quinta-feira, 14 de outubro de 2010

«Brumas e Escarpas» #11

O ciclo do milho na Fajã Grande, nos anos 50

Parte III – Preparação das “Terras de Oitono”

Nas chamadas “terras de oitono”, ou seja, naquelas em que era semeado, entre o milho, trevo, erva da casta ou até favas, que ficavam mais distantes do mar e onde durante os meses de Abril e Maio as vacas estavam amarradas à estaca ou “à cordada”, a preparação dos terrenos para o semear do milho era um pouquinho diferente da das terras da beira-mar. Aquelas terras ficavam situadas nos seguintes lugares: Ribeira das Casas, Calhau Miúdo, Mimoio, Ladeira, Fontinha, Alagoeiro, Ribeira, Fonte de Cima, Batel, Bandeja, Queimadas, Vale da Vaca, Descansadouro e, uma ou outra, no Delgado.

Em primeiro lugar, estas terras geralmente não eram enriquecidas nem com esterco nem com sargaço. Por um lado, porque a maior parte dos acessos a muitas delas, como por exemplo às do Mimoio, Ladeira, Queimadas e Bandeja, eram canadas íngremes e apertadíssimas por onde os carros de bois não conseguiam passar e, por outro, porque aqueles produtos eram geralmente gastos nas outras terras. Além disso e, regra geral, estas terras eram muito bem adubadas pelas vacas enquanto lá estavam amarradas à estaca. É que estas ficavam ali presas dia e noite, mesmo em dias de chuva (só em dias de temporal eram trazidas para os palheiros), tendo muitas vezes, para além da comida que a “cordada” das forrageiras lhes proporcionava, um suplemento alimentar constituído por gavelas de erva, de incensos de couve ou de outra comida, precisamente para que os animais permanecessem mais tempo em todos e cada um dos pedacinhos de terra, a fim de estrumar melhor o campo onde, algum tempo depois havia de ser semeado o milho. Apenas quando as terras, por qualquer razão, não eram bem “trilhadas” ou seja adubadas pelas vacas se enriqueciam, então, com um ou dois sacos de adubo ou, eventualmente, com meia dúzia de carradas de esterco.

A batata-doce nestas terras também não se misturava com a cultura do milho. Era cultivada em regime de exclusividade, em terras para tal preparadas e designada por batata-doce de latada e era esta que, por ser de melhor qualidade, se destinava à alimentação das pessoas. Na maioria destas terras cultivava-se o milho em regime de exclusividade, pelo que este nascia e crescia orgulhosamente só, até deitar espiga. Só então por entre os milheirais já crescidos e espigados se espalhava a semente de trevo ou de erva da casta que depois era coberta ou misturada na terra com um ancinho para de seguida nascer, crescer e florir após a apanha daquele cereal, transformando os campos em maravilhosos tapetes verdes matizados de vermelho, branco, rosa e azul, com que as vaquinhas se haviam de regalar mais tarde.

De resto, todo o processo de preparação do terreno, no que dizia respeito ao lavrar, gradar e atalhar, era rigorosamente igual aos das outras terras. Primeiro eram lavradas com o arado de ferro, de seguida gradadas uma e duas vezes, com a grade de bicos para desfazer os “torrões” e, mais tarde, atalhadas. No entanto, o lavrar aqui era muito mais difícil e tornava-se mais cansativo para os animais que puxavam o arado, uma vez que o terreno estava rigorosamente muito mais endurecido.


Carlos Fagundes

Este artigo foi (originalmente) publicado no «Pico da Vigia».

9 comentários:

Alberto disse...

Como sempre,gostei...

Anónimo disse...

ó moços voces ouviram o debate sobre a crise nos açores na rtpaçores ontem á noite. vaiam-se preparando para o sacho na mão se não querem passar fome não se assustem de rebentar uma bochigas nas maões que são cales a nascer e passa depressa. o meu alquiero de terra que eu tinha com cana-roca está quase limpo é mais este fim de semana e fica a modes de lavrar para semear batatas.

MILHAFRE disse...

O comentador das 15:00 tem toda a razão.

Já que a Câmara não monda os jardins nem roça as bermas das estradas, vai ser preciso pôr essa rapaziada de sacho e foicinho na mão.

Como enteveu o nosso amigo «Farto de Mamões», que em boa hora abalou pr'a América, a fome vai chegar aqui mais depressa do que vocês julgam.

Essa malta no lugar de passarem todo o santo dia no café a empinar cerveja e a gastar gasolina nas motas e carros, vão ter que pegar na ferramenta e engigar o toutiço.

É preciso pôr novamente essas terras lavradias cheias de milho,trigo, favas, tremoço, batatas, batata doce, agrião, cebolas, couves, cenouras, abóboras, mogangos, tomates, feijão, ervilhas,etc.

Comecem já a preparar as terras pois o tempo das sementeiras já está quase aí.

Ainda hoje vi muitos velhotes com sachos na mão.
E essa rapaziada nova, vão estar a comer da reforma dos velhinhos?

Anónimo disse...

o farto de mamões tinha toda a razão.

Anónimo disse...

Há cada uma opinião que parecem duas.
Farto de mamoes e dr pardal devem ser a mesma pessoa e pelos vistos gostariam de ver voltar a mesma miseria de antigamente talvez eles tem algum dinheiro para poderem viver sem trabalhar mas se chegar miseria ao pobre tb chegara ao rico pois sem o pobre trabalhar a terra nao ha os bens essenciais para eles poderem comprar basta o navio atrasar 3 dias ja começam logo a mandar bocas e a verem as prateleiras nas lojas a ficarem vazias,e por hoje e tudo.

Anónimo disse...

gostei desta frase se o pobre não trabalhar a terra não hà bens essenciais, plenamente
de acordo. mas! o que eu vejo a trabalhar a terra é algumas pessoas de idade e estas quando não puderem e o barco a chegar cada vez mais vazio que os trabalhos estão a faltar e a grande divida de bilioes de euros que portugal deve vai levar muitos anos para ficar direita. Louvo que penso que seja novo um que aqui escreve que tinha um alquiero de terra abandonado e dedicou-se arrancar a canaroca que lá tem para produzir.

Anónimo disse...

Esse que disse ter arrancado cana roca para cultivar a terra isso deve ser treta,ele talvez nem mexe com uma palha quanto mais cavar a terra,ahahah.

Anónimo disse...

eu tambem pensava que era treta mas no domingo lá estava ele de luvas na mão e com uma picareta não sei se ele acabou faltava pouco e no regresso a casa eu não passei por ele, o homem de 25 anos era um tal dar.

MILHAFRE disse...

É verdade, sim senhor.

No Domingo passado vi o nosso amigo da cana-roca a limpar beiras, desbastar relva e a preparar quase um alqueire de terra para as próximas sementeiras.

Se todos, nas Flores, fossem com o nossa amigo da cana roca, não se importava tanta comida da loja.

O homem já tem a sua idade, mas dá o exemplo a essa malta nova que anda todo o dia de lá para cá, com telemóvel na mão e cigarro no beiço.

Mas, mais dia menos dia, vão ter que chegar para o trabalho se quiserem ao menos «boer» uma cervejinha ou fumar um cigarro «triunfo»...