sexta-feira, 29 de julho de 2011

«Brumas e Escarpas» #25

O cilindro

Quando os empreiteiros que construíram o troço de estrada entre o Porto e a Ribeira Grande chegaram à Fajã, trouxeram apenas o material de apoio que a ilha não dispunha. O restante foi construído e fabricado por eles próprios, já depois de ali se terem fixado e iniciado as obras.

Foi o caso dos cilindros. Rasgado e alisado o trajecto por onde a estrada passaria era necessário colocar entre este e a camada de bagacina, uma outra de cascalho, obtido através de pedras partidas em pequenos pedaços. O cascalho, porém necessitava de ser bem prensado e comprimido sobre o terreno, a fim de que ficasse de tal maneira consolidado que a futura estrada não se desfizesse. Para tal eram necessários cilindros grandes, fortes e pesados.

O primeiro cilindro, de pedra e cimento, que foi  construído, ali junto ao Matadouro, entre a Via d’ Água e o Porto, era enorme e pesadíssimo. O ideal para acalcar todo aquele cascalho que atapetava todo o primeiro troço da estrada, desde a casa do Serpa até ao Cais. Só que o seu tamanho exagerado e o seu peso desmesurado, em vez de atingirem o desiderato para que havia sido construído, criaram um gravíssimo problema: é que o cilindro de tão pesado que era, nunca permitiu às limitadas forças motoras existentes na freguesia – uma camioneta e meia dúzia de juntas de bois atreladas umas atrás das outras – conseguissem movê-lo, um centímetro que fosse, do próprio lugar onde tinha sido construído. Perante tal e inultrapassável imbróglio, foi arquitectado e construído um novo cilindro, mais pequeno e mais leve, enquanto aquele mamarracho ficou anos e anos ali parado, com a interessantíssima vantagem de apenas ter dado nome àquele local, que passou a chamar-se “O Cilindro”.

Há alguns dias telefonei a um amigo de infância e perguntei-lhe se o cilindro ainda lá estava? Que não, que lhe tinham espetado umas velas de dinamite, desfazendo-o por completo, atirando, de seguida, os seus cacos para o mar, mesmo ali perto, na Baía d’ Água! Estarreci de espanto e perguntei a mim próprio: - “Então não era de se guardar e conservar aquela relíquia e, talvez um dia quando se construísse ali uma rotunda, dado o local ficar num cruzamento de três caminhos (Porto, Furnas e centro da freguesia), se colocasse o dito cujo no meio da mesma a dar-lhe, para a posteridade, o nome de «Rotunda do Cilindro»?

Responda quem souber. Mas em minha opinião, o cilindro não merecia tão vil, abominável e energúmeno destino.


Carlos Fagundes

Este artigo foi (originalmente) publicado no «Pico da Vigia».

2 comentários:

Anónimo disse...

Fizeram uma esmola.
Nas rotundas, a enfeitar, devem por-se obras de arte.

Anónimo disse...

Desde o 25 de abril até este dia , todas as forças políticas fizeram um grande esforço para destruir todo o legado que os nossos antepassados ergueram com muito suor.Não o destruiram ,passaram-nos o seu testemunho.Eles foram caminhos de calçada romana,eles foram chafarizes....a casa mais emblemática de todos os Açores "a casa de meu pai" que o nosso Pedro tão bem descreveu e foi ,por um autarca mandada arrasar para fazer um estacionamento para a camioneta da carreira...."cudavas" que estas mentes tão evoluídas se iriam preocupar com um mísero cilindro ???de certeza que não os conheces bem.....nicolau florentino