sábado, 1 de novembro de 2008

Nova espécie de ave marinha foi "descoberta" nas ilhas dos Açores

Biodiversidade: painho-de-monteiro tem o nome do seu descobridor. Às nove espécies de aves marinhas que nidificam nos Açores, veio agora juntar-se mais uma: o painho-de-monteiro. A descrição foi publicada há um mês na revista científica «Ibis», por uma equipa internacional. A sua história vem já dos anos 90 e está ligada ao biólogo do qual ganhou o nome.

Se um trágico golpe do destino não tivesse travado abruptamente o curso da vida, talvez o painho-das-tempestades-de-monteiro (oceanodroma monteiroi), uma ave endémica dos Açores que apenas há um mês foi reconhecida como tal, não tivesse Monteiro no nome.

Luís Rocha Monteiro, o jovem biólogo do Departamento de Oceanografia e Pescas (DOP) da Universidade dos Açores que primeiro suspeitou, ainda nos anos 90, que aquela ave não era da mesma espécie que o painho-da-madeira (oceanodroma castro), não teve, no entanto, oportunidade de o verificar. Mas o trabalho para aquela caracterização já tinha sido lançado por ele.

Em 1996 e em 1998, Luís Monteiro e os seus colaboradores publicaram, aliás, dois artigos científicos em que discutiam a possibilidade de aquela ser uma nova espécie, face às observações feitas. "Os amigos, às vezes, diziam-lhe: 'Então agora vais dar o teu nome à espécie.' Mas ele respondia que não. Não tinha esse objectivo", recorda Verónica Neves, também bióloga do DOP, que chegou a trabalhar com aquele investigador.

Concluído agora o estudo da ave marinha - a equipa foi coordenada por Mark Bolton, cientista do DOP e da Royal Society for the Protection of Birds, que tinha iniciado a pesquisa com Monteiro -, os investigadores tomaram a decisão. "Propomos assim o nome específico monteiroi, reconhecendo a grande contribuição para a descoberta desta espécie do doutor Luís Monteiro, que primeiro descreveu as populações sazonais dos petréis-das-tempestades [painhos] nos Açores e que trabalhou sem descanso para a sua conservação", escrevem os autores no artigo publicado a 29 de Setembro na revista científica «Ibis», da British Ornithologists Union. "É uma homenagem justa", diz Verónica Neves. "Se ele não tivesse feito o trabalho inicial, não se teria percebido que aquela é uma nova espécie."

Ave marinha do mesmo grupo das cagarras e albatrozes, o painho-de-monteiro tem várias características que o distinguem do seu "irmão" painho-da-madeira. Uma das mais notáveis, sabe-se agora, é o seu canto, com uma frase mais curta, detectável pelo ouvido humano treinado. Outros pequenos detalhes na plumagem e na dimensão das aves são menos evidentes, mas chamaram a atenção de Luís Monteiro, logo nos anos 90.

"Ele estava a fazer o trabalho de campo para o seu doutoramento sobre as concentrações de mercúrio nas aves e recolheu amostras das diferentes espécies em todas as ilhas e ilhéus do arquipélago, para fazer comparações, e para investigar a possibilidade de utilizar as aves marinhas como indicadores da contaminação por mercúrio na região portuguesa do Atlântico", conta Verónica Neves.

À quase certeza da nova espécie, o biólogo preocupou-se também com a sua conservação. Com efeito, o painho-de-monteiro só nidifica nos ilhéus de Baixo e da Praia, junto à Graciosa, e nesta ilha também.
"Há agora a suspeita de que nidifique igualmente na ilha das Flores, mas isso não está confirmado", adianta a bióloga [Verónica Neves]. Fazer esse estudo é outra tarefa pela frente.

No artigo agora publicado pela equipa de Mark Bolton - que inclui outros sete investigadores de Universidades do Canadá, de Espanha e da Escócia, além da Universidade dos Açores -, a população desta ave está estimada entre 250 e 300 casais nidificantes. E o facto de só existir nos Açores torna-a necessariamente vulnerável.

Um projecto de estudo e de conservação, proposto ainda por Luís Monteiro à Fundação para a Ciência e a Tecnologia, acabou por permitir, já depois da sua morte, colocar uma série de ninhos artificiais nos ilhéus onde a ave nidifica. "Isso foi importante para o seu estudo e monitorização", diz Verónica Neves, que participou nesse trabalho.

Para Joel Bried, investigador do DOP e um dos autores do artigo publicado na «Ibis», esta espécie deverá ser classificada como "em perigo", dada a dimensão reduzida da sua população e o facto de não existir em mais nenhum sítio do mundo. Mas essa decisão "caberá à União Internacional para a Conservação da Natureza e à BirdLife International", explica o biólogo.

Quanto à estratégia necessária para a conservação desta ave, Bried (que continua a trabalhar sobre ela) adiantou ao «Diário de Notícias» que é preciso "evitar a introdução nos ilhéus de mamíferos, como ratazanas, gatos ou furões, que são seus predadores e que, felizmente, não existem nos ilhéus onde a espécie nidifica". Outra medida defendida pelo biólogo é a "proibição ou restrição do acesso de pessoas, para que não danifiquem ou perturbem os ninhos e as aves". O sucesso dos ninhos artificiais mostra, por outro lado, que é preciso "instalar mais" estruturas dessas. Afinal, como diz Verónica Neves, "esta é uma nova espécie para a ciência, mas um velho habitante destas ilhas, que já conhece os mares e as tempestades do Açores há pelo menos 70 mil anos".


Notícia: «Diário de Notícias».
Saudações florentinas!!

1 comentário:

Anónimo disse...

conheci muito bem o dr luis monteiro, gentil, humilde, estudioso e ambicioso....ao contrario dos jovens que se querem vir meter aqui, ele continuou crescendo em sabedoria, estudando , envestigando, por isso ficou tão conhecido na historia da univercidade, corria atras do trabalho, do saber mais, de se cultivar sempre mais...é destes que ficam na historia,que são conhecidos internacionalente....não dos do jet merda das flores, que por terem uns trocos e vestirem umas roupinhas de marca, e sobretudo por saberem a vida de todos pensam que são alguem importante...
que pobresa de espirito !!!!