«Miscelânea da Saudade» #5
Em termos de escola primária (que foi a minha, e mais nenhuma), trazer à baila desvantagens da ética docente, tempo com limite de aprender e ensinar, que mais não seja, serve para apreciarmos o contraste que existe na evolução e luz do presente, contra a morosidade e sombra do passado. Enquanto digo limite, é porque na ilha das Flores, para os filhos das famílias mais pobres, já seria "mel sobre a queijada" (ice-cream on your cake) chegar à 4ª classe, mesmo a ter por "uniforme escolar" calcinha curta remendada, e por sapato, a sola do pé. Falar sobre isso, toca bem fundo nos mais idosos, deixando os mais novos a pensar se estamos a pôr mais tinta na tela...
Se eu hoje fosse às Flores, como há anos, seria uma certeza rodear-me de anciãos, grupo de gente da minha idade, onde haveria muito em comum para se compartilhar. Quando estive nas Lajes, pelo menos da segunda vez, não foi difícil reconhecer velhos amigos da brincadeira. Sim; velhos, em quatro formas extensivas de vida: infância, puberdade, maturidade e actualidade; ou seja, velhice. Entre o primeiro e o último, o tempo mediano, o mais espaçoso, não dissipou o passado memorável.
Falar sobre o contemporâneo para os mais novos, segundo o que leio nos jornais, prefiro eximir-me. Gosto de coisas antigas, sem publicamente me rever muito no passado; porque comove. Mesmo que se mate a saudade, ela nunca morre, escondendo-se na nostalgia, aparecendo na emoção.
Por exemplo: quando passei por Ponta Delgada, São Miguel, por essa data, e lá ter vivido muitos anos, nem reparei nos edifícios novos. Percorri a cidade a pé, entrando nas ruas antigas, aliás, na Baixa são todas antigas. O resto não interessava ver. Obras novas aqui no Canadá, não faltam.
Nas Lajes das Flores, fiz o mesmo; nunca ignorando o que se tem feito na nossa ilha. Numa das vezes que aí fui, no caminho de cima na vila das Lajes, por umas horas tive por companheiro um amigo de infância, o João António Gomes Vieira. Fomos apanhar nêsperas a uma propriedade sua. Ele levou-me no seu carro ao cume do Morro Alto, fomos à Fajãzinha e Fajã Grande, e muito mais...
Na próxima, se Deus permitir, quero ir até à Pedrinha e Fajã de Lopo Vaz. Caminhar pela ribeira das Lajes desde o Poço da Conceição, rente à casa do já muito falecido Nastor até à entrada do Vale. Subir uma pequena rampa (se ainda lá estiver) e ir pelo Vale até ao caminho de cima. Quero ouvir o murmúrio das águas da ribeira e o melodioso chilrear dos pássaros; mesmo a serem outros, para mim nunca morreram.
Estão a ver, meus conterrâneos florentinos... Tudo coisas de frivolidade e banais, sem valor algum para quem não lhe diz respeito. Há uma metáfora em inglês que diz: "you like to eat your cake and keep it too", que se traduz: "gostas de comer o bolo e guardá-lo". Porque gosto que haja coisas novas nas Flores, mas detesto que desbravem a beleza natural e original da ilha.
Para mim, prefiro ver isso do que o mais majestoso monumento que se faça nas Flores. Sinto-me feliz em ver o progresso na minha ilha. Bem-hajam em tudo o que façam de moderno para melhor servir os florentinos. Quando se fazem edifícios e outras obras na nossa ilha, dá-me prazer ouvir que as Flores está a acompanhar o tempo hodierno em muitos aspectos.
No entanto, sem egoísmo quero ver o que deixei, que nem o Homem, nem o Tempo demoliu; é isto que faz com que eu mate saudades da terra. As montanhas, picos, vales, ribeiras, rochas, furnas de basalto ainda existem. Esta é a beleza natural da ilha.
Tais coisas não 'podem desaparecer' sem eu ir mais uma vez às Flores.
Denis Correia Almeida
Hamilton, Canadá
17 comentários:
A saudade pela flores é um saudavel doença.Páscoa feliz para todos .C A M
Para o Denis e todos os nossos emigrantes, endereço votos duma Feliz e Santa Páscoa.
Para o Denis feliz Pascoa e todos os nossos imigrantes são os votos de um Lajense ausente nos Açores.
Caro Denis
As recordações fazem parte de nós todos.
Sem passado não há futuro.
Mas as coisas mudam: as pessoas foram e apareceram outras, os lugares são os mesmos mas a fisionomia muda, o estar na vida é o mesmo, mas as ideias são diferentes.
Esta inconstancia das coisas é que não muda. Afinal sempre foi assim.
tu gostas tanto das flores que e até manteste sempre o teu nome igual como quando vivias por baixo da casa do tio artur mas vem de preça porque o nosso presidente da camara já tem o tractor de lagartas
a trabalhar e vai acabar com o resto dos teus trilhos
Mensageiro da má notícia das 19H17
O meu instinto diz-me que, deves ter mais alegria de ver extinguido o resto "dos meus trilhos" do que o pesar que sinto pelo que resta duma insignificante propriedade, que já não me pertence há mais de meio século.
Acredito que, os tractores arrasam tudo; mas, pelo menos conheço duas coisas que eles não podem arrasar: As recordações e a má língua dos pessimistas.
DCA
muito bem dito. este pequeno se tive-se calado tinha ganhado mais.
gostam tanto das flores mas não querem morrer a qui e engraçado tambem ja vivi no canada sei do que falo nasçi la e no entanto quero morrer a qui nao estou com essas cramações da pedrinha da grota de serpes da calheta da ladeira grande que tinha relheiras dos carros de bois a gora esta em cimento venha de pressa
voces miúdes não sabem dar o valor a nada precisavam era terem passado pelo salazar para darem o valor à vida daquele tempo e a vida de agora.
estas a falar de que
Há duas coisas que não se podem fechar pelo lado de fora:
Porta sem chave e a Boca grande
DCA
O maldizente não tem,
O seu nome assinado;
Mas se um dia fizer bem,
Ele quer vê-lo publicado.
Idem DCA
grande poesia e grande verdade.
maldizente era tua a vôzinha então
o homem fala que tem muitas saudades das lajes mas não vem cá
eles gostam tanto mas estaõ dois dias eu pago a passagem a este amigo para vir ca não estou a brincar ´ja agora ele que mediga quem e o prisidente da camara o da junta quantos comerçios tem as lajes quantas pessoas tem de que vivem
AO (filósafo) das 18H:47m
A Câmara tem Presidente,
Como a Junta; um também;
Mas teu crânio certamente,
Está vazio; e nada tem.
Da maneira que tu berras,
Não deves ser boi nem vaca;
Mas,daqueles que nas terras,
-Estão presos à estaca...
Já fui três vezes às Flores,
E ouvi num vale um jumento;
-Era fêmea; tinha dores...
Resultou teu nascimento.
Esse comércio que falas,
-Lojas de porta fechada;
Se calhar vais visitá-las
Às tantas da madrugada...
Dizem que qualquer jerico
Zurra de focinho aberto;
Tu se tens calado o bico,
Tinha te dado mais certo.
DCA
tu gostas tanto da tua ilha mas é dos beiços para fora.
alguém disse-me que te viu nas festas do Sinhor Santo Cristo em Ponta delgada e nem visitaste a tua ilha das Flores. chama-se falar barato.
Caro comentador de 02H 26m
Isso não é verdade. A última vez que estive nas Festas do Senhor Santo Cristo em Ponta Delgada foi em 1987.
Eu vim de S. Miguel a 25 de Junho, ontem e estive lá seis dias, para vir encontrar o meu PC com vírus.
Fui a convite dum pequeno Império de S.João, no Norte da ilha.
Apenas parei 2 horas em Ponta Delgada.
Alguém está a ver demais
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