Cafeína poderá atrasar danos causados pela doença de Machado-Joseph
É um resultado auspicioso para uma doença neurodegenerativa sem cura. Cientistas da Universidade de Coimbra verificaram que quantidades elevadas de cafeína atenuam os danos causados pelo modelo da doença de Machado-Joseph nos ratinhos. O trabalho foi publicado num artigo científico da revista «Annals of Neurology».
A doença de Machado-Joseph deve-se à mutação de um único gene e traduz-se na produção de uma proteína anormal que acaba por se acumular em excesso nas células nervosas, matando-as. O resultado é uma doença progressiva que afecta os movimentos: provoca a perda do controlo das extremidades, rigidez muscular, espasmos, problemas de deglutição, perturbações da visão e descontrolos dos movimentos oculares, perturbações do sono e problemas cognitivos.
Os sintomas podem surgir tanto na infância como aos 70 anos e os filhos de uma pessoa com esta doença têm 50% de hipóteses de terem recebido este gene e, por isso, de virem a sofrer do mesmo problema. A doença não é tratável, os medicamentos servem apenas para controlar alguns sintomas.
A equipa da Universidade de Coimbra liderada por Luís Pereira de Almeida e Rodrigo Cunha utilizou um modelo equivalente em ratinhos para estudar esta doença que tem uma prevalência significativa em Portugal, especialmente nos Açores. Para isso, utilizou um vírus modificado que desencadeia a patologia no cérebro dos ratinhos. Depois, administrou-se regularmente uma concentração de cafeína equivalente a cerca de seis cafés diários para testar se havia algum efeito.
A cafeína exerceu “efeitos protectores, capazes de restabelecer a função [cerebral] por actuar como inibidora desta perturbação nos circuitos neuronais”. A investigação também conseguiu associar o efeito da cafeína ao bloqueio de um receptor neuronal para a adenosina.
A descoberta representa "uma peça importante para o complexo puzzle" da compreensão desta doença, mas os investigadores são prudentes sobre o seu significado: “São resultados promissores que abrem pistas para o desenvolvimento de novas abordagens terapêuticas, mas são necessários mais estudos e ensaios clínicos para confirmar se o alvo molecular é eficaz nos humanos”, defendem Luís Pereira de Almeida e Rodrigo Cunha.
A comunidade científica “validou estas novas informações sobre os mecanismos envolvidos na neuropatologia, renovando a esperança na busca de um tratamento que permita atrasar a sua evolução. No entanto, estabelecer prazos para um novo medicamento chegar ao mercado é pura especulação”, sustentam os investigadores da Universidade de Coimbra.
Actualmente "não há nenhum mecanismo para interferir com a progressão da doença de Machado-Joseph, apenas se tratam os sintomas. Por isso os resultados desta investigação abrem portas para a definição de uma nova estratégia para frenar o surgimento da doença", clarificam os investigadores.
Notícia: jornal «Público», «Açoriano Oriental» e revista «Lux».
Saudações florentinas!!
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