quarta-feira, 11 de fevereiro de 2015

Metas açorianas para as energias renováveis exigem sistemas inteligentes

Marija Ilic passou os últimos quatro anos a estudar uma forma de introduzir sistemas inteligentes de distribuição de electricidade na rede eléctrica dos Açores, em articulação com o projecto Green Islands Azores, lançado em 2009 pelo programa MIT Portugal. Já escreveu um livro com os resultados.

A investigadora da Universidade Carnegie Mellon, que coordena o projecto DyMonDS (Sistemas Inteligentes de Distribuição suportados em Monitorização e Decisão Dinâmica), afirma que "a questão principal é como se controla todo o sistema, de modo a que mesmo quando o vento não sopra possa ser fornecida energia o mais limpa possível. Na ilha das Flores há uma mini-hídrica, na qual é possível controlar a energia produzida, através da barragem. A energia da Central convencional também é facilmente controlável, mas com o vento ou o Sol não é assim. No entanto, é possível prever o vento, com um dia ou uma hora de antecedência, e depois agendar a distribuição de energia para que o fornecimento seja exactamente o necessário."

"O vento foi preocupação deste estudo porque é o maior recurso em São Miguel e nas Flores. Mas também funcionaria com a energia solar", afirmou a especialista em redes inteligentes de energia. No livro «The Tale of two low-cost Green Azores Islands» é abordado primeiro o que acontece ao serem aplicadas aquelas tecnologias apenas às energias convencionais. Depois foi efetuada a comparação com o que acontece ao serem agendadas duas variáveis: a energia eólica e a procura. Neste caso é proposta a gestão de armazenamento adaptado (ALM), ao contrário do que é feito actualmente pelas companhias eléctricas. Estas utilizam o controlo de armazenamento directo, em que há uma tarifa e o cliente concorda com interrupções pontuais do fornecimento. Com o ALM, o consumidor diz, com um dia ou uma semana de antecedência, que quer consumir determinada quantidade de energia e quanto está disposto a pagar. A escolha é do cliente e, com essa informação, a empresa controla o fornecimento de energia.

Nesta investigação é levantada uma questão: será que os veículos eléctricos funcionariam nas ilhas? Concluiu-se que sim, se houver a opção pelo carregamento inteligente, que passa exactamente pela previsão meteorológica e pelo agendamento de modo a que, ao longo do tempo, se possa minimizar o custo da energia. Basicamente, o utilizador não carrega o veículo só quando precisa, planeia carregá-lo com um dia de antecedência. Isto não seria feito directamente pelo consumidor, haverá um software instalado no sistema eléctrico da habitação, que activa e desactiva o termostato, tendo em conta o sinal do operador. Se este envia um sinal a dizer que vai haver muito vento, o software faz o ajuste e decide que o veículo deve ser carregado nas próximas 24 horas, de forma a conseguir reduzir custos e permitir o equilíbrio do sistema de energia. É isto o carregamento inteligente de veículos, por oposição ao carregamento rápido, que é aquele em que toda a gente carrega a bateria ao mesmo tempo e há um pico de energia. O projecto da Universidade Carnegie Mellon visa perceber como incorporar o software DyMonDS no sistema da habitação.

A investigadora Marija Ilic afirma que "não há muito cuidado na definição das metas das energias renováveis, não se pensa no que é melhor para o sistema considerando o que os consumidores querem e estão dispostos a pagar, quanto custa e quais os benefícios ambientais. Não se pode usar apenas o critério “deve ser tudo limpo”. Na segunda fase deste projecto queremos explorar este aspecto: se o Governo Regional quer mesmo ter 75% de energias renováveis nos Açores em 2020, qual a tecnologia necessária? Isto requer o ‘novo SCADA’, novos acordos entre os clientes e os produtores para que a energia seja utilizada da melhor forma. E o mais importante é que isto pode ser feito sem aumentar o preço da electricidade".


Notícia: jornal «Público»
Saudações florentinas!!

3 comentários:

Sou Forte Tanso disse...

Pois pois, carrega-se o carro quando há vento, e no Verão anda-se a pé, é?

Anónimo disse...

Carrega-se preferencialmente nos dias que se gera mais energia renovável!!
Uns paineis solares em nossas casas também iriam baixar o custo de cada carregamento.

Anónimo disse...

A propósito. O preço do petróleo de novembro para cá caiu para metade. Mas a eletricidade nos Açores, em grande parte produzida por combustíveis fósseis, não...
Que raio de regulação é esta, que quando os fatores de custo sobem aumenta, mas quando descem não diminui?
Como se vê, a inteligência não deve ser usada só para adivinhar ventos e controlar eólicas. Deve também acompanhar os mercados, em beneficio dos consumidores.