segunda-feira, 29 de setembro de 2008

«Preto no Branco» #19

Postais das Lajes

Mesmo para quem tenha por hábito tirar fotografias, desde que seja um observador razoável, há imagens que se gravam na memória e são difíceis de apagar. Isto aplica-se superlativamente em relação às Flores, sobretudo para aqueles estreantes que se deparam com a imponência brutal da natureza da ilha.

Sem se retirar uma nesga à metamorfose da contemplação, exercício telúrico absoluto - ainda que repetido mil vezes - será pacífico admitir-se que alguns, em especial os próprios florentinos, ou outros que visitem a ilha com mais regularidade, reservem uma parte do seu olhar comparativo para outros aspectos que não exclusivamente naturais, mas também para a “mão do Homem” em diversas das suas intervenções.

Pois bem. A entrada principal na Vila das Lajes mete medo. Quem passa a zona da “Loran” depara-se na maior parte do troço (Estrada Padre Luís Pimentel Gomes), até à Ponte de Santo António, com barrocas em basalto dinamitado, tal qual ficaram após a estrada ter sido concluída. Aqueles taludes parecem uma versão mini daqueles desfiladeiros que vemos em telas de westerns de fraca categoria.

Depois, ao chegarmos à ponte, o cenário espanta qualquer um! Do lado esquerdo, as traseiras, em mau estado de conservação, de uma casa antiga, com anexos mirabolantes em desalinho, estes mais recentes, e uma garagem escarrapachada. Do lado direito, uma paragem/abrigo de passageiros que mais parece um paiol e, “em adiantada fase de construção”, nos terrenos adjacentes ao Passal, ergue-se uma casa funerária, cuja assinatura deve ser de arquitecto precursor dalguma suposta linha “new shock”!

Mais ao fundo (sem que o ângulo vá até ao mictório, quase em frente à Matriz) temos (à direita do posto de transformação da EDA - que nunca mais sai dali), fiel ao jardim, a velha tabuleta, com os dizeres em várias línguas - “Lajes das Flores, Bem-Vindo”. Não deixa de ter a sua graça, pelo lado pitoresco da coisa.

Não obstante ser a segunda da ilha, a Vila das Lajes é também porta de entrada nas Flores, através do porto comercial. Aqui, poderia dizer-se, apropriadamente, que “Há Lodo no Cais”. A iluminação continua provisória. O caos na (des)arrumação e o lixo acumulados na zona comercial e de pescas configuram um cenário de desleixo, próprio das “terras de ninguém”, o barracão (construído junto ao antigo varadouro), ninguém percebe para que serve, a muralha está por pintar, a zona entre a estrada e as instalações da Lota está ocupada por pré-fabricados e ervas daninhas, a “Calheta” continua a ser a “praia” mais sui generis dos Açores, e quanto ao casario, escarpa fora, na “Vila de Baixo” - bem se vê que ali não há qualquer preocupação de ordenamento urbano (um plano de pormenor). Enfim... talvez o facto de serem várias as entidades com tutela sobre o local dificulte a articulação das medidas que se impõem. Mas, que diabo! Não pode ao menos haver limpeza e asseio?

É que, assim, não há porto de recreio que valha ou sequer enfeite tais desfigurações, precisamente num local que tinha obrigação de estar um autêntico primor, que desse gosto ver.

Lemos e ouvimos muito falar-se em bairrismo - a ele já aqui nos referimos em crónica anterior. Pois se houvesse um pingo de bairrismo, do sadio, aquele que faz falta, talvez nenhum destes dois “postais das Lajes” tivesse que ser retratado desta forma, Preto no Branco.

Ricardo Alves Gomes

23 comentários:

Anónimo disse...

Talvez, talvez um pingo de bairrismo sadio as coisas fossem diferentes, talvez responsabilidade da parte de todos,digo TODOS ou seja, se os responsáveis superiores andam ocupados com outras coisas e a dormir com as mais simples então terão de ser os funcionários, aqueles que farão o trabalho no terreno, a chamar a atenção dos que dormem, senão dormem todos. Não é assim? Porque já sabemos que os superiores andam sempre superiormente ocupados... Mas não devemos ter medo de lhes dizer as verdades na cara, quem tem medo são sempre eles, eles é que têm muito em jogo!

Anónimo disse...

ó Ricardo esqueceste de dizer que este é o porto mais desarrumado dos Açores, ve-se atarvés do climat um contentor aqui outro ali outro aqua, não seria possivel como se vê em S. Jorge tude no mesmo lado ou até na Graciosa tude bem arrumadinho que até dá gosto ver . Será que no Porto das Lajes das Flores não haverá tempo de por tude em ordem e de maneira que as centenas para não dizer milhares de pessoas que através do climat veem este porto e digam vale a pena olhar para o Porto das Lajes das Flores está como nas outras Ilhas tude bem arrumado.

Anónimo disse...

Bom texto Ricardo. Parabens!

Anónimo disse...

Muito bem. Um sério alerta para uma realidade latente que teimam em descurar.

Anónimo disse...

se a pessoa que está à frente deste serviço e que veja que não tem competencia para por este porto como deve ser peça admição antes que seja dimitido. da maneira que andam estes contentores parece um barco sem rumo.

Anónimo disse...

Se não houvesse tantos mamões em Santa Cruz, as Lajes podia ser uma cidade...

Até já tenho um nome: Lajes City.

Anónimo disse...

deve ser um engenhoca da Apto...

João Manuel Cordeiro

Anónimo disse...

a tinta da muralha não prestava
então porque ela foi pintada com tinta triunfante este verão

Anónimo disse...

Não ligo a aldeias nem vilórias.
Vivo em Santa Cruz, uma grande metróplole.

Dai-nos Nosso Senhor juizo até à hora da morte, já dizia minha avó.

Anónimo disse...

não ligo aldeias com um aeroporto e dois corrais, vivo nas Lajes a Capital da ilha das Flores.

Anónimo disse...

Eu hoje dou a razão a meu Pai em que dizia quem não sabe mandar dei o lugar a quem sabe.

Anónimo disse...

grande comentário sr.ricardo.
Eu como residente da vila das Lajes deparo-me diariamente com situações infelizes,diga-se de passagem.
O municipio e as entidades preocupam-se com fazer morques,lar de idosos,etc etc etc, mas ninguém se preocupa minimamente com o desporto, com actividades,etc.
Temos um pavilhão em construção e um clube naval!!!Todos se queixam que não há nada para fazer, mas no entanto as pessoas em geral só se preocupam em dizer que a juventude está perdida e que só quer fazer "fumos",mas niguém,repito,ninguém se preocupa em ajudar a melhorar esta situação!!!Eu como jovem que sou vejo isso diariamente e tenho pena que a cada dia que passa, a nossa população não dar valor ao pouco que temos nesta ilha!!!
Façam um favor a todas as pessoas,abram os olhos e tentem ajudar numa mudança profunda neste aspecto importantissimo para todos e em especial os jovens...O DESPORTO!

Anónimo disse...

e volta o velho ditado da escola primária " lajes parece uma garagem "

Anónimo disse...

Será que é desta vez que a Estalações Electricas deste Porto Comercial ficará com o assunto resolvido. Será que é desta vez que o lixo que paira sobre este Porto Comercial vai desaparecer e nunca mais volta acontecer. Será que é desta vez que se vê estes contentores todos bem arrumadinhos e não espalhados e que nunca mais volte acontecer. Espero bem que sim! E assim temos uma Ilha das Flores Limpa já que a Vila das Lajes é um espelho na limpeza que até dá gosto ver. Dizia-me um amigo de vizita á Lajes a seguinte frase.Fiquei encantado de ver a tua Vila tanto limpa e tive o prazer de ver uma senhora com um aspirador e até as pequenas ervas que apareciam nas paredes a senhora arrencava.

Anónimo disse...

as lajes não tem nada para limpar
não tem ninguem

Anónimo disse...

as lajes não tem nada para limpar ...pois não! a capital das flores e futura cidade lajes city anda sempre limpa e viva o presidente da camara que gosta de ver tudo nos conformes.

Anónimo disse...

Exmo Sr Dr Ricardo, desculpe-me a ignorância, mas andei a pesquisar na internet e não encontrei a definição para arquitectura "new shock". Poderá V. Exª esclarecer-me sobre o assunto?
Agradeço antecipadamente.
Um lajense desatento e inculto.

Anónimo disse...

são palavras caras.

Anónimo disse...

Vou fazer-lhe o gosto:

Senhor (In)Culto,

(In-culto só se fôr na inauguração da casa mortuária das Lajes, quero acreditar na sua piedade e prática de muitas obras de misericórdia).

V.Exa.,
Poderá não ser culto, altamente.
Desatento não será, evidentemente.
Será um "esperto", certamente.
Porque um tolo não escreve assim.

Diz que procurou e não encontrou. Se aperfeiçoar a sua pesquisa até talvez encontre qualquer coisita.

A começar pelo uso de expressões, entre aspas, que mais não visam do que caricaturar a realidade, numa crítica que toda a gente entende.

Depois, indo às correntes da arquitectura, poderá até encontrar algo que o ajude, caso queira tomar a expressão à letra.

Por fim, ainda que não encontre o que procura, a esperança mantém-se.
É que a "The International Union of Arquitects" tem congressos marcados para 2011 em Tóquio, e 2014 em Durban - África do Sul. Pode ser que o arquitecto da casa mortuária das Lajes faça lá uma comunicação, anunciando a onda "new shock", ilustrada, precisamente, com a fachada do edifício, magnificamente plantado à entrada da Vila e desenhado para marcar de forma ostensiva a história moderna, tempos em que a exuberância e o requinte dos contornos conduzem à solução encontrada em "Lajes Town".

Se depois de tudo isto continuar intrigado e sem perceber, permito-me recomendar-lhe o seguinte:

Imagine que Vossa Senhoria era arquitecto (se não o é) e buscava alcançar concepção para obra inédita. Pensava, pensava, pensava... como estava ali só a rasgar papel, decidia-se mas era pelo repasto.

Então, como bom garfo e melhor copo (se o é) "enfardava" umas pratalhadas de dobrada com feijão, duas garrafinhas de vinho tinto, e dois marmelos assados, mais uns cálices de Porto, para rematar.

Voltava ao ateliêr, agora mais disposto à tarefa, e decidia que o seu processo criativo havia ser guiado pela equação; (X=Y+Z) ou seja, "o produto é igual à consequência da causa".

Então nesse momento, quando sentisse a dor, esguichava o resultado na planta da obra.

E como não fora a primeira vez, exclamava - "new shock"!

Qualquer desatatento e inculto percebe isto, para mais V.Exa., que é muito atento e um bocadinho culto também perceberá.
Óh, e se percebe... pois é de caras!

Acha que está bom assim, ou quer levar mais "bailarico"?
E aproveite tudo bem.

Cordiais Saudações Fazendenses!

Anónimo disse...

Dr. Ricardo Gomes, sabe qual é o seu principal problema, é estar atento, é que estar atento hoje em dia causa controvérsia e fere muitas susceptibilidades, fere aqueles que entendem onde se quer chegar, pois sendo muitas vezes responsáveis directos dos factos, pretendem ser muitas vezes intocavéis, depois fere aqueles que não entendem nada de nada, aquelas almas que infelizmente (talvez por fraqueza de espírito) mas que se guiam pelos olhos (digo mão) dos primeiros.
Logo é de esperar que venham cá parar todo o tipo de comentários, dos incomodados e dos não incomodados, dos que tecem considerações dignas de proveito que só nos engrandecem com a sua visão, mas também dos que presunçosos, absurdos e ridículos, ou preferem falar da vida privada de quem está atento e não tem medo de assinar em baixo, o que nunca trás nada de proveitoso á conversa e normalmente vem de quem tem telhados de vidro, ou então estão preocupados (no seu caso) com a sua vida politica ou a sua promoção pessoal.
Como a sua vida privada a mim não me interessa nem me diz direito, como a sua vida politica não me incomoda, nem a sua promoção pessoal, ainda lhe digo que se algum dia for candidato ou não a algum cargo politico, nessa altura certamente haverá tempo e lugar ao debate do facto, logo o que me trouxe aqui foi simplesmente dizer lhe que ainda bem que continua a “enfrentar” e a responder a comentários de forma prazenteira e bem humorada como acima escreve e mais importante ainda, assina.
Seja como for continue "atento", pois são poucos os "atentos" para combater as “sujidades” nesta terra.

Anónimo disse...

Ó pessoal, nãn se iskessaõ quw o Sr Dr, sua digressão pás américas andou a estudar inrkitetura com o Arq. Frank Owen Gehry
já me tinhão dite... na fermácia.
Óméssa!

Anónimo disse...

e eu não digo é só palavras caras e até com o meu fraco estudo tem algumas de 10mil escudos que tenho que ir ao dicionário. porque é que não utilizam palavras mais baratas para que todos percebam.

Anónimo disse...

Preocupações porquê? Sabem que camra das lagjes ja te veterinario(a)?! Quem no sabe vá perguntando quem é?!