sábado, 12 de março de 2011

«Brumas e Escarpas» #17

O ciclo do milho na Fajã Grande, nos anos 50

Parte IX – Pendurar no estaleiro

Era nos estaleiros que se guardava o milho, quer os cambulhões em que as maçarocas tinham a casca quer as cambulhadas em que as maçarocas eram encambulhadas descascadas. O milho ali ficava a secar desde o dia da apanha até à altura em que fosse necessário levá-lo para o moinho, a fim de o transformar em farinha.

Construídos sempre muito perto das casas, geralmente num quintal, numa courela ou até no curral das galinhas, os estaleiros na Fajã Grande tinham quatro formas diferentes. Uns, os maiores que eram também os mais comuns e usuais, tinham a forma de um telhado de casa acentuadamente inclinado, assente sobre grossos barrotes de madeira, as faces laterais constituídas por tiras ou “taliscas” de madeira, paralelas umas às outras, em forma de grade e pregadas aos paus das arestas e a outros que as subdividiam em duas ou três partes. Era nesta tiras que se penduravam com arte e sabedoria os cambulhões cujas maçarocas tinham casca, e que ficavam de tal maneira expostos de maneira que a chuva não penetrasse e atingisse as maçarocas e os ventos ciclónicos do Inverno não levassem o próprio milho pelos ares. Apenas as faces das cabeceiras e a da base não tinham tiras pelo que ficavam abertas a fim de que o ar circulasse por entre as espigas e estas não deteriorassem ou apodrecessem. No interior também eram pregadas tiras paralelas à base onde se penduravam as cambulhadas, ou seja o milho descascado. A armação destes estaleiros assentava em quatro ou seis pés, todos de alvenaria caiada e muito lisos a fim de evitar a subida dos ratos.

Havia outros estaleiros muito semelhantes a estes no tamanho mas em forma de cubo, assente em cima de quatro pés, semelhantes aos outros. Os cambulhões com casca eram pendurados nas quatro faces laterais, ficando abertas, para entrada do ar, a base e a parte superior. Estes estaleiros eram raros.

Outro tipo de estaleiros, mais simples e mais pequenos eram os formados apenas por quatro paus. Estes eram enfiados na terra, equidistantes uns dos outros mas de tal maneira inclinados que se juntavam na parte superior sendo então amarrados com um forte arame, formando uma espécie de pirâmide cujas faces também eram cravejadas de tiras paralelas, nas quais eram pendurados os cambulhões, quer com casca quer sem casca. A protecção contra os ratos obtinha-se através da colocação de umas folhas de lata no cimo dos pés. Estes estaleiros eram de construção esporádica e normalmente eram construídos quando o milho não cabia no estaleiro principal.

Finalmente e construídos pelas pessoas que tinham pouco milho, havia uns estaleiros muito mais simples e constituídos por quatro ou cinco paus paralelos uns aos outros e nos quais se pregavam as ripas, formando uma espécie de grade que se encostava geralmente às empenas das casas e onde se penduravam os cambulhões.

Pendurar o milho nos estaleiros era uma arte e exigia sabedoria e experiência. Os cambulhões começavam a pendurar-se de baixo para cima, umas maçarocas ficavam viradas para fora e outras para dentro, formando uma espécie de cobertura de telhado até chegar à trolha, ou seja, aresta oposta a base e que tinha que ser muito bem coberta, sendo para tal elaborados uns cambulhões maiores.


Carlos Fagundes

Este artigo foi (originalmente) publicado no «Pico da Vigia».

5 comentários:

Anónimo disse...

Nunca estivemos tão perto das sopas de pão de milho como estamos agora.
A geração à rasca, que hoje vai andar nas ruas a gritar, que se prepare.

A vida não é fácil. Exige sacrificios, abnegação, persistência e vontade de trabalhar e vencer.
Os açorianos da diáspora, sabem como ninguém.
Os nossos antepassados também sabiam. Ou julgam que a construção destas ilhas se fez com copos, pândegas, boa vida e boa comida?

Anónimo disse...

Sou do tempo em que saia da escola e começava-se a trabalhar e no duro para que nunca falta-se o pão de cada dia andei muitas vezes com os meus pés descalços á frente dos bois a lavrar terra e ganhar tres escudos de manhã até á noite e os pés chegavam a verter sangue mas no outro dia toca para a frente amarava-se um pano velho no pé não se podia perder o dia os trabalhos eram poucos e não havia subsidios para a lavoura mas ninguem passava fome todos trabalhava-mos e só se brincava era ao Domingo. Veio muitos Milhões de Euros para que Portugal fosse para a frente mas agora é preciso pagalos.

Razão tinha o «Farto de Mamões», que bem avisou que Portugal ia dar o berro! disse...

Ainda me lembro do Farto de Mamões andar aqui a avisar que Portugal estava nas «lonas», pois a chulança pública era demasiado.

Os mamões da politica, aqueles que se aproveitaram da maré cheia dos subsídios e dos empregos para amigos e familiares, do estarranço e na festança, foram aqui denunciados.

O Farto de Mamões,emigrante nos EUA, farto de tanta mama e pouca vergonha, voltou para a terra do Tio Sam e pôs a salvo os «escudos» que ainda aqui tinha, pois sabia que qualquer dia, a banca fecha para balanço...

Na verdade o Forum Ilha das Flores foi o 1º dos Açores a alertar para o desastre e a tragédia que aí vinha.

Mas muitos quiseram continuar a empaviar e queimar foguetes!

Agora, aguentem-se à parede, pois o «bicho vai pegar»!!!!

Anónimo disse...

nunca teve tão perto o sacho de sachar milho que estava a criar feruz no palheiro sair para a rua e voltar ao passado sopas de leite com pão de milho o que vale é que temos um professor aqui para incinar.

Anónimo disse...

sopas e leite comi muitos e ainda hoje em dia gosto de comer as minhas sopas de pão de milho e também muitas refeições passei com papas de farinha de milho e como eram tão boas elas vinham quentes do caldeirão e punha-se o leite frio por cima e ia-se comendo na borda do prato.e não quero esquecer aquele bolo de farinha de milho que minha mãe fazia em cima da chapa da lareira chama-se escaldadas era tanto bom comer com o leite em sopas.