Lajes das Flores, bonita vila costeira e piscatória, é sede do concelho com o mesmo nome, um dos dois constituídos na ilha das Flores. Com uma área de 18,45 quilómetros quadrados, estende-se ao longo da ponta sul do concelho e da ilha, e engloba os lugares e sítios de Jogo da Bola, Monte, Morros, Outeiro Negro, Pátio Grande, Ribeira Seca e Vila de Baixo.
A primeira iniciativa de povoamento da ilha das Flores é atribuída por alguns ao flamengo Wilhelm e por outros a Guilherme da Silveira, mas o certo é que o entusiasmo inicial desse primeiro colonizador foi refreado pelo isolamento da região e pela relativa pobreza do solo. Outros povoadores se seguiram, no entanto mais persistentes e, em 1510, já Lajes das Flores constituía uma significativa povoação. O seu desenvolvimento, beneficiado pelo pequeno porto natural, que oferecia excelentes condições de atracagem às embarcações, justificou, cinco anos mais tarde, a sua elevação à categoria de vila.
Pouco tempo depois era instituída a segunda vila florentina, Santa Cruz, e a rivalidade instalava-se entre as duas sedes concelhias, mas o facto de se situarem numa pequena ilha, longe dos interesses de Portugal Continental, truncou-lhes o crescimento durante vários séculos.
Em 1869, o governador Santa Rita opinava que a ilha das Flores "não comporta a existência de dois municípios" e que no caso da ilha do Corvo "uma administração paroquial é quanto basta àqueles povos", uma vez que este concelho "na actualidade, em vez de lhe ser benéfico, é um pesado encargo de que ardentemente deseja ver-se libertada".
Relativamente à ilha das Flores, cujos concelhos "já actualmente se acham anexados para serem regidos pelo administrador do concelho de Santa Cruz, e bem assim para o serviço da Fazenda e Judicial", o governador Santa Rita nota ainda que a extinção do concelho de Lajes das Flores "encontra uma forte repugnância nos habitantes da vila, sua sede", mas sublinha também que "na divisão territorial decretada em 1867, as duas ilhas ocidentais ficavam constituindo um só concelho, e é muito natural que esta seja a sua sorte futura".
De facto, a situação vaticinada por Santa Rita realizou-se em 1895 pelo decreto que suprimiu, entre outros, os concelhos de Lajes das Flores e do Corvo. Esta decisão foi influenciada pelo pedido que a Câmara Municipal de Santa Cruz, na época sob a tutela de membros do partido regenerador, dirigiu ao Governo, visando a supressão do seu concelho vizinho.
Pouco depois, o poder na capital mudou de mãos e a 13 de Janeiro de 1898 foram restaurados os concelhos anteriormente destituídos.
Em sessão de 17 de Março do mesmo ano, a Câmara Municipal das Lajes exarou um voto de louvor ao Ministro do Reino, pela restauração do seu município, "cuja autonomia era reclamada pelos povos em geral de todo o concelho", e deliberou "que o largo desta vila chamado Largo do Município passasse a ser chamado Largo do conselheiro José Luciano de Castro".
Lajes registou, finalmente, um avanço notório a partir de meados do século XX, graças à edificação de algumas infraestruturas de grande porte, como o porto comercial, há muito reivindicado.
Devido à sua localização geográfica, a freguesia das Lajes desempenhou um papel fundamental na orientação dos navios que demandavam os Açores, por isso se lê na Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira o seguinte: "na ponta das Lajes, na costa sul da ilha das Flores, tem um farol, com alcance de vinte e nove milhas e visibilidade de 234º a 83º, por oeste e norte, respectivamente. Nesse farol encontra-se instalada a Estação Rádio Naval das Lajes, que é, conjuntamente, o posto 035 da rede dos Serviços Metereológicos da Marinha. Destina-se essa estação à assistência em telefonia aos navios bacalhoeiros durante a sua campanha, transmitindo-lhes as previsões do tempo que lhe são fornecidas pela Estação Radiometereológica da Marinha no Atlântico, de que está dependente. Funcionando como rádio-farol para a navegação marítima durante os nevoeiros, e para a navegação aérea sempre que esta entra dentro do seu alcance presta-lhes assistência radiotelegráfica durante todos os voos e envia-lhe indicações do tempo local sempre que lhe são solicitados". Depois de estar ao serviço durante mais de quarenta anos, deixou de funcionar ao mesmo tempo que a Base francesa de telemedidas, em Santa Cruz.
Naturalmente, nos tempos que correm, a actividade quotidiana da ilha das Flores ainda gira em torno das rivalidades entre Lajes e Santa Cruz, entre o porto de uma e o aeroporto de outra.
Inicialmente, a povoação de Lajes das Flores estendia-se da Ribeira da Silva à Fajã Grande e englobava os lugares de Nossa Senhora dos Remédios das Fajãs (independente em 1676), Lajedo, Caldeira, Mosteiro, Fajãzinha, Fajã Grande e Fazenda (desanexada apenas em 1919).
Na freguesia das Lajes existiu em tempos um forte, denominado de Santo António, que defendeu com bravura toda a ilha das Flores dos ataques de dois navios americanos no ano de 1770.
Lajes das Flores gere a responsabilidade de ser sede do segundo menos povoado concelho português (a seguir ao Corvo), mesmo que neste início de século se apresente na firme disposição de garantir um lugar entre as localidades mais desenvolvidas do país. Situada no extremo ocidental da Europa, a vila das Lajes é, mais do que nunca, o primeiro baluarte do Velho Mundo a receber quem chega do vizinho Novo Mundo.
Pelo seu desenvolvimento harmonioso, pelo seu equilíbrio natural e humano, pelo verde mais puro e pelo mar mais azul, esta região é bem um exemplo do paraíso e da eterna utopia que devia ser a Terra, para todos os homens de boa vontade.
Notícia: "sítio" da Câmara Municipal de Lajes das Flores.
Saudações florentinas!!