domingo, 22 de novembro de 2015

«Brumas e Escarpas» #90

Cooperativas Agrícolas na ilha das Flores

Hoje sabe-se, através de escritos e livros publicados sobre o tema, que as primeiras tentativas de apoio aos agricultores e criadores de gado da ilha das Flores tiveram lugar na freguesia do Lajedo sob a égide do padre José Furtado Mota, na altura pároco daquela freguesia. Este movimento, pioneiro no arquipélago e no país, pelo menos na área dos lacticínios, teve como causa a drástica descida, na altura, do preço do leite à produção, imposta sobretudo a partir de 1912 pelos industriais florentinos. É então que surge a ideia da criação de um grande sindicato agrícola que, abrangendo toda a ilha, tivesse como objetivo o fabrico e exportação de lacticínios e a exportação de gado a liquidar em Lisboa por conta própria, o qual foi criado anos mais tarde, seguindo-se a formação de cooperativas de lacticínios, uma das quais teve lugar na Fajã Grande, sendo o seu primeiro presidente tio Mateus Felizardo.

Os sucessos iniciais destas iniciativas foram claríssimos e os agricultores da ilha das Flores conseguiram colocar, pela primeira vez, os seus produtos em Lisboa sem intermediários, a preços bastante remuneradores. Não foi fácil, porém, o caminho que conduziu ao estabelecimento das cooperativas, cuja progressão e sucesso, ao bulir com os interesses de alguns comerciantes e políticos locais, suscitou, da parte destes, violenta e impiedosa reação. Na ilha das Flores proibiram-se, então, reuniões aos cooperativistas, mandou-se a tropa fiscalizar outras, fizeram-se ameaças e esperas em caminhos mal frequentados, recusaram-se arrendamentos de terras aos associados e renunciaram-se outros contratos, chegando as autoridades locais a proibirem a exportação para Lisboa da manteiga das cooperativas, as quais chegaram a ter em armazém grandes quantidades de manteiga, correndo o risco de se estragar, dado na altura ainda não existirem câmaras de frio.

Mas o grande ataque às cooperativas florentinas e que haveria de provocar a sua morte foi obra da firma Martins e Rebelo. Ao instalar-se na ilha das Flores, começou a pagar o leite a um preço ligeiramente superior ao das cooperativas. Os sócios, assim ludibriados foram abandonando as cooperativas e estas ruíram até à sua destruição total.


Carlos Fagundes

Este artigo foi (originalmente) publicado no «Pico da Vigia».

Sem comentários: