«Preto no Branco» #37
Autárquicas 2009: Santa Cruz – «29/9 e 4/10, os dias em que a Comunidade bateu no fundo»
Dia 29 de Setembro,
o debate na RTP/Açores... ele está aí, disponível para (re)visionamento, através da internet. Pouco ou nada há a dizer. Foi «só» o espectáculo mais penoso e triste que o Município de Santa Cruz das Flores podia dar, ficando espelhada uma imagem paupérrima perante toda a Região... no meio da desgraça, o jovem João Paulo foi aquele que ainda conseguiu dar um ar da sua graça, merecendo nota para «ir a exame», quando os demais reprovaram à primeira.
Dia 4 de Outubro,
em vésperas das Regionais/08, houve um candidato que colocou as Flores nas bocas do País. Assumiu a conduta que costuma adoptar nas campanhas em que se empenha. O jornal «Expresso», em vídeo e em edição impressa, logo tratou de sintetizar a realidade encontrada nas Flores como, «A Ilha do homem que compra votos».
O Senhor em causa, está visto - politicamente inimputável - não deixa de ser simpático e bonacheirão no trato, pelo que não se compreende como é que o Povo da Vila tem tanto temor do homem. Pois, se a partir de 2010 e «rumo a 2012», até a Senhora Dra. Berta Cabral conta com os préstimos deste Florentino para integrar a Bancada Parlamentar do Partido na ALRA, como é que algum santacruzense pode temê-lo?
Do ponto de vista político, portanto, o «fenómeno» acaba por ser regional. As instâncias próprias lá terão os seus critérios...
Todavia, acima da política eleitoral estão outros valores, bastante mais elevados. Estão em causa bens colectivos intangíveis, absolutamente estruturantes.
Uma comunidade que assiste e permite, com total apatia, a inauguração de uma capela mortuária, cujo programa, dias antes, foi distribuído porta a porta, (com o timbre da Junta de Freguesia assinado pelo punho do seu mais directo representante), em que consta «descerramento de lápide», «bênção» e «discurso» seguido de «cocktail» no salão de festas da Sociedade Dr. Armas da Silveira... só pode ter batido no fundo!
Só pode ter perdido a noção dos princípios cívicos mais elementares.
Só pode ter perdido o mais básico sentido de Dignidade.
Só pode ter perdido os primeiros valores culturais com que se identifica.
Só pode estar amnésica relativamente a quem a serviu e honrou no passado.
Só pode estar indiferente relativamente a quem a representa no presente.
Só pode não esperar (nem faz por merecer) nada do futuro.
E que não se diga, esfarrapada e irresponsavelmente, que o assunto diz apenas respeito aos partidos ou à Igreja Católica. Não. Não diz!
O assunto só não diz respeito aos pagãos e, ainda assim, apenas àqueles cujas fontes culturais determinem rituais fúnebres em que tenham lugar manifestações de luto opostas às da civilização judaico-cristã.
O assunto diz respeito a todos!
Aos católicos, protestantes e membros de outras Igrejas, dentro do cristianismo. Aos crentes de outras religiões. Aos agnósticos e ateus. O assunto nem sequer tem a ver com o credo de cada um ou com a falta dele. O edifício tanto serve uns como outros. Mas entre todos existe um denominador comum – a morte, que não deve ser tabu, inspira o maior respeito e recato da comunidade em geral, ficando, depois, ao critério de cada família, amigos ou instituições, a opção pelas exéquias entendidas por mais adequadas.
Seja como for, parece-nos, no mínimo, ignominioso que: se inaugure uma capela mortuária; que a política partidária seja levada lá para dentro; que se faça do acto uma festa… e que, como se isso não bastasse, se ofereça um cocktail para assinalar a façanha!
Consumada a palhaçada, talvez nem valha a pena perguntar agora pela colectividade, associação ou agrupamento A, B, ou C... pois se nenhuma se manifestou...
Apenas uma nota, para finalizar.
Foi-nos dito, por fonte fidedigna, que este episódio, da Capela de Santa Cruz, acontece no seguimento do exemplo precedente, que veio das Lajes, onde, há tempos, terá ocorrido «cagaçal» semelhante...
Das Lajes, trataremos na próxima peça, Preto no Branco.
Ricardo Alves Gomes
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