Situada no extremo sul da ilha das Flores, a freguesia do Lajedo é constituída também pelos lugares de Campanário e Costa, sendo fertilizada pelas ribeiras do Campanário e da Lapa, que atravessam o seu território.
Nossa Senhora dos Milagres do Lajedo, uma das primeiras povoações constituídas na ilha das Flores, é talvez a mais enigmática, porque se esconde entre cristas e picos rochosos.
O topónimo principal significa "pavimento coberto de lajes, lajeado; lugar em que há muitas lajes; laje grande e lisa". Os seus 673 hectares de solos muito férteis, apresentam diversas cores que vão desde o branco, verde, vermelho e amarelo até ao preto. Como dizia Isatis Tinctoria: "Lajedo, terra de pão e de pasto, reúne todas as condições para acolher e alimentar quem nela queira viver". Assim o entendeu João Soares dos Mosteiros, natural da ilha de São Miguel, que aqui aportou e decidiu ficar, procedendo à colonização e ao desenvolvimento da região.
A paróquia do Lajedo foi criada por alvará régio em finais de 1823, apesar de ali existir desde 1781 uma ermida da invocação de Nossa Senhora dos Milagres. Aquele templo foi reconstruído em 1868 pelo então pároco, padre Francisco Luís de Freitas Henriques. A nova paróquia era delimitada pela Ribeira da Lapa, pelo Rebentão e pela Rocha Alta.
É Gaspar Frutuoso quem regista a existência de "dois ilhéus no mar, afastados de terra um tiro de besta, que têm pouco mato em cima, onde criam diversas aves, e entre eles e a terra há ancoradouros de navio, e ao nível com o mar corre uma ribeira, onde abicam as barcas dos navios e dentro enchem as pipas de água, sem as tirar fora. Chama-se a esta parte os Lajedos. É terra lançante e a rocha pouco alta, que dá pão e pastel".
O padre José António Camões refere-se, num escrito de 1815, a "uma fajã chamada a Costa, que tem muitas vinhas, mas infrutíferas, assim como são todas as da ilha das Flores". Depois, explica que "por dentro do tal ilhéu Cartário, há outro ilhéu pequeno e, por dentro deste, uma enseada chamada o Portinho do Lajedo, onde podem varar barcos pequenos, mas só com muita bonança". Por fim, fala ainda da ermida de Nossa Senhora dos Milagres, "a que concorrem muitos devotos, mas é provável, que a sua devoção consista exceptis exceptuandis em levarem os seus violinos, e tocarem e dançarem com as moças".
Vale sempre a pena recordar as estórias e as lendas que povoam o imaginário colectivo de uma comunidade, porque dão consistência a um passado comum, criando indestrutíveis laços de identidade e união entre as consciências individuais.
A electricidade chegou tardiamente a esta freguesia, apenas em 4 de Fevereiro de 1978, data em que a iluminação deixou de se fazer mediante as características lâmpadas a óleo de baleia.
Pierluigi Bragaglia, escritor italiano radicado na ilha das Flores, descreve um episódio curioso relacionado com a Cooperativa agrícola "Ilha das Flores", que teve sede no Lajedo, e a electrificação local: "Se foi esta a última freguesia florentina a pôr de parte as antigas lâmpadas a óleo de baleia, o director da dita Cooperativa, José de Freitas Escobar Júnior, instalara, com vários anos de antecedência, uma turbina numa ribeira muito abaixo da aldeia, e com um sistema de fios podia acender a luz do seu escritório – para fazer as contas, à noitinha – por meio de um simples interruptor; quase um milagre para as outras freguesias."
A freguesia do Lajedo orgulha-se das personalidades que, tendo nascido ou vivido no seio das suas terras, deram um importante contributo para o desenvolvimento do país e para o bem-estar da população.
José de Freitas Escobar Júnior foi, justamente, uma das maiores figuras do arquipélago dos Açores no sector dos lacticínios, graças ao exemplar trabalho de gestão que realizou na direcção da já citada Cooperativa agrícola "Ilha das Flores", durante cerca de quarenta anos. Natural desta freguesia, emigrou jovem para os Estados Unidos da América e, mais tarde, para o Brasil. Regressou alguns anos depois, não porque realizasse fortuna, mas porque o seu irmão fora acometido por uma doença grave. Acabou por aqui ficar, porque entendeu que podia fazer muito pelo Lajedo. Possuía um manancial de ideias, que desde logo colocou em prática. O facto de ter electrificado o seu escritório, trinta anos antes da chegada da luz à freguesia, rapidamente o celebrizou. O sistema era complexo, mas o grau electrónico do seu funcionamento demonstrava bem a genialidade do seu autor. Foi presidente da Câmara Municipal das Lajes entre 1944 e 1946 e, de novo, em 1948. Faleceu aos 84 anos, em 1986, na freguesia do Mosteiro.
Notícia: "sítio" da Câmara Municipal de Lajes das Flores.
Saudações florentinas!!