Sou açoriano, natural da ilha das Flores, Açores. Vivo no Continente, na Maia, desde há treze anos. Em Janeiro do corrente ano fiz reservas [para uma viagem] de avião para três pessoas e um cão Pastor Alemão, no balcão da SATA Air Açores, no Aeroporto Sá Carneiro, [sendo agendada essa viagem] para a ilha das Flores no dia 12 do mês de Julho, com chegada a esta mesma ilha, no mesmo dia.
A epopeia. Às cinco horas da manhã do dia 12 de Julho, faço o check-in, no Aeroporto do Porto, para embarcar às seis [horas da manhã] para os Açores, com escala por Lisboa. Tenho a informação de que a reserva do meu cão não aparece. Afinal, alegou o funcionário, ela só não aparecia no monitor dele, mas estava no [monitor] da colega. (Tarefeiros sazonais!)
Depois de termos chegado à ilha Terceira, fomos informados de que o [nosso] voo para as Flores num [avião] ATP da SATA Regional, previsto para as 12h45, havia [sido] cancelado devido às más condições atmosféricas nesta ilha. No entanto, foram realizados dois voos para as Flores, por esta mesma operadora [a SATA], após este cancelamento e neste mesmo dia. Entretanto, o [nosso] voo foi adiado para o dia seguinte, para as 18h45.
Após longa espera na tradicional fila portuguesa, fomos testando as nossas paciências vendo as funcionárias da SATA a preencher requisições para refeições e para transportes, manualmente!
Surge outro problema: é que viajo com um cão. Após alguma tensão informam-me que há um Hotel que aceita cães; mas tem uma condição: “o senhor tem que ficar com o seu cão no quarto e comprometer-se de que ele não ladra, e tem que sair frequentes vezes à rua para ele não fazer [as suas] necessidades [fisiológicas] no quarto”. Questiono-a se quer que enrole fita adesiva em torno da boca do cão, para que este não ladre. Esta replica que são exigências do Hotel. Hilariante!
Segundo dia. Novo check-in. Nova espera. Mais tarde, aparece a informação nos monitores da Aerogare [da ilha Terceira]: “Voo para as Flores atrasado. Novas informações às 19 horas”.
Às 19h45, ainda não havia nem novas informações nem funcionários da SATA nos balcões de check-in, e nem existe balcão de informações no Aeroporto. Acresce dizer que todas as vezes que fizemos check-in, o cão teve de tomar tranquilizantes, por conselho do veterinário!
O único balcão da SATA aberto àquela hora, com uma funcionária era o [balcão] das reservas. Foi aí que pedi informações sobre as razões, quer do atraso do [nosso] voo para as Flores, quer pela falta da informação que se impunha. Exigi a presença do supervisor de serviço da SATA, a fim de lhe pedir explicações sobre este voo. A muito custo, este lá apareceu. Chegou com ar arrogante, quis abreviar a minha conversa, alegando ter muito que fazer. Questiono-o acerca do atraso do [nosso] voo e da falta de cumprimento de informar os passageiros na hora anunciada. O senhor [supervisor de serviço da SATA] lá do alto da sua pequenez informou que o atraso se deveu ao embarque de um passageiro emacado nas Flores, de onde a aeronave regressaria para efectuar o nosso voo Terceira/Flores. Exijo-lhe a verdade e informo-o de que trabalho há 27 anos em Aeroportos e não é esse facto que provoca um atraso de duas horas num voo; é que eu tive conhecimento, através de um funcionário da SATA, que o atraso se deveu a uma avaria técnica no avião que fazia a ligação Terceira/Horta/Flores, e que era o mesmo [avião] que nos levaria às Flores aquando do seu regresso Flores/Horta/Terceira. Aguardamos, mas com a convicção de que ainda não seria no segundo dia [da nossa viagem] que chegaríamos às Flores.
A encenação. Cerca das 20h30, o dito supervisor [de serviço da SATA] fez uma encenação: avisou os passageiros para [imediatamente] se dirigirem para a sala de embarque, e quem não chegasse a tempo ficava atrás [no voo para a ilha das Flores]. Foi a debandada total [do balcão de reservas da SATA no Aeroporto da Terceira]; embora eu não acreditasse na manobra ilusória, pois devido à hora do pôr-do-Sol no Aeroporto das Flores (sendo uma pista sem iluminação própria para os [aviões] ATP), era de prever que o [nosso] voo fosse cancelado outra vez. Assim foi. Afastados que fomos do balcão de reservas, e já na sala de embarque, somos informados de que tudo havia sido feito [pela transportadora, SATA] para realizar o voo naquele dia, mas por razões da chegada tardia do avião [à ilha Terceira], e devido ao pôr-do-Sol nas Flores, o [nosso] voo era (outra vez) cancelado. Como se fosse necessário o comandante [do avião] chegar à Terceira, para então se dar conta de que [naquele dia] já não dava tempo de voltar às Flores! O [nosso] voo é novamente marcado para o dia seguinte, para as seis e tal da tarde. Uma hora depois, ainda na sala de embarque, esperávamos que aparecesse um funcionário da SATA para emitir, manualmente, uma a uma, as requisições (voucher), para cada passageiro, para cada refeição e para cada viagem de táxi. (Já está cansado de ler, e que diríamos nós do que passámos?) Uf!
Saímos do Aeroporto [da ilha Terceira] era dez horas da noite! Mas há mais! Enquanto esperávamos na dita filinha (como mendigos que esperam umas migalhas), as nossas bagagens foram postas sobre a passadeira rolante sem nos avisarem, e os bons profissionais da SATA abalaram dali, ficando as mesmas [bagagens], a andar à roda e o meu cão também. Um familiar meu, que ouvindo o nosso animal a ladrar foi pelo exterior da Aerogare (entenda-se lado terra), teve acesso às nossas bagagens e ao meu cão. É claro que leu bem! Qualquer pessoa podia ter levantado as nossas bagagens naquele dia e àquela hora! São dez horas da noite. Temos de procurar um táxi. Mas não um qualquer, pois terá de ser uma carrinha para poder levar um cão. Lá apareceu um.
Fomos para Angra [do Heroísmo], para casa dos simpáticos compadres Toste, que nos acolheram aos quatro. Ao menos aqui não tivemos de dormir com o cão, nem de lhe selar a boca com fita adesiva para ele não ladrar! Pusemos as malas em casa, procurámos um restaurante, mas estes estavam fechados. Lá nos “desenrascámos” num “snack-bar”. Pedimos factura pois as ditas requisições não eram ali aceites. Disseram-nos na SATA, que esta tem um “contrato apenas com alguns restaurantes”. Vá-se lá saber o que estará por detrás destes contratos exclusivos, e qual a legalidade disto!?
Chegados a casa, abrimos uma mala e eis que tínhamos a roupa quase toda manchada; mas se havíamos entregue a mala [poucas] horas antes no balcão do check-in com tudo inteiro, era estranho que tivessem rebentado algo que tínhamos dentro, sem que a mala tivesse viajado! Para mais, já tínhamos vindo do Porto, feito escala em Lisboa (uma maçada esta escala), e tinha chegado tudo em condições à Terceira!
Terceiro dia. Dia 14 de Julho. Voo programado [novamente] para o final da tarde, fazia-nos temer o pior. É que não vá o diabo tecê-las e estes gajos ainda cancelam outra vez o [nosso] voo. Mas não. Lá partimos desta vez (à terceira foi de vez), à hora marcada.
Resumindo. Saímos do Porto às seis horas da manhã do dia 12 de Julho, e chegámos às Flores no dia 14, às 20h30. Mas a epopeia não acaba aqui! Se pensava que já se ia ver livre disto, engana-se! É que é preciso reembolsar as despesas do tal jantar da véspera na [ilha] Terceira! Disseram-nos lá, que podíamos reembolsar essa despesa nas Flores. Alguns dias depois, nas Flores, fui ao balcão [de vendas] da SATA, solicitar a citada despesa. Sou informado que esses pagamentos são feitos no [balcão da SATA no] Aeroporto [da ilha das Flores]. Lá vou eu. Estranho. É meio-dia menos cinco (ou se quiserem cinco [minutos] para o meio dia), “bato com o nariz nas portas”. A Aerogare está fechada para os empregados [da SATA] irem almoçar! Isto é que é desenvolvimento! Volto noutro dia. Atende-me uma jovem antipática [funcionária da SATA], que me informa que deveria fazer o reembolso na Terceira; que deveria ter usado as requisições no Hotel de Angra, onde tinha ficado alojado. Mas eu nem estive alojado nesse Hotel! Olha para os papéis, volta a olhar, vira-me as costas, volta uma eternidade depois. Enfim, depois de muita insistência minha, a maldisposta empregada [da SATA] desapareceu sem dizer nada. Voltou mais tarde, desta vez acompanhada pelo simpático supervisor [de serviço da SATA], que por sua vez me informa que terei de voltar no dia seguinte, pois já tinha fechado a caixa. Eram quatro [horas] e meia da tarde. No dia seguinte, nova ida ao Aeroporto, lá levantei uns míseros trinta euros.
Regresso ao Porto, no dia 12 de Agosto. Espero as malas e o cão. As malas lá apareceram, o cão é que nem vê-lo. Ficámos preocupados. Tento encontrar alguém [no Aeroporto Sá Carneiro, no Porto] que me dê informações sobre o meu fiel amigo. Nada. Vejo um arrumador de carrinhos de bagagem. Peço-lhe informações de como localizar o [meu] animal, o bom homem disse-me que lá ao fundo da Aerogare havia um tapete especial para bagagens fora de formato. Lá me dirigi. E lá estava o meu bom amigo sobre um carrinho [de transporte de bagagem], sozinho, e já a “pensar” que o seu dono o havia abandonado. É assim em época de férias em Portugal! E ainda, todas as vezes que faço esta viagem para este destino [a ilha das Flores], regresso sempre [ao Porto], com a bagagem danificada.
Aqui fica o alerta para quem pretenda viajar pela SATA Air Açores, que terá de contar com um serviço medíocre!
Aqui fica, também, outro alerta para o Instituto Nacional de Aviação Civil (INAC): o avião em que viajámos no regresso de Flores/Ponta Delgada, o ATP, CS-TGN [«Flores»], tinha um escorrimento de óleo hidráulico ao longo da parte superior do motor esquerdo. E consta, que as avarias têm sido frequentes nas aeronaves da SATA Regional. Será que a manutenção destes aparelhos é rigorosamente cumprida? Tenho sérias dúvidas!
Finalmente, fica uma chamada de atenção ao Conselho de Administração da SATA, bem como à “Coordenação” da mesma, para que respeitem aqueles que contribuem para os chorudos salários que recebem e sejam competentes.
Acresce dizer, que obviamente formalizámos [est]as nossas reclamações no respectivo livro, e sugiro aos leitores que passem por situações idênticas, que façam o mesmo. É um direito que nos assiste.
PS: Um advogado, companheiro nosso nesta viagem de infortúnio, irá processar judicialmente a SATA, pelo ocorrido.
Francisco Aurélio Braz
O presente artigo de opinião (datado de 31 de Agosto) é parte integrante da Secção do Leitor do «Jornal de Notícias»; tendo sido posteriormente publicado também no «Diário Insular».
Saudações florentinas!!