Confecção de pão caseiro florentino
Este vídeo é uma homenagem a Maria Luísa (minha mãe) e a todas as Marias e mães do Mundo, que ao longo da vida dão o seu melhor, por vezes quase o impossível, para darem de comer às suas famílias. O pão dá a vida e com pão se mata a fome que tantos milhares assassina.
Lembro-me das terras na ilha das Flores serem cultivadas a rigor e preceito. Não havia a mecanização e diesel que há actualmente, não havia a subsidiodependência em que tudo é dirigido para angariação de mais e mais dinheiro. Lembro-me de todos os cantos serem cultivados e não se viam ervas daninhas. Lembro-me de quase todas as famílias terem uma ou mesmo mais juntas de bois, um cavalo ou burro domesticado para a labuta do arar a terra, semear, sachar, acartar, etc. Lembro-me que no tempo das colheitas havia uma enorme preocupação em separar o melhor grão para ser preparado para na próxima época ser lançado à terra; e assim o ciclo repetia-se, e assim a vida continuava sã e saudável.
Neste caso concreto do milho, o semear, o sachar como era difícil debaixo das calmarias de Verão, depois vinha o desfolhar e quebrar a espiga, o apanhar maçaroca, o descascar e fazer os cambulhões e dependurar no estaleiro, algum do milho nesta altura era debulhado e ia a moer para fazer as papas grossas ou verdes. Ao longo do Inverno ia-se ao estaleiro tirar os cambulhões e descascava-se o milho, debulhava-se e ia a ventejar para tirar todas as impurezas e pó e punha-se a secar ao Sol. No caso de não haver Sol, o milho ia secar ao forno depois de cozer o pão, de seguida ia para o moinho e depois de transformado em farinha era peneirado e com a farinha no mais fino pó faziam-se as papas, o bolo do tijolo, as escaldadas e o pão de milho.
Lembro-me de ser cultivado trigo na ilha das Flores, bem como o algodão e linho. Lembro-me dos serões a desmanchar lã, escolher, tingir, fiar. Lembro-me de montar o tear e acartar enormes pedras para o calçar, urdir, tecer e com estes produtos fazerem-se cobertores, calças, casacos, coletes, etc. Lembro-me dos serões a contar histórias, muitas de encantar. Lembro-me de tantas mais coisas que por aqui ficaria muito tempo... E afinal tenho 50 anos, a História está, existe... A mente humana é que é muito curta.
Muito obrigado a todas as mães e todas as pessoas que lutaram para que as gerações de agora tenham uma boa-vida graças aos esforços e poupanças de gerações passadas. Obrigado à minha mãe por calorosa e entusiasmadamente ter proporcionado este belo trabalho videográfico para a posteridade.
Vídeo: YouTube de José Agostinho Serpa.
Saudações florentinas!!
Lembro-me das terras na ilha das Flores serem cultivadas a rigor e preceito. Não havia a mecanização e diesel que há actualmente, não havia a subsidiodependência em que tudo é dirigido para angariação de mais e mais dinheiro. Lembro-me de todos os cantos serem cultivados e não se viam ervas daninhas. Lembro-me de quase todas as famílias terem uma ou mesmo mais juntas de bois, um cavalo ou burro domesticado para a labuta do arar a terra, semear, sachar, acartar, etc. Lembro-me que no tempo das colheitas havia uma enorme preocupação em separar o melhor grão para ser preparado para na próxima época ser lançado à terra; e assim o ciclo repetia-se, e assim a vida continuava sã e saudável.
Neste caso concreto do milho, o semear, o sachar como era difícil debaixo das calmarias de Verão, depois vinha o desfolhar e quebrar a espiga, o apanhar maçaroca, o descascar e fazer os cambulhões e dependurar no estaleiro, algum do milho nesta altura era debulhado e ia a moer para fazer as papas grossas ou verdes. Ao longo do Inverno ia-se ao estaleiro tirar os cambulhões e descascava-se o milho, debulhava-se e ia a ventejar para tirar todas as impurezas e pó e punha-se a secar ao Sol. No caso de não haver Sol, o milho ia secar ao forno depois de cozer o pão, de seguida ia para o moinho e depois de transformado em farinha era peneirado e com a farinha no mais fino pó faziam-se as papas, o bolo do tijolo, as escaldadas e o pão de milho.
Lembro-me de ser cultivado trigo na ilha das Flores, bem como o algodão e linho. Lembro-me dos serões a desmanchar lã, escolher, tingir, fiar. Lembro-me de montar o tear e acartar enormes pedras para o calçar, urdir, tecer e com estes produtos fazerem-se cobertores, calças, casacos, coletes, etc. Lembro-me dos serões a contar histórias, muitas de encantar. Lembro-me de tantas mais coisas que por aqui ficaria muito tempo... E afinal tenho 50 anos, a História está, existe... A mente humana é que é muito curta.
Muito obrigado a todas as mães e todas as pessoas que lutaram para que as gerações de agora tenham uma boa-vida graças aos esforços e poupanças de gerações passadas. Obrigado à minha mãe por calorosa e entusiasmadamente ter proporcionado este belo trabalho videográfico para a posteridade.
Vídeo: YouTube de José Agostinho Serpa.
Saudações florentinas!!
6 comentários:
Ao ver as imagens deu-me muitas saudades quando minha mãe cozia o nosso pão de trigo e milho, o alguidar, a pá, o varedor, não não me lembro de tender o pão numa pana de plástico, muito bonito gostei...
O ritual que acompanhava a cozedura semanal do pão enquadra as minhas melhores recordações de infância.
Os fermentos, geneticamente ligados aos "serenos" nevoentos de S. João, as farinhas, que vinham dos moinhos da Fajã, o amassar, o tender, o aquecer o forno, desde os gravetos à lenha de faia, os braseiros, rodados com um "rodo" de madeira, a pá e a colocação do pão.
O pão quente, comido na ceia com manteiga e chá de nevda. Os cheiros intensos das pevides torradas e da batata doce assada. As talhadas de abóbora crestadas pelo calor e os saborosos chicharros assados numa folha de figueira.
Tempos de escassez, mas tempos de alegria e de solidariedade.
Obrigada, José.
Sim, com a excepção dos alguidares de plástico (não havia plásticos!) era assim.
O pão era tendido, lado a lado, com espaços entre cada um, em cima duma toalha estendida e depois coberto com outra. O resto era igual.
Falta aquela reza final. Quem sabe? Não me lembro de tudo. Quem ajuda?
".... te levede....te acrescente".
Já não me lembro. Quem ajuda???
Parece muito bom, mas e a receita? Qual a quantidade de farinha, qual o fermento, quanto tempo em descanso, etc...? Pode ser feito em forno elétrico ou no forno a gás?
Obriga José, pelo belo trabalho que fizeste. Mais um.
Foi muito bom recordar,retoceder no tempo e nas memórias.
Para quem pede a receita,digo;talvez não era essa a função deste trabalho.Era sim, trazer à memória actual,o modo com se vivia no passado.É o reviver para uns, cultivar-se para outros, os mais novos,principalmente.
Agora aprender os métodos, é outra coisa e com outras condições.
Obrigado José.
Nunca vi tua mãe fazer o seu pão mas vi minha avó (tua tia Evarista) fazer o seu pão imensas vezes.
Este video trouxe-me imensas memórias e as lágrimas da saudade.
Um grande obrigado.
José António
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