terça-feira, 2 de novembro de 2010

Portugueses no Faroeste: eram unhas-de-fome... mas com olho para o negócio

Este western faz-se com cowboys portugueses. Entre os que partiram para o Oeste dos EUA nos séculos XVIII e XIX houve mercadores de peles, políticos e o delator que ajudou a capturar Billy the Kid.

John Enos, um homem "alto, escuro e carrancudo", mais conhecido por "Portuguese Joe", era o bicho-papão nas terras áridas do Big Bend Country, na zona oriental de Washington, nos EUA. Quando as mães precisavam de assustar as crianças ameaçavam: "Se não te portares bem, vem aí o Portuguese Joe". Quase um século depois da sua morte, ainda se diz que John Enos odiava os índios e envenenou três com feijão estragado, enterrou os três no pasto, juntamente com dois vaqueiros, era ladrão de cavalos ou um assassino com 25 marcas no cano da pistola.

O nome real de John Enos era, na verdade, João Ignácio d'Oliveira. Nascido na ilha de São Jorge, nos Açores, destacou-se como um dos maiores criadores de gado da história do estado de Washington. No fim do século XIX, quase 22.500 portugueses viviam na zona nordeste dos EUA, 90% deles no Massachusetts e em Rhode Island. A grande maioria - 99% - dos imigrantes portugueses vinha das ilhas dos Açores e da Madeira, a ponto de a Califórnia ficar conhecida como "a décima ilha dos Açores". O trabalho nos baleeiros americanos era a principal porta de entrada, a corrida ao ouro o mais tentador. A aventura nos mares soava a promessa de mais cedo ou mais tarde pisar a América prometida.

Os historiadores americanos Donald Warrin e Geoffrey L. Gomes investigaram durante 15 anos a presença portuguesa no Oeste dos EUA. Depois de consultas dos censos da época e de entrevistas a descendentes de portugueses, conseguiram descrever no livro "Os Portugueses no Faroeste: Terra a Perder de Vista" quem era, de onde vinha e o que fazia esse grupo restrito de portugueses que escolheu emigrar para aquele território.

Quem eram? Houve heróis, dramaturgos, políticos, homens de negócios, mulheres responsáveis pela contabilidade dos negócios dos maridos e de charuto na boca, numa atitude vanguardista para a época. Houve quem se tornasse empresário de sucesso em ramos inverosímeis como a produção de "tamales" - especialidade nunca usada na gastronomia portuguesa -, o comércio de peles ou a exploração mineira. Outros, pastores de profissão, conseguiram, com salários que não iam além dos 25 dólares por mês, poupar o suficiente para investir em rebanhos que ultrapassaram as 30 mil cabeças.

Mais de 60% não sabiam assinar o próprio nome, mas isso não os impediu de fazer fortuna ou de ser bem-sucedidos. "Naturalmente poupados", quase todos arrecadavam dinheiro, ora para comprar uma fazenda, ora para montar um negócio. O açoriano Manuel Lewis (anteriormente Manuel Luiz), por exemplo, começou com um rebanho de 2 mil animais comprado a crédito e chegou a ter o rebanho mais numeroso a sul de Central Valley - 32 mil ovelhas. John Enos - que progrediu de marinheiro a rancheiro e negociante de propriedades - nunca aprendeu a ler nem a escrever; só no final da vida aprendeu a assinar o nome, mas diz-se que "ninguém era capaz de o ler a não ser ele mesmo".

Thomé Luiz de Freitas, açoriano da ilha das Flores, foi o primeiro dramaturgo do Idaho. Antonio Joseph, filho de português nascido em São Miguel, foi o primeiro luso-americano no Congresso: esteve dez anos como delegado do Novo México à Câmara dos Representantes dos EUA. E os Joe tornaram-se figuras omnipresentes nas fronteiras do Oeste: Joe era a alcunha mais utilizada entre os cidadãos lusos, devido a tantos dos seus nomes - José, João ou Joaquim - começarem por Jo.

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Os heróis e os vilões John "Portuguese" Phillips ficou na cabeça dos americanos como o homem que salvou da morte uma guarnição militar na fronteira do Wyoming. Nasceu na ilha do Pico, nos Açores, e não se sabe em que altura o seu nome passou de Manuel Filipe a John Phillips. Depois de 79 soldados e dois civis terem sido mortos numa batalha contra os índios, o português "seco e rijo, de pequena estatura" esgueirou-se do forte e percorreu a cavalo 320 quilómetros debaixo de um pesado nevão. John, que já tinha encontrado um amigo nu com 105 flechas cravadas no corpo, foi o primeiro a oferecer-se para levar uma mensagem ao comandante de Fort Laramie a pedir reforços. Em troca recebeu 300 dólares (o equivalente a 3 mil dólares hoje) e o rótulo de "herói da fronteira do Wyoming".

Já Manuel S. Brazil, natural de São Jorge, experimentou a fama de vilão por ter denunciado Billy the Kid, o mais famoso fora-da-lei de todo o Oeste, que uns viam como herói, outros como bandido. O criador de gado português comprou um rancho por 400 dólares e Billy the Kid - que já era procurado pela justiça por assassínio e roubo de gado e cavalos mas continuava a circular livremente pelo condado de Lincoln - testemunhou o contrato.

O foragido e o português eram amigos, mas na hora H foi John Phillips a explicar ao xerife que andava no encalço do criminoso qual o rasto de Billy the Kid e da sua quadrilha. Em 1881, Kid foi condenado a morrer na forca mas escapou da cadeia depois de matar dois guardas. O xerife voltou a procurar Manuel Brazil na tentativa de obter informações sobre Kid, mas Brazil já estava em paradeiro incerto. Lá ficou até Billy the Kid morrer, temendo a vingança do mais célebre foragido do Oeste Americano.


Notícia: jornal «i».
Saudações florentinas!!

4 comentários:

MILHAFRE disse...

Não vai levar muito mais tempo para os nossos jovens açorianos se fazerem à aventura e seguirem as pisadas dos seus antepassados.

Aqui, o que tinha a dar, já deu!

Antes o faroeste americano do que o «faroeste» e a «cowboyada» que aqui nesta terra de Deus, está montado!

Anónimo disse...

vão sair é por não querem trabalhar que aqui nas flores não falta terra para se trabalhar é preciso muita vontade para o trabalho eu já passei crises piores nos anos 50 e 60 e com mais população e ninguem morreu á fome.

MILHAFRE disse...

Mas naquele tempo não havia telemóveis, computadores, internet, carros e frigorificos para pagar.

Comia-se à base de pão seco com um charro mal amanhado, e de vez em quando uma pinga de café.

Agora, se o pessoal não sair daqui para trabalhar e para ganhar dinheiro vivo, duvido que eles queiram cavar terra e comer pão-seco, pois todos os meses há facturas e prestações do banco para pagar!

Isto já não vai como no tempo do Salazar...

Anónimo disse...

Homens habituados ao trabalho e luta por isso chegavam onde criam, Homens de hoje não lutam esperam por um subsidio do governo e um emprego para não fazer nada.