«O pós-crise: reorganização do xadrez mundial», a opinião de Tércio Alves
Os Governos serão obrigados a ter um papel mais interventivo na economia por forma a evitar os excessos do capitalismo selvagem que levaram a esta crise, defende [o jovem florentino] Tércio Alves.
A economia mundial tem sido dominada nas últimas décadas pelos países desenvolvidos, principalmente pela tríade União Europeia, Estados Unidos da América (EUA) e Japão. Grande parte do poder desta tríade, manifesta-se não através dos Estados-nação, mas através da influência das suas multinacionais. Estas [empresas] são responsáveis por inúmeros postos de trabalho em vários países e o seu volume de negócios por vezes é superior ao PIB de alguns países. Por exemplo, a General Motors e a ExxonMobil, multinacionais com sede nos EUA, têm um volume de negócios superior ao PIB da Dinamarca e da Áustria, respectivamente.
Os Estados privatizaram alguns sectores-chave da economia, como a energia e a banca, intervindo o mínimo possível na economia. Quando existem problemas financeiros severos, como os decorrentes da actual crise, os Estados-nação (com o dinheiro dos contribuintes) vêem-se forçados a intervir. Recordemos a intervenção dos EUA na AIG ou de Portugal no BPN.
No contexto económico actual, os países da tríade crescem muito lentamente ou estão em recessão. Por outro lado, países populosos como a China, Índia e Brasil têm ritmos de crescimento mais rápidos. Estes são os principais países emergentes, que no futuro poderão substituir a tríade actual no comando da economia mundial. Este processo poderá ser acelerado, com a deslocação das sedes das grandes multinacionais para esses países, alterando relações de poder entre Estados. O desenvolvimento económico dos países emergentes é feito à custa da degradação ambiental, pobreza, sobreexploração de combustíveis fósseis e outros recursos naturais.
No pós-crise, os países da tríade poderão ver o seu domínio na economia passar para os países emergentes. Estes países têm registado um crescimento económico mais acelerado, cimentando uma maior influência na economia. Uma prova de força dos países emergentes foi dada na cerimónia de abertura dos Jogos Olímpicos de Pequim. Tal como os Jogos [Olímpicos] de Berlim são recordados como afirmação da Alemanha nazi, a cerimónia de abertura dos Jogos Olímpicos de Pequim poderá ser lembrada como a afirmação definitiva da China como potência económica e mundial.
Para evitar os excessos do capitalismo selvagem que levaram a esta crise, os Governos no futuro, provavelmente terão um papel mais interventivo na economia, voltando a nacionalizar alguns sectores-chave da economia como, por exemplo, a banca ou a energia.
Os problemas do mundo actual são comuns a todos nós, devendo, por isso, todos os países, no seio da ONU, actuar em conjunto, para resolver os graves problemas sociais, ambientais, económicos que a humanidade enfrenta. Actuando em conjunto consegue-se uma maior eficiência na resolução dos problemas.
Tércio Alves
O presente artigo de opinião de Tércio Alves (de 18 anos, natural da ilha das Flores) foi parte integrante da edição de 27 de Março do semanário regional «Expresso das Nove». Nesse número do semanário açoriano foi realizada uma pergunta "Que Mundo teremos depois desta crise?" a nove jovens, um de cada ilha dos Açores, tod@s com menos de 21 anos. Teve a palavra o futuro. Essa foi a edição especial do 19º aniversário do «Expresso das Nove».
Saudações florentinas!!
1 comentário:
Estive ausente da ilha pelo que não tive oportunidade de comentar alguns posts.
Dos últimos posts publicados, este post do jovem Tércio Alves chamou-me a atenção e congratulo-me com a temática abordada, o que não é muito comum neste blogue insular.
O tema é muito actual e a análise efectuada está em linha com a opinão generalizada que circula com alguma bondade nos meios de comunicação.
A actual crise do capitalismo, ou melhor, a crise de uma das suas ramificações, o neo-liberalismo, foi motivada por um crescimento desenfreado e desregulado dalguns mercados financeiros globais e globalizantes, e arrastou consigo a chamada "economia real", ou seja os sectores da produção, dos serviços e do comércio.
As causas são variadas, mas há duas que se tornaram incontornáveis: a ganância dos banqueiros,gestores e accionistas e em no lado oposto a total ausência ou permissividade da regulação (bancos centrais e polícias da bolsa).
Portanto, a crise não é a crise do capitalismo, mas sim uma crise do modelo praticado onde o Estado falhou em toda a linha, e pior do que tudo, empurrou os consumidores, os contribuintes ou os simples cidadãos para a boca desses predadores financeiros.
Uma coisa fica claro nesta crise: os Estados foram - e sem desculpabilizar os desvios criminosos da alta finança - os grandes culpados e carrascos do sistema.
Em vez de regular eficazmente o mercado e defender os consumidores/contribuintes dos predadores, optou por neglicenciar as suas funções específicas de soberania e foi intervir em vários dominios económicos, sociais e até da vida privada dos cidadãos.
A promiscuidade entre a alta finança e a os detentores do poder politico está a provocar uma crise global e que vai deixar sequelas durante a próxima década.
Basta olhar para os escândalos nacionais ligados à banca e à regulação (ou falta dela!) para constatarmos que também este modelo de Estado falhou completamente.
Depois da poeira desta crise assentar impõe-se que as funções do Estado circunscrevam-se básicamente às suas naturais funções de soberania e adicionalmente às funções de regulação da economia e da sociedade.
Toda a intervenção que extravasa estes limites é supérflua e contraproducedente.
Actualmente em Portugal , e a pretexto da crise, o Estado quer intervir em tudo e mais alguma coisa, e o resultado a médio/longo prazo será catastrófico.
Em resumo: menos Estado, mais Liberdade!
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