«Miscelânea da Saudade» #11
Análises, recordações e Saudade
Desde que me lembro até há trinta anos atrás, sempre fui devoto do Senhor Santo Cristo dos Milagres e do Divino Espírito Santo. Aliás, ainda continuo a ser, com parte evaporada...
Cá, nas minhas muito próprias palavras e expressões, por esta altura do ano confesso que ainda sou um fervoroso das Festas do Senhor Santo Cristo. Penso que o meu maior sentimento é a saudade, respeito e, talvez, um traço de profanidade de me querer juntar à festa.
No decorrer de mais de três décadas, a minha fé e veemência calorosa dissipou quase por completo, sobrevivendo apenas o que está muito além do alcance da ciência. A existência dum ser infinito, determinado quiçá, pela obscuridade do meu subconsciente, que também me é desconhecido, mas penso existir algures. Poderia ajustar melhor a minha perplexidade, e atribuir tudo ao agnosticismo que envolve as minhas dúvidas a maioria das vezes. No entanto, afasto-me já, deixando (hope) para quando calhar concluir.
O Senhor Santo Cristo dos Milagres, muito próximo estará nos corações dos devotos do Seu culto que mais uma vez os visitará e, nem só na ilha de São Miguel, porque também temos réplicas do Senhor Santo Cristo por este Canadá todo. A Sua ‘santa imagem’ encontra-se distribuída por quase todas as comunidades da diáspora. Apesar de não ser crédulo, de uma candura extrema, também sou possuidor d’alguma ingenuidade, porque todos os anos por esta data, me dá saudade das Festas do Senhor Santo Cristo e as do Divino Espírito Santo.
Por haver falado nas Festas do Espírito Santo, padroeiro dos nossos Açores, Ele está já a dobrar a ‘esquina da rua’ para confirmar a fé dos seus devotos, alegrar corações e entrar em muitas casas, mesmo com festas pomposas, religiosas ou profanas. Era por esta altura do ano, quando eu percorria a ilha de São Miguel, ora a cantar pelas folias, ora na distribuição de pensões pelas portas, tendo por companheiro o já falecido e saudoso cantador: João Plácido, da Lombinha.
Desde a Pedreira do Nordeste a todas as Lombas da vila da Povoação, deixaram bem vincadas profundas recordações dentro de mim.
Em memória do meu falecido companheiro João Plácido, quero reavivar a alguns que ainda [devem] ser vivos, uma passagem que se deu em 1964, um ano antes de vir p’ró Canadá, pelas festas de São Pedro, no alto da Lomba do Cavaleiro. Estando eu e João Plácido dentro do autocarro, para uma cantoria na Lomba do Cavaleiro, pelas Festas de São Pedro, o condutor (ou alguém) se apercebeu de nós, e o autocarro parou; o condutor levanta-se e diz ao microfone: senhoras e senhores, temos dentro deste autocarro dois improvisadores que vêm cantar à Lomba do Cavaleiro: o sr. João Plácido, da Lombinha e o sr. Denis Correia, dos Arrifes. Pedirei por favor a cada um deles que improvise uma quadra à nossa linda Povoação:João Plácido: As terras da Povoação / É mesmo uma maravilha / Daqui é que sai o pão / P’rá maior parte da ilha.
Denis Correia: Uma Vila e sete Lombas / Para mim não são estranhas / Parecem ser sete pombas / A voar pelas montanhas.
Denis Correia Almeida
Hamilton, Ontário, Canadá
Este artigo foi (originalmente) publicado no «Diário dos Açores».
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