia e do Leste da UE.

Ao serem entrevistados, 60% dizem que pretendem permanecer nos Açores. Como se entende isto? Dos Açores,imigra-se para outros países por faltar trabalho. Em contrapartida, eles entram para os Açores para trabalharem vindos doutros países.

Adianta ainda o jornal que, os que entram nos Açores para trabalhar estão mais preparados em instrução do que os que saem das nossas ilhas para outros países.
Estou de acordo

Para mim, a força dos que emigram dos Açores, para diferentes partes do mundo,já levam no sangue açoriano aquele [espírito aventureiro]
Quer necessite ou não!
DCA
hardlink@aol.com

Anónimo disse...

estou plenamente de acordo com o senhor DCA, hoje em dia não hà necessídade de sair dos açores como imigrante e eu falo da minha ilha das flores com tanto trabalho que aqui hà!que se fosse nos tempos em que me criava houve-se tanto trabalho de certeza que metade dos florentinos não tinham abandonado a sua ilha.

Fernando disse...

Gosto de sempre de ler o que o Dr. Pardal diz, mas desta vez ele está a esticar um bocado as coisas.
È como os outros comentários dizem os jovens estão numa aventura pessoal. Felicidades.
Culpar o governo pelas suas aventuras não está certo. Só em países como a Cuba ou Coréia do Norte é que o governo esta responsável por criar empregos para todos, na maioria e em especial no mundo ocidental o governo emprega uma pequena percentagem na segurança, saúde, e educação acadêmica das populações e o resto são os empresários que criam negócios que trazem riqueza não só a si próprios mas também geram oportunidades aos outros.
Em penso todos os partidos querem ver mais empresas a serem geradas não só para receber mais impostos mas também para reduzir o desemprego, criar riqueza e obviamente ganhar as próximas eleições.

Anónimo disse...

Pena que um de esses jovens, Tiago Santos, tenha sido expulso, do programa, por má conduta,no dia seguinte à reportagem!