«A ocidental beleza açoriana» (4/4)
Considerações sobre alguns aspectos culturais
Os portugueses no início de quatrocentos trouxeram para as ilhas o grão de trigo, o baraço da vinha e a matriz cultural europeia. Desses primeiros tempos ficaram bem vincados na paisagem natural os testemunhos da arquitectura religiosa e civil que, pese embora a protecção legal que abrange os mais significativos, não os põe completamente a salvo de intervenções intempestivas enquanto os não classificados estão entregues à sua sorte. É urgentíssimo travar as obras arquitectónicas sem qualidade que estão a proliferar em demasiados locais. Edifícios com dimensões mastodônticas e formas bizarras, descontextualizados da escala envolvente, degradam de forma irremediável a paisagem que é o nosso maior recurso.
Estão em risco de desaparecer uma série de conhecimentos ligados a profissões que caíram em desuso por efeitos do avanço tecnológico. Estes saberes e uma série de crenças que se situam no âmbito do património imaterial, pela relevância que assumiram na vida das gentes, merecem uma atenção especial. A preservação e estudo destes ensinamentos assume grande importância e pode representar uma valorização futura no desenvolvimento turístico.
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Remontam ao início da ocupação humana as festas em honra do santo padroeiro e do Divino Espírito Santo. As últimas ainda contam com uma assinalável pujança e mantêm características próprias que as distinguem das festas estritamente religiosas. Esta diferenciação resultante de um compromisso entre o religioso e o profano, a par de valores propostos como a igualdade e a fraternidade, conferem-lhe um cunho importante de tradição baseada em valores de grande actualidade. Uma parte relevante do testemunho cultural do passado está marcada pela influência da Igreja que exercia um domínio assinalável na sociedade até meados do séc. XX. Fora da sua tutela, no entanto, desenvolveu-se a música que animava os serões das festas do Espírito Santo e da apanha dos milhos. Durante as últimas décadas do século passado a tradição caiu em desuso e refugiou-se nos grupos folclóricos. Dos vários que existiram subsistem a Tuna da Casa do Povo da Fajã Grande e a Associação Cultural Lajense. A última com um trabalho meritório na recolha musical e da indumentária. As primeiras décadas de novecentos conheceram uma expansão assinalável das filarmónicas cuja acção de algumas extravasava o domínio musical porque serviram de apoio a pequenos grupos de teatro. À sua volta gerou-se uma interessante dinâmica social e cultural, constituindo-se a par da escola como pólos irradiadores de cultura nos locais em que estavam sedeadas. Mantêm-se em actividade a União Operária Nossa Senhora dos Remédios e o Grupo Cénico A Jangada.
Estes agentes culturais precisam de condições para exercerem a sua missão. Nesse aspecto as coisas têm melhorado de forma significativa pois a Direcção Regional da Cultura tem um programa de incentivos financeiros dirigidos à aquisição de materiais e instrumentos musicais, construção de sedes e formação nas áreas específicas que muito facilita a vida destas colectividades. Continua a faltar uma sala polivalente adequadamente equipada e confortável para receber o público. As artes do palco não têm um espaço condigno para se exibirem.
A Direcção Regional da Cultura, através do Museu das Flores, tem desenvolvido uma estratégia cultural assente em dois grandes eixos: a promoção de eventos culturais de qualidade e a formação de públicos. Recorde-se que já expuseram no Museu das Flores os pintores Carlos Carreiro e Eduardo Nery, o fotógrafo José Guedes da Silva, cantou o barítono florentino a residir no Porto José Gomes Corvelo e no presente ano haverá um concerto de acordeão com músicos premiados internacionalmente. No domínio da formação de públicos há um enorme esforço concentrado no serviço educativo que tem proporcionado um atelier mensal dirigido às crianças e que versa temas abordados nas exposições ou baseia-se nas colecções do museu. Para os adultos foram realizados dois cursos de iniciação à pintura sobre tela e outro de iniciação à fotografia conduzido por Guedes da Silva.
Perspectiva-se, a breve trecho, um forte investimento que vai dotar as Flores de infra-estruturas culturais de grande qualidade. A Biblioteca Municipal já foi inaugurada, o Convento de São Boaventura vai sofrer obras de requalificação para instalar a exposição de longa duração e a Fábrica da Baleia será musealizada. Vai abrir ao público o Centro de Interpretação Ambiental que dará a conhecer aspectos da fauna e flora do nosso litoral.
Continuamos com um problema por resolver: as dinâmicas culturais requerem massa crítica e a nossa população sofreu uma sangria violenta na segunda metade do século XX, ao ficar reduzida a metade por força da emigração. Hoje, devemos andar pelos quatro milhares de pessoas espalhadas por localidades pequenas e dispersas. É pouca gente para criar movimentos culturais de alguma importância.
Devemos ter uma estratégia concertada entre todos os poderes públicos e os vários promotores de cultura baseada na preservação dos testemunhos do passado cultural e ambiental, atenta aos valores estéticos da contemporaneidade, sem atropelos mútuos, que aposte na formação de públicos nas áreas cultural e ambiental e promova o aparecimento de espaços adequados ao exercício e à fruição culturais. A cultura e o ambiente serão factores determinantes no desenvolvimento sustentado da nossa ilha neste início de milénio. Acreditamos que todo este esforço de formação contribuirá a prazo para termos um público melhor formado, mais conhecedor e exigente, composto por ilhéus de visão universalista.
Luís Filipe Nóia Gomes Vieira
Licenciado em História
Artigo de opinião de Luís Filipe Gomes Vieira, integrante da edição de 27 de Março do semanário regional «Expresso das Nove», contendo um caderno temático especial exclusivamente sobre a ilha das Flores.
Saudações florentinas!!
9 comentários:
Quero...Gritar bem Alto ao Mundo!!! Para quando o inicio da Marina e o Centro de Saúde nas Lajes. Jose Antonio.
Caro José António,
Em relação à marina começou os trablhos de estaleiro e coisas do genero como montagem de gruas etc.
No que diz respeito ao centro de Saúde nas Lajes não sei de nada.
vais ter tempo de ver
Centro Saúde nas Lajes?isso era bom demais pa ser verdade.Já foi proposto ou aprovado na assembleia regional?
Glória Fortuna,Canadá
a marina acredito que seja iniciada em breve agora o centro de saúde das Lajes primeiro as galinhas vão criar dentes,não é para desfazer nada mas nem nas Lajes tem enfermeiro a tempo inteiro é só a certas horas na casa do Povo e algum domicílio de tarde as Lajes não pode adoecer quanto mais ter centro de saúde
As lajes está como no tempo do salazar, quando alguem adoeçe acaba por morrer na viagem das lajes para santa cruz. faz lembrar os anos 60 em que eu era canalha lembrei-me de ir tomar banho nas poças quente de sachar milho e apanhei uma grande gripe e graças a um mEdico que estava na rádio naval é que me salvou a vida e até parece-me que foi o único da marinha que esteve em serviço aqui nas lajes, eu hoje se o vi-se até lhe beijava as mãos.
Noticia de ultima hora para mim. Sube à bocado que já começou os trabalhos da piscina aquecida nas Lajes das Flores ao lado do pavilhão. A minha vila está de parabéns. José Antonio.
Olhe meu amigo,a piscina não será mau mas tratar da saúde em primeiro lugar seria melhor,não quero desdanhar mas isso é a verdade,as Lajes além do enfermeiro como foi dito no comentário das 22.43 tem apenas médicos de vez em quando talvez uma vez por mes cada médico os utentes dificilmente conseguem consulta,é uma tristeza tudo nas Lajes parece país de terceiro mundo.
Amigo. Eu no inicio usei o tema ,Quero ...Gritar bem alto. E estou fora da Ilha. Agora voces tem que pedir ao governo para que seja feito um Centro de Saude que à muitos anos faz falta na nossa Vila das Lajes das Flores. Também vos posso dizer que voto ps na ilha onde estou mas é sempre a pensar nas obras que o governo está a fazer na nossa Vila. Mas acredito que dentro de pouco tempo o governo tome uma decisão referente ao Centro de Saude já que somos o ùnico concelho nos Açores que não tem. José António
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