quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

Doutoramento refere "fortes indícios" de corrupção na implementação da TDT

O investigador da Universidade do Minho, Sérgio Denicoli afirmou que há «fortes indícios» de corrupção na implementação da Televisão Digital Terrestre (TDT) em Portugal e sublinhou que o processo foi conduzido de forma a «não funcionar».

«Houve uma TDT planeada muito diferente da que foi implementada. Foram prometidos muitos canais, mas ficou-se apenas pelos quatro que já existiam no analógico. Isso ocorreu por interferências políticas e económicas, o que nos leva a crer que pode ter havido a captura do regulador pela Portugal Telecom [PT], ou seja, a ANaCom teria trabalhado em favor da PT», disse o investigador.

Sérgio Denicoli defendeu na Universidade do Minho a sua tese de doutoramento em Ciências da Comunicação, especialidade de Sociologia da Comunicação e da Informação, intitulada ‘A implementação da televisão digital terrestre em Portugal’.

O investigador sublinhou que a PT foi «de longe, a principal beneficiada» com a TDT, tendo conseguido 715 mil novos clientes para a Meo: «Naturalmente, não interessava à PT que a TDT tivesse muitos canais e a entidade reguladora [ANaCom] permitiu isso, beneficiando grupos económicos em detrimento do interesse público», referiu Sérgio Denicoli.

E acrescentou que, segundo a organização não-governamental Transparência Internacional, esta actuação configura «uma espécie de corrupção, pois utiliza algo público de forma a garantir lucros privados». «Não posso afirmar categoricamente que houve corrupção, pois cabe à Justiça tal constatação, mas posso dizer que há fortes indícios e que é importante que as autoridades competentes façam uma averiguação», acrescentou.

Segundo Sérgio Denicoli, a TDT que existe hoje em Portugal «foi feita para não funcionar, para apresentar falhas, para oferecer poucos canais e serviços interactivos limitados, de forma a incentivar a migração da população para serviços de TV por subscrição». O investigador referiu que, somente no período de implementação da TDT (de 2009 a 2012), a TV paga em Portugal cresceu mais de 32,3%. «E estamos a falar de um período de crise económica. Isso, certamente, deve-se à fraca oferta da TDT. Hoje, o que verificamos é que o sinal da TDT apresenta falhas constantes, devido a erros técnicos que poderiam ser evitados», apontou o investigador.

Para Sérgio Denicoli, em Portugal, ao contrário do que acontece noutros países da União Europeia, «as autoridades públicas legislaram respondendo primordialmente aos interesses empresariais» e não se preocuparam sistematicamente com a população ou com a inclusão digital: o país «não aproveitou a tecnologia disponível para proporcionar às pessoas uma televisão em sinal aberto de qualidade equiparável aos serviços de TV por subscrição, mesmo havendo plenas condições para tal».

«Os lóbis económicos, que no caso português parecem ser intrínsecos aos lóbis políticos, conseguiram fazer com que fosse estabelecido um modelo de TDT de qualidade muito inferior ao apresentado pela maioria dos países da União Europeia e muito aquém do que os operadores de TV paga ofereciam aos seus clientes», criticou o investigador Sérgio Denicoli.


Notícia: semanário «Sol» e «Jornal de Notícias».
Entretanto, para relembrar algum historial recente: Flores e Corvo são os únicos sítios do país sem cobertura terrestre de TDT, florentinos e corvinos [ficaram] sem tv digital, Manter o sinal analógico de televisão enquanto não nos chegar a fibra óptica, "Foi muito satisfatória a transição para TDT nos Açores", afirmou o secretário regional José Contente, "República é quem tem de disponibilizar televisão digital nas Flores e no Corvo", afirmou o deputado José Gabriel Eduardo e "Está assegurada TDT em toda a Região", garantia dada pelo secretário regional José Contente.

Saudações florentinas!!

1 comentário:

Anónimo disse...

Não temos um ministério público?

As acusações quando não são encaminhadas para o lugar adequado, geram elas próprias suspeita.

Quem está ciente da acusação que faz, tem a obrigação e o dever de denunciar à justiça. Se não o fizer, é porque é conivente.

Quem presume uma acusação e tem intentos mediáticos, usa jornais ou, como agora parece moda, faz teses de mestrado ou doutoramento.