Luís Maciel (CMLF): "República tem retirado poder vital aos municípios"
«Diário Insular»: É ou não possível manter no Plano e Orçamento do seu município para 2015 os montantes do ano anterior e porquê? E que fontes de financiamento crescem ou descem em montantes mais significativos e porquê?
O orçamento do Município de Lajes das Flores teve em 2014 um défice de 1,5 milhões de euros (cerca de 25%) e tem previsto para o ano de 2015 um défice na ordem dos 800 mil euros (cerca de 20%). A fonte de financiamento que mais varia tem a ver com as transferências do ProConvergência, que tem uma descida na ordem dos 2 milhões de euros, uma vez que no corrente ano foi efetuado um grande volume de pagamentos finais deste Quadro Comunitário que terminou em 2014. Resumindo, apesar de uma diminuição das receitas provenientes do ProConvergência, isso exige menos também das receitas próprias do orçamento municipal, ao deixar de exigir o pagamento dos 15% de responsabilidade da autarquia.
Quais os grandes investimentos de raiz municipal que estão previstos para o próximo ano e que razões os justificam?
Não estão previstos grandes investimentos no próximo ano devido à difícil situação financeira do Município. As receitas previstas são insuficientes para as despesas básicas de funcionamento e para o pagamento dos compromissos já assumidos, como referido na questão anterior. Foram definidas áreas muito criteriosas de investimento, nomeadamente no emprego, áreas sociais e apoio aos setores estratégicos de desenvolvimento económico do concelho.
Que estratégias tem a sua autarquia desenvolvido para fazer face aos problemas gerais de financiamento do poder local provocados pela crise e a eventuais problemas que sejam específicos do seu concelho?
Tendo em conta o desequilíbrio das contas que se tem verificado, que teve como consequência a retenção de verbas do Fundo de Equilíbrio Financeiro dos municípios, devido ao excesso de endividamento, o Município das Lajes tem vindo a efetuar um esforço de redução da despesa e maximização de receita de forma a diminuir o excesso de endividamento. Neste sentido a despesa de investimento foi reduzida ao mínimo, bem como o Município procurou alienar algum património não considerado essencial ao regular funcionamento da autarquia, para aumentar a receita.
Concorda ou não com a regionalização da tutela do poder local açoriano, tendo por objetivo, entre outros, harmonizar as áreas de intervenção com o poder regional autónomo?
A procura de modelos de organização política que aproximem os centros de decisão dos cidadãos através de uma descentralização política e administrativa traz normalmente vantagens aos cidadãos, desde que essa descentralização seja acompanhada das respetivas transferências de meios financeiros e de autonomia política e administrativa. Infelizmente temos tido uma evolução negativa nos últimos anos, em que o Governo da República tem vindo a retirar autonomia política e administrativa às autarquias e a reduzir as transferências financeiras, o que tem vindo a diminuir a capacidade de resposta das autarquias aos cidadãos em áreas essenciais como o emprego, o apoio social ou o apoio à economia local.
Entrevista de Luís Maciel (presidente da Câmara Municipal das Lajes) ao jornal «Diário Insular» (edição de 14 de Novembro).
Saudações florentinas!!