E agora?
Assinalado o 34º aniversário do 25 de Abril, a questão de fundo que se nos coloca está sintetizada na interrogação que em 2008 mais interpela os portugueses – «foi para “isto” que se fez a Revolução?!». Importa, pois, perceber o significado «disto».
Há 34 anos, os três “dês” do MFA - descolonização, democracia e desenvolvimento - estavam perfeitamente identificados como o caminho para a utopia, que o povo logo aclamou e foi comungar em júbilo.
Hoje, a geração do 25 de Abril - começando pelos seus “heróis” e acabando nos partidos que emergiram em 74 - está triste, desanimada e entorpecida. Muitas figuras com notoriedade, da Esquerda à Direita, não se coibiram mesmo de o manifestar, num rasgo de lúcida percepção relativamente ao sentimento instalado. Perante o cenário, a geração do pós-25 de Abril oscila entre a indiferença, uma ideia da esperança nostálgica de tempos que não viveu, ou reticência num empenho cívico determinado, tal é a falta de apelo mobilizador.
A descolonização, que tinha de ser feita, parece que foi “a possível”. Hoje, queremos voltar a reforçar os “laços com os PALOP´s”. Há-de estar ao nosso alcance... O desenvolvimento, que tinha de ser incrementado, acabou por chegar com “a Europa”, para onde nos virámos. Embora alguns continuem a clamar pela prorrogação de critérios de discriminação positiva, para prevenir, já nos vai sendo dito que com o alargamento a Leste e uma vez já criadas as infra-estruturas - leia-se, “injectados milhões em Portugal durante mais de 20 anos” - temos que nos saber afirmar como um “país competitivo”. Há-de estar ao nosso alcance, também...
E a Democracia? Na essência do regime, o caso é mais bicudo.
A Liberdade está perigosamente condicionada pelos escrúpulos de poderes económicos difusos. A credibilidade dos órgãos do Estado é cada vez mais teatral. A legalidade é ultrapassada pela percepção de impunidade. A autoridade encolhe-se perante um nivelamento da comunidade feito “por baixo”. O fosso entre ricos e pobres nunca atingiu tamanhas proporções. E os partidos, esgotados, descambaram para novelas de definhamento que pouco mais inspiram que o espectáculo da desconfiança.
Em traços largos, quando se fala «disto», é isto.
E Agora?
Agora, impõe-se-nos a opção. Entre nos resignarmos e deixarmos “correr tudo como está”, ou nos “atravessamos”, individual e colectivamente. Para que o Portugal a legar não seja pior que o herdado, por tremenda que tenha sido a herança. Está na altura da geração do 25 de Abril saber passar o testemunho. Porque a Liberdade, a Democracia e os valores da República não têm preço, nem donos e precisam de restauro, sob pena de se desmoronarem a curto prazo. Não no meio de desnorte, entre a crise económica e a vacuidade dos programas, mas sim entre elevação de novos desígnios e um proveitoso confronto de projectos que, para o ser, de facto, não basta que o pareça - precisa de densidade e clareza diferenciadoras, merecendo novas apostas dos portugueses, entusiasmados de novo. Será isto.
Ricardo Alves Gomes