sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

Florentino construtor de violas e sonhos

José Agostinho Serpa vive ao abrigo da natureza intocada da Costa do Lajedo, um local perdido no sul da ilha das Flores, onde pratica agricultura biológica, consome 90% do que produz, e se dedica à paixão de construir violas da terra, escrever sobre a ilha e compor. «Aqui vivo em paz e em meditação. Adoro o mar, a natureza e os sons do silêncio».

A Costa do Lajedo, na costa sul da ilha das Flores, é um daqueles lugares que facilmente confundimos com o paraíso. As arribas recortam, entre fios ou mantas de nevoeiro, um vale muito verde e idílico em frente ao mar, ora manso ora turbulento dos Açores.

Foi na Costa do Lajedo que nasceu e viveu até aos 18 anos o tocador e construtor de violas da terra, José Agostinho Serpa. Depois de 27 anos a viver na ilha Terceira, decidiu regressar, para viver da natureza, do que consome (é vegetariano) e da música.

«O meu avô era dono da mercearia Serpa, ali mais acima. Foi lá que nasci. Ele tocava violino. O meu pai tocava bandolim. Ele próprio construiu o instrumento». Cedo, José Serpa começou a escutar a música tradicional que se fazia na Costa do Lajedo. «Todos os fins-de-semana havia bailes nas casas dos senhores mais prestáveis, bailes à luz da vela ou de candeeiro alimentado a azeite de baleia».

Os bailes desapareceram no tempo mas a paixão de José Serpa pela música permaneceu. «Pedi uma viola eléctrica emprestada e fiz uma na oficina do meu avô». Começou a aprender sozinho porque mais ninguém tocava nessa altura na Costa do Lajedo. «Não havia estrada. Ia a pé pela montanha acima e depois procurava apanhar a carreira para Santa Cruz. Na escola, era pior. O nosso transporte para lá era na camioneta de carga que transportava as vacas para o porto. Eramos trinta e tal desta parte da ilha que íamos assim, estudar para Santa Cruz. Eu enjoava com a fumaceira debaixo da lona».

Saiu da ilha das Flores para frequentar a Escola Militar em Lisboa. «Foi um choque enorme. Imagine o que é sair daqui para Lisboa... Tive a felicidade de ter como superior na escola Manuel Faria, dos Trovante. O Manuel Faria ensinou-me muito na guitarra clássica. O Luís Represas passava por lá ao fim-de-semana e tocávamos juntos». Como José Serpa não tinha instrumento, Manuel Faria combinou com outros amigos comprarem-lhe uma viola. «Eu tinha trazido a harmónica das ilhas e para o final tocávamos nos salões privados do Casino do Estoril».

Mais tarde, chegou a viver em São Miguel. «Fazia placards publicitários. Até que um dia o avião que seguia das Flores para São Miguel avariou e tive de ficar na Terceira. Em Angra do Heroísmo encontrei um primo afastado que me convidou a ficar lá a trabalhar como técnico de electrónica e electrodomésticos. Fiquei 27 anos...»

Na Terceira, além de reparar aparelhos, foi técnico de som. «Foi como técnico de som que conheci muitos músicos do Continente, desde o Paulo de Carvalho aos Heróis do Mar». Foi lá também que conheceu a família Lobão, uma família de construtores de violas. «Acabei por decidir construir o meu primeiro instrumento, um violão de 12 cordas. Depois, construí várias violas».

A partir de determinada altura, José Serpa decidiu inovar: «Para o Dia dos Namorados decidi construir um instrumento com a forma de dois corações e com um som semelhante à mistura do cavaquinho e do bandolim». Mais tarde, fez uma viola com formato de peixe e outra em forma de S, o S de Serpa. Das suas criações, expostas na internet na sua página pessoal, a preferida é a «violira», um misto de viola e lira.

José Agostinho Serpa, que já compôs e editou em CD cerca de 50 composições, mudou-se de armas e bagagens há cerca de dois anos para o lugar onde nasceu. Continua a trabalhar em reparações de electrodomésticos mas dedica cada vez mais tempo à construção de violas da terra. No Verão, a altura do ano em que a ilha das Flores é mais visitada, Serpa toca num trio «Os Amigos da Música» animando grupos turísticos no Hotel do INaTeL e na aldeia turística da Cuada, perto da Fajã Grande e do paradisíaco Poço da Lagoinha.

«A viola da terra já esteve praticamente votada ao abandono na ilha das Flores. Hoje existem aí dois ou três tocadores», explica Serpa, que ainda escreve para o jornal local «O Monchique».

Desde há cerca de dois anos que vive na casa que construiu juntamente com a esposa Luísa, artesã, num recanto mágico da Costa do Lajedo. «Regressei à ilha das Flores para a meditação, para a paz. Este lugar tem muito mais energia. Produzimos aqui 90% da nossa alimentação, vegetariana e fruto da agricultura biológica».


Crónica do jornalista Nuno Ferreira no portal «Café Portugal».
Saudações florentinas!!

8 comentários:

Anónimo disse...

Um dia ainda vou agradecer pessoalmente ao sr. Agostinho Serpa. Pois, foi através de seus videos que passei a ver e ouvir as coisas interessantes e lindas aí das Flores. Um dia vamos comer um churrasquinho juntos, né? Mas churrasco de carne de garrote novo, nada de nabo com alface! rsrs Obrigado

Anónimo disse...

Esse senhor que se diz vegetariano , porque é que tem videos no youtube a pescar e a matar peixe se não é para comer. simplesmente com o prazer de matar.No entanto penso que ele gosta de umas boas couves com porco, uns torresmos de vinha de alhos de uma linguiça etc etc.
Fica giro e é moda ser-se vegetariano mas só da boca para fora.
Um conterrãneo

Anónimo disse...

Porqúe será que o pessoal do concelho das lajes é mais inteligente que o do Concelho de Santa Cruz.
Será que nascem virados ao Sul.
Será que são muito trabalhadortes desda a nascença
Será que apanham aqueles ares vindos da América do Norte.
Ou será que são mesmo inteligentes de Natureza.
E´ que vejo neste Concelho das Lajes das Flores Médicos. Advogados.
Grandes Escritores.
Etc.etc.etc.

Anónimo disse...

muito admiro o jose serpa tocou guitarra com os melhores musicos portugueses e veio parar a ilha para tocar com o jose freitas e fazer a sua casinha a custa da semi estrada para a agua quente-costa do lajedo, amor a sua terra vale tudo..........parabens zé.

Anónimo disse...

acabou a tocar com o José de Freitas sim senhor! Um grande musico! não menos que os outros! até se calhar muito superior!Duvido que algum dos outros consiga fazer a propria guitarra e toca-la tão bem como o Freitas

Anónimo disse...

Muito bem dito anónimo das 23.51, o José é um grande musico e com vontade da sua Ilha andar para a frente que levou muitos anos esquecida por esta juventude . Parabéns José o Concelho das Lajes está contente por teres voltado.

José Agostinho Serpa disse...

Olá a todos, acho oportuno informar a um dos anónimos, que os vídeos presentes no YouTube são autênticos.

Há cerca de 20 anos que não como carnes vermelhas. De quando em vez comia carnes brancas e algum peixe (muito pouco).
Actualmente e há bastante tempo a esta parte, que não como NADA QUE MORRA.
Assim, e não ANÓNIMAMENTE, tenho e estou em paz comigo, com os animais e com a Mãe Natureza.
Quanto aos Animais que matei para comer e os que comi sem matar, já lhes pedi desculpa e aqui estou para pagar as devidas consequências.
Ao longo da vida procuro sempre aprender, descobrir, saber o que está mais perto do certo, da minha consciência e da consciência universal/cósmica.
Assim só me lembro de uma frase sábia de um grande Avatar/Mestre Siddhārtha Gautama (Buda)
O que somos é consequência do que pensamos…
…A paz vem de dentro de ti mesmo. Não a procures à tua volta.

Obrigado a todos

नमस्ते
josé

isabel seabra disse...

Bom dia

Em pesquisa de supermercados e lojas de produtos vegetarianos localizados na Ilha das Flores vim aqui parar ao seu blog. O motivo é que no próximo mês de Junho (2015) irei viajar para aí com um grupo de caminhadas e ficarei 7 dias a conhecer esse bocado de paraíso. Se não fosse muito atrevimento gostaria de perguntar-lhe se me poderia dar alguma indicação quanto a alternativas aí nessa zona onde eu possa fazer as minhas compras. Obrigada :)