segunda-feira, 30 de novembro de 2009

«Preto no Branco» #39

«Faces Ocultas; as de lá e as de cá»
A gente sabe mas ninguém entende


É o tema nacional da actualidade.
A cada passo, um episódio do Processo Face Oculta, novelo com mais pontas que meadas e que enriça Portugal de fio a pavio. Em cada canto está uma aranha e outras tantas teias - a somar à ingovernabilidade iminente e à mais profunda crise sócio-económica das últimas décadas, esta sucata, só(!) a ponta do icebergue, no dizer de vários, vem confirmar o que há muito antevíamos - caminhamos para a ruptura.

Nos Açores, e nas Flores, em particular, enquanto «por lá» o Face Oculta vai enchendo jornais, telejornais e despoletando múltiplos debates, «por cá» vive-se como se a coisa nos fosse alheia, caindo-se, amiúde, na tentação fácil de adjectivar o que se passa «em Lisboa», como se a Capital fosse uma cova de ladrões e a mais recôndita das ilhas [fosse] um atol alheio aos esquemas da perversão do Sistema. Como se a clamada urgência popular na limpeza que se impõe «por lá», fosse uma necessidade estranha à realidade «de cá». Não é. O que acontece é que é muito mais fácil abrir a boca sobre os escândalos que ninguém toma por seus, ou dos seus vizinhos, no lugar de levantar o dedo sobre o que vê, todos os dias, mesmo debaixo do nariz.

Não há, pois, destrinça possível ente o «lá» e o «cá». As únicas diferenças, a existirem, estão na escala; se «lá» é um Rolex, «cá» há-de ser um Sharp; se «lá» é uma nomeação para chorudo lugar em empresa do sector público estatal, «cá» há-de ser para o sector público regional ou municipal; se «lá» são mil patacos, «cá» hão-de ser dez... e por aí fora. O que faz o «lá» é o somatório de todos os «cá», seja nas Flores ou em Freixo de Espada à Cinta, na Horta ou na Nazaré, em Angra ou em Vila Real de Santo António, em Ponta Delgada ou na Figueira da Foz... e por aí fora, até Lisboa.

Dito isto, importava esclarecer, entre várias outras, certas «coisas de cá», tais como:

  • Por que é que um Município das Flores com pouco mais de mil habitantes emprega, directa e precariamente, cerca de 150 trabalhadores? A gente sabe, mas ninguém entende;
  • Por que é que, regra geral, os funcionários públicos dos serviços regionais tendem a integrar ou acabam por apoiar listas partidárias afectas à cor do partido do Governo Regional, ao passo que [os funcionários] das autarquias locais optam pela cor do partido instalado na Edilidade? A gente sabe, mas ninguém entende;
  • Por que é que por cada Secretaria Regional existe uma Delegação local que, na maioria dos casos, não serve para nada? A gente sabe, mas ninguém entende;
  • Por que é que com tantos instrumentos de urbanismo e ordenamento do território, a ilha [das Flores] apresenta casos de construção nova, muitas vezes promovida por entidades públicas, que são uma vergonha? A gente sabe, mas ninguém percebe;
  • Por que é que o Serviço Regional de Saúde, nas Flores, é uma autêntica agência de viagens? A gente sabe, mas ninguém entende;
  • Por que é que há tanta escassez de mão-de-obra na ilha e a Segurança Social local está a rebentar pelas costuras? A gente sabe, mas ninguém entende;
  • Por que é que nunca tendo havido tantas instituições de solidariedade social, programas públicos de previdência e recursos afectos, aumentam os casos de carência gritante? A gente sabe, mas ninguém entende;
  • Por que é que existem múltiplas forças de segurança na ilha, cada uma com a sua esquadra ou posto, meios e efectivos? A gente sabe, mas ninguém entende;
  • Por que é que há habitantes na ilha que já temem pela sua segurança e haveres? A gente sabe, mas ninguém entende;
  • Por que é que a Fábrica dos Lacticínios não é auto-suficiente? A gente sabe, mas ninguém entende;
  • Por que é que aos variados subsídios de apoio à lavoura e às pescas, não correspondem efectivas melhorias na qualidade dos sectores? A gente sabe, mas ninguém entende;
  • Por que é que não nos fiamos nas declarações ao Fisco daqueles que não são trabalhadores por conta de outrem? A gente sabe, mas ninguém entende...
Enfim... a lista dos porquês já vai longa... e nem chegamos aos negócios da sucata... melhor seria que a nossa comunidade fosse capaz de ver as traves nos «olhos de cá». É demasiado fácil ver os grãos de areia nos olhos dos «de lá».

Preto no Branco,
Ricardo Alves Gomes

27 comentários:

Anónimo disse...

li hoje um comentario em que josé socrates apela á exportação e apesar não ser dopartido dele estou de acordo com a ideia dele mas é preciso trabalhar para que se tenha alguma coisa para se exportar e trabalho não falta. falta sim é vontade de trabalhar.

MILHAFRE disse...

Não podia estar mais de acordo com o insigne articulista.

De facto a sociedade portuguesa (desde Lisboa capital até ao mais ignoto concelho) está transformada numa grande «face oculta».

Corrupção, ganância, esbanjamento dos recursos e trapaças de vária ordem, têm sido as "traves mestras" da nossa decadência.

Infelizmente, a maioria das pessoas assobia para o lado, pois só pensam no seu umbigo e ainda não compreenderam que o futuro dos seus filhos e netos vai ser muito pior do que o presente que agora usufruem.

Já no ano 55 a.c., Marcus Tullius sentenciava:

«O Orçamento Nacional deve ser equilibrado.As Dívidas Públicas devem ser reduzidas, a arrogância das autoridades deve ser moderada e controlada.Os pagamentos (impostos) aos governos devem ser reduzidos, se a Nação não quiser ir à falência.As pessoas devem novamente aprender a trabalhar, em vez de viver por conta pública».

Qualquer semelhança com a nossa realidade não é pura coincidência.

Jacob disse...

Senhor Ricardo,
como eu o entendo.não vale a pena sonhar com uma nova realidade que jamais existirá.Isto(corrupção e seus derivados) está "entranhado" no sangue da maioria dos nossos governantes como o ar que se respira.Estamos muito longe de ver uma luz ao fundo do tunel...

MILHAFRE disse...

O José Socrates vai exportar robalos para a Venezuela.

Qualquer dia só temos sucata para exportar.

Já há ilhas que mandam vir de fora pés-de-salsa.

Há muitos "empregos", mas são muito poucos os que trabalham e produzem...

Tá bonito, sim senhor.

CAM disse...

Ricardo boa faladura!
proibam a entrada de artigos alimentares e outros nos açores e em portugal continental e há um indice de mortalidade maior que o terramoto de 1755.
Ninguem trabalha, como tal nada sobra,se nada sobra não há mais valias, logo falência é evidente.
Com este regime Socratériano corrupto nem o Sr espirito Santo nos vai salvar.
estamos geridos por politicos mediocres, que julgo não haver recordação de tal.
Administram para eles e seus amigos compadres e caciques.
Mãe Pátria para este cavalheiros sem escruplos não existe.
Ricardo gostava de falar disto e outras barbaridades deste criminosos de lesa Pátria.
Um abraço ao joia

Anónimo disse...

Acho que toda essa situação tem como origem numa fraca cultura democrática, num inexistente sentido de comunidade, onde cada um "puxa a braza à sua sardinha". Todos concordamos que a situação é insustentável, mas nas eleições, os números são bem claros. Se por um lado temos uma alta abstenção, por outro, temos um modelo de rotatividade entre dois partidos que já se habituaram a partilhar o poder, embora em público assim não o pareça.
Não devemos apoiar um partido como se fosse um clube de futebol, já que as consequências não são as mesmas. A ser fieis, que sejamos á nossa comunidade e País.
Devemos indignar com todas as situações descritas pelo Ricardo, é nosso direito e, principalmente, dever.
Temos de nos lembrar que um povo pobre e com fraca literacia, é um povo fácilmente corrumptìvel, manipulado, comprado por quem tem o poder, os restantes, que tem consciência, ou pelo menos noçâo, sujeitam-se à ditadura da maioria, á violaçâo da republica, ao desabar de tudo o que o 25 de Abril prometeu ás geraçôes vindouras.
Mas isso todos nós sabemos, a crítica já não basta, acção impõe-se.

Salazar disse...

Este mundo das faces ocultas é um mundo que diz muito ao autor do texto, muitas vezes para sermos notados e dar-mos um ar de serios temos que nos fingir do lado de lá.
Quando fala-mos em corrupção, compadrio, toda a gente sabe mas ninguem o entende.

Anónimo disse...

Agente sabe que temos um povo maladro, interesseiro, mamão, que não produz metade do que ganha, que não tem brio profissinal e que que quer que lhe ponham a papa na boca.

Agente sabe que não somos ricos. Não temos petróleo, nem ferro, nem ouro, nem outros minerais valiosos. Sabemos também que os nossos terrenos são pobres e que temos muito pouca vontade de produzir. O governo que dê.

Agente sabe todos a raça inculta que grassa por aí, educada na perspectiva da irresponsabilidade e na dependencia do governo. Votamos em quem nos dá mais.

Agente sabe que com esta massa bruta e boçal de gente, não há governo que faça milagres.

Agente sabe que não existem ideias nem há capacidade para criar riqueza. Vivemos numa terra onde não há brio naquilo que se faz.

Estou à disposição do fulano da cana roca, uma das inteligências que comentam neste blog, para provar tudo o que disse.

J. A. disse...

E a pedreira da fajã grande? O dr. Ricardo não é contra esse mamarracho no meio daquela natureza? Parece-me ser um caso ainda mais gritaante que o da ribeira da cruz.

Anónimo disse...

eu sou das lajes e acho muito pior a pedreira da ribeira grande aberta num lugar de uma linda natureza.

Anónimo disse...

A pessoa que o Ricardo é ou o Salazar pensa que é nao invalida em nada a mensagem. Por favor, não seja mediocre e mesquinho. Apontar o dedo é fácil, difícil é dar o exemplo.
Tal como o Paulo Rosa disse:
" as pessoas respeitam-se, as ideias discutem-se".

Anónimo disse...

muito aqui se fala mas não muda nada o ritimo de vida trabalha quem quer e pode e não vale a pena estar a criticar os outros se querem melhor que façam eu ca por mim não tenho nada a dizer contra ninguem não trabalho nem tenho inveja dos que trabalham se podem comer cherne que comam eu continu-o a comer carapau e haja saúde

INSURGENTE disse...

Mais um excelente artigo.
Pena é que não tenha mais visibilidade na sociedade Florentina,nomeadamente na imprensa da ilha,ou até nos Boletins Municipais que se limitam apenas ao auto-elogio, sem darem possibilidade aos munícipes de se expressarem.

Anónimo disse...

mas deverias trabalhar que o trabalho é o sabão do corpo era assim que meu pai me dizia á 60 anos e se eu não trabalhar não como e ninguem me dá nada agora o que escreve em cima deve andar ainda na escola por isso nao trabalha ainda.

Anónimo disse...

Este país nunca vai mudar à conta de governos, muito menos de partidos.
Este país só muda com o contributo de cada um.
Enquanto isto não entrar, não chegamos lá.

Fernando Régio disse...

Venho aqui me apresentar. Sou o anónimo das 21h de 30 de novembro e das 12h 45 de 1 de Dezembro

MILHAFRE disse...

O anónimo das 16:29 revela uma mentalidadezinha tão pequenina e tão salazarenta.

Prefere comer «charros escalados na brasa» enquanto os chicos-espertos que chupam o trabalho e os impostos das pessoas que ainda trabalham e produzem, vão comendo cherne e bife do lombo, besuntam-se em iguarias e encharcam-se com vinhos finos.

Já dizia o meu avó: anda meio mundo a enganar outro meio.

Actualmente é uma pequena minoria parasitária a chular uma grande maioria.

E não me venham com eleições; e votos do povo; e outras tretas que justificam e desculpabilizam as roubalheiras.

MILHAFRE disse...

No mesmo dia que se comemora a restauração da independência nacional, "este" país endividou-se em mais 42.000.000,00 euros.

Em 30.000,00 no minuto que eu levei a fazer este comentário.

Comemorar a independência nacional?

Deixa-me rir... como canta o Jorge Palma.

Anónimo disse...

Porque é que a Policia Judiciária andou tanto tempo atrás dos muros de suporte que a emppresa C e S, Lda facturou à Camara das lajes, à conta da construção da Estrada entre a lagoa da Lomba e a Estrada da Pedrinha?
A gente sabe, mas até entende.

Anónimo disse...

será que aquela obra que estão a fazer na doca lajes é a piscina que o jl mandou fazer. alguem me confirma.

Anónimo disse...

Em 1º lugar: Agente é da policia!

Em 2º lugar: Pardal e FDM são sinonimos!

Em 3º lugar: Falam as más linguas (ou boas) que o "articulista" como lhe chamaram já frequentou o "sistema" mas agora que foi excluido...

Anónimo disse...

Isso já toda a gente sabe! Mas ninguém entende...

Anónimo disse...

è mesmo, e o articulista mora la prós lados do Boqueirão, he he hehehe

Anónimo disse...

É obvio que frequentou o sistema.
É claro que quer voltar a frequentar.

MILHAFRE disse...

Oh Anónimo das 13,43:

E se eu fôr o Pereira, o padre vigário ou o raio que te parta?

O que é que tens a ver com isso?

Por que é que o FDM deve ser eu e não você?

O que tu não gostas é que te aqueçam as orelhas, pois pelo teu manear deves ser um daqueles mamões que o FDM tanto denunciava aqui!

Anónimo disse...

Aqui um colega anónimo disse que o trabalho era o sabão do corpo,nunca ouviu dizer que o descanso é o sabonete?olhe que o dos carapaus tem razão,e acrescento que este mundo não é nosso,a ganãncia e o dinheiro não aguenta a vida,gozemos enquanto podemos que depois de morrer-mos somos defuntos.

Anónimo disse...

Hardlink disse:
O colega acima que fala em defuntos, inspirou-me a seguinte quadra:

Quem morre vai de pés juntos,
Como se estivesse em bicha;
Igual aos outros defuntos,
Parte e nunca mais cochicha

DCA