domingo, 7 de fevereiro de 2016

Darwin não encontrou frangos-d’água

Se Charles Darwin tivesse chegado 500 anos antes aos Açores talvez pudesse ter usado os parentes dos frangos-d'água açorianos para alimentar a sua teoria da evolução e de adaptação aos ambientes onde viviam.

Em Setembro de 1836, após mais de quatro anos a viajar pelo mundo a bordo do navio Beagle e quando se preparavam para voltar ao Reino Unido, o naturalista britânico Charles Darwin visitou o arquipélago dos Açores. No seu diário descreveu estorninhos, alvéolas, tentilhões e melros, mas nas ilhas existiam também restos de outras aves que as tinham habitado vários séculos antes da visita de Darwin. Um estudo agora publicado na revista científica «Zootaxa» destaca a descoberta de cinco espécies de aves extintas – parentes do frango-d’água atualmente existente em Portugal -, duas na Madeira e três nos Açores.

A exploração paleontológica conduzida por investigadores espanhóis, alemães e portugueses permitiu “descobrir estas espécies de aves desaparecidas provavelmente após a chegada dos seres humanos e dos animais que os acompanhavam, como ratos, ratazanas e gatos“, disse Josep Alcover, co-autor do estudo e investigador do Instituto Mediterrâneo de Estudos Avançados.

De acordo com as datações dos ossos, ou pela datação das espécies que apareciam associadas, essas cinco espécies extintas viveram até há bem pouco tempo, especialmente as espécies dos Açores. “Pelo menos uma das espécies sobreviveu até o século XV, por isso temos um processo muito recente de extinções”, enfatizou o investigador.

Os restos de esqueletos de aves endémicas que foram agora descobertos mostram que, “se Darwin tivesse sido capaz de estudar os fósseis escondidos nestas ilhas ou se tivesse visitado as ilhas 500 anos antes, tinha encontrado uma fauna cheia de aves endémicas, como a que encontrou nas Galápagos”, disse Josep Alcover.

Estima-se que no Pacífico viveram cerca de dois ou três mil espécies destes frangos-d’água insulares. Mas apenas sobreviveram nas ilhas mais remotas do Atlântico. No Caribe, Bermudas e nas ilhas da Ascensão e Santa Helena já só foram encontradas espécies extintas.

Os restos fósseis que agora foram encontrados nos arquipélagos da Madeira e dos Açores refletem uma parte da diversidade destas ilhas e que só agora se começa a conhecer. Às cinco espécies descritas neste trabalho juntam-se outras, como duas espécies endémicas de coruja. “São apenas a ponta do iceberg do que está por descobrir sobre a fauna ornitológica original destas ilhas”, admitem os autores.

“A existência de corujas e frangos-d’água no passado aponta para a magnitude da devastação sofrida pelas aves nas ilhas do Atlântico após a chegada dos seres humanos e dos animais que os acompanhavam”, concluem os cientistas.


Notícia: jornal online «Observador», «Público» e «Diário Insular».
Saudações florentinas!!

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