sábado, 9 de julho de 2016

Flores: a ilha mais francesa dos Açores

Há mais de 20 anos, Santa Cruz das Flores bem podia dizer que era o concelho mais francês dos Açores, devido à presença de uma Estação de Telemedidas que imprimiu grande desenvolvimento à ilha das Flores, onde chegou a existir um hospital.

“Os franceses investiram muito na saúde. Tínhamos um hospital devidamente equipado, com dentista, bloco operatório, análises clínicas”, recorda o atual presidente da Câmara Municipal de Santa Cruz das Flores, acrescentando José Carlos Mendes que “à conta da Base francesa foram realizados muitos investimentos na rede viária e elétrica da ilha das Flores e até foi construída uma barragem”.

Durante mais de duas décadas, os franceses mantiveram em funcionamento na ilha das Flores uma Estação de Telemedidas, conhecida como Base francesa, infraestruturara militar destinada ao rastreio de mísseis balísticos, que acabaria por ser desmantelada em 1993.

Ainda hoje, a população local, entre ela antigos trabalhadores da Base, “fala muito na estadia dos franceses” na ilha das Flores.

“Foi um ‘boom’ de desenvolvimento muito significativo. Chegávamos a ter mensalmente ligações aéreas diretas da França com a ilha das Flores, um avião que abastecia a Base. Eram produtos que não existiam cá”, relata o autarca de Santa Cruz, lembrando que cerca de 40 portugueses, desde empregadas domésticas, jardineiros, mecânicos ou eletricistas trabalhavam para os franceses.

Na altura, José Carlos Mendes era bancário e atendia “muitos clientes franceses”. Nas Flores chegaram a residir 300 franceses, numa ilha onde a população era pouco mais de 5 mil pessoas. “A população francesa tinha bom poder de compra. Em termos económicos perdeu-se muito com a saída da Base”, frisa o autarca.

Dos franceses recorda serem pessoas que “se relacionavam muito no dia-a-dia” com a população local, uma comunidade “muito dinâmica” que promovia festas de gala na Messe (o atual hotel) “com pompa e circunstância” ou ainda “soirées culturais e concertos”.

Rogério Medina é o atual gerente do Hotel Servi-Flor, edifício arrendado ao Ministério da Defesa instalado numa zona que ostenta ainda o nome "Bairro dos franceses". Durante 28 anos trabalhou como empregado de bar e restaurante na atual unidade hoteleira, onde funcionou a Messe dos franceses, uma “unidade hoteleira que servia para dar apoio aos militares e famílias”.

Para Rogério Medina, “a saída dos franceses foi um terramoto”, considerando que, no caso da prestação de cuidados de saúde, “voltou tudo ao princípio. Chegaram a ser feitos partos na ilha das Flores por médicos franceses, mas atualmente tal não é possível e até para resolver uma fratura no braço é preciso ir para o Faial”, salienta.

O responsável hoteleiro destaca que a ilha das Flores teve, então, investimentos “muito mais cedo que outras ilhas”, como a pista do aeroporto, que foi construída por causa da presença dos franceses.

Mas de França vinham também “muitas novidades”, nomeadamente na área da gastronomia e dos produtos alimentares. “Comecei a conhecer iogurtes aos 14 anos e só muito mais tarde é que chegaram ao comércio”, conta o empresário do ramo hoteleiro, acrescentando que “até fruta, saladas ou as aves muito utilizadas” pelos franceses nas ementas da Messe eram importadas.

Passados mais de 20 anos da desativação da Base francesa, ainda hoje é recordada com saudade a presença dos militares e famílias francesas, assim como o desenvolvimento que a ilha das Flores conheceu através deles.


Notícia: «Açoriano Oriental» e jornal «Incentivo».
Saudações florentinas!!

5 comentários:

Anónimo disse...

Recordo-me das excelentes sanduiches de queijo camembert e das entradas de escargot regadas com Moet et Chandon.

Anónimo disse...

Afinal quem foi contratado para condutor do lar de idosos o ze do peixe ouou o moço do josé da calma.hoje na fajå pareceu me ser o ze do peixe.será que o monsehor rubecas ainda se lembra!

Anónimo disse...

O sr presidente aumentou um pouco o número de franceses que estavam na base. 300 é um pouco exagerado sr presidente. é seu hábitos dizer sempre uma men71r1nha
ou entao vinha do corvo e achou que aquilo era muita mas mesmo muita gente

Anónimo disse...

A ideia que tenho é que se tratavam, em média,de 25 famílias que raramente eram numerosas.Os casais novos traziam habitualmente filhos pequenos, para os quais tinham resposta a nível escolar, também era frequente ser apenas o casal.
Os que vinham só,em regra viviam no Hotel.

Skipping Borders disse...

Boa tarde a todos.
Estou a fazer uma pesquisa sobre este período histórico e gostaria entrar em contacto com pessoas que gostariam de partilhar a sua experiência/conhecimentos sobre este tema.

Obrigada,
Mariana