«Brumas e Escarpas» #57
O Jogo do Lenço
Um dos jogos colectivos mais praticados pela criançada, na Fajã Grande nos anos 1950, era o Jogo do Lenço. No entanto, uma vez que exigia um bom número de participantes - cerca de uma dúzia – este jogo era realizado geralmente nas festas, sobretudo por altura das do Espírito Santo, neste caso não apenas no dia da festa mas também durante a semana que a antecedia, antes e depois do cantar das “Alvoradas” e da “Folia”, e até nos domingos que mediavam entre a Páscoa e o Pentecostes, enquanto se aguardava o acompanhamento da coroa do Espírito Santo, que durante todos esses domingos era levada em cortejo solene para a igreja paroquial na hora da missa. No entanto, sempre que houvesse disponível um espaço amplo e, sobretudo, se a garotada disponível perfizesse o número de jogadores exigível, o jogo do lenço imperava.
Para além do espaço, o único material necessário era apenas um simples lenço de mão, que, preferencialmente, estivesse limpo, ao qual era dado um nó, para que este assentasse no chão, no lugar pretendido, quando fosse atirado pelo jogador que o transportava. Todos os jogadores, excepto um, formavam uma grande roda, dando as mãos uns aos outros, com o rosto obrigatoriamente voltado para o interior do círculo. O jogador que ficava de fora, que não fazia parte da roda, pegava no lenço e correndo por fora da roda, circulava ao redor mesma, numa marcha acelerada. Quando bem quisesse e entendesse, deixava cair o lenço atrás de um dos jogadores, por ele escolhido, e que fazia parte da roda. Havia, no entanto, que ter em conta uma importante estratégia, a fim de que o objectivo do jogo fosse mais eficientemente atingido: convinha que o lenço fosse deixado cair atrás daquele jogador que lhe parecesse estar mais distraído. É que assim, eventualmente, conseguiria alongar o tempo entre o cair do lenço e o conhecimento desse facto por parte do jogador em causa. Os outros não o podiam avisar de que o lenço estava caído atrás dele. Quando este jogador, atrás de quem era deixado o lenço, se apercebia de tal facto, então largava as mãos dos vizinhos, abandonava a roda e corria atrás do jogador que lhe deixara o lenço, até o apanhar. Se o conseguisse, entregava-lhe o lenço, sendo o jogador apanhado obrigado a continuar a sua tarefa, enquanto o outro, triunfante, regressava ao seu lugar na roda. Caso contrário, isto é se o jogador demorasse na apanha do lenço ou não corresse o suficiente para atingir o objectivo do jogo – agarrar o que lhe deitara o lenço - este jogador iria ocupar o seu lugar na roda, enquanto ele, o derrotado, ficava como que condenado a um suplício ou castigo, isto é, teria que ser ele, agora, a circular ao redor da roda, a deixar cair o lenço atrás de quem quisesse e corresse até não ser apanhado por um terceiro, quarto ou outro jogador, atrás de quem ia deixando cair o lenço.
Ufanavam-se de vitória, aqueles jogadores que ao terminar o jogo não tinham sido “obrigados” a circular ao redor da roda com o lenço, pois sempre que o lenço lhe tivesse sido colocado atrás apanhavam todos os que ali os haviam deixado.
Carlos Fagundes
Este artigo foi (originalmente) publicado no «Pico da Vigia».
3 comentários:
Hoje a muidagem só não joga este jogo porque os lenços são de papel...
Anónimo da (muidagem)--te daria mais certo,nada rabiscares
do que escrever tal asneira.
Oh minha nossa!..
No meu tempo de criança tb cheguei a fazer esse jogo e muitos mais.
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