«Brumas e Escarpas» #34
Vinte e Dois de Janeiro de Mil Setecentos e Oito
Francisco António Pimentel Gomes, natural da freguesia da Fazenda, ilha das Flores, publicou, entre outros, dois importantes livros sobre o passado histórico da ilha de onde é natural: “Casais das Flores e do Corvo” e “A ilha das Flores: da redescoberta à actualidade (subsídios para a sua História)”. Estas obras, de grande qualidade e de acentuado rigor histórico, por um lado, contribuem para melhor se conhecer a história da maior ilha do grupo ocidental açoriano e, por outro, para quem estiver interessado em elaborar a sua árvore genealógica, fazer uma interessante pesquisa sobre os seus antepassados e conhecer alguns dos acontecimentos históricos mais importantes em que eles se envolveram e participaram.
O primeiro livro, no caso dos meus antepassados paternos, permitiu-me, circulando de registo em registo, através dos nomes de uns e de outros, identificar os meus avoengos até aos nomes dos pais dos meus penta-avós, os quais terão vivido em pleno século XVIII, sendo o registo mais antigo o do casamento de um dos meus tetra-avós, António de Freitas Fragueiro, natural das Lajes e Ana de Freitas, natural da Fajã. Casaram na igreja paroquial das Fajãs, no lugar da Fajãzinha, em 6 de Novembro de 1763.
No entanto, do lado materno foi-me permitido ir mais longe e chegar aos nomes dos meus octo-avós, alguns dos quais terão vivido nos finais do século XVII, ou seja por alturas da criação da paróquia das Fajãs, no longínquo ano de 1676. Neste caso o registo mais antigo, por mim encontrado, foi o dos meus hepta-avós, Bartolomeu Lourenço e Isabel de Freitas que casaram na Fajãzinha em 25 de Fevereiro de 1725. Segundo o registo deste casamento Bartolomeu era filho de António Lourenço e de Maria de Freitas. Por sua vez Isabel era filha do alferes André Fraga e de Bárbara de Freitas, naturais e residentes na Fajãzinha. Estes são, por conseguinte, os meus octo-avós. O alferes André Fraga nasceu em 1677, um ano depois da criação da paróquia das Fajãs e faleceu em 1750 e era sobrinho do padre André Álvares de Mendonça, primeiro vigário da paróquia das Fajãs.
O segundo livro, para além de conter uma informação histórica muito diversificada e completa, é enriquecido, pelo autor, com um anexo que contém 167 documentos históricos, alguns dos quais muitíssimo interessantes. É o caso do documento 39, copiado do “Livro do Tombo da Paróquia de Nossa Senhora dos Remédios” pelo padre António Joaquim Inácio de Freitas. Segundo esse documento, um grupo de “fregueses” acompanhados pelo vigário André Alves de Mendonça, em 1705, solicitaram ao bispo diocesano, D. António Vieira Leitão, autorização para colocar o sacrário para guardar o Santíssimo, na primitiva igreja da paróquia construída havia trinta anos. O bispo, que faleceu alguns anos depois nas Velas, durante uma visita pastoral à ilha de São Jorge, autorizou mas com a condição de haver um grupo de pelo menos vinte paroquianos que assegurassem o dote para o azeite da lâmpada, para as velas e outros acessórios indispensáveis à manutenção do Santíssimo Sacramento numa igreja. Para tal foi lavrada uma escritura de doação e obrigação, no dia 22 de Janeiro de 1708, na primitiva igreja paroquial das Fajãs, situada perto da actual igreja da Fajãzinha e na qual estiveram presentes 131 pessoas, pertencentes aos quatro mais importantes lugares povoados da paróquia: 67 da Fajãzinha, 37 do Mosteiro, 17 da Ponta e 10 da Fajã. Fizeram parte deste grupo de dez pessoas oriundas da Fajã Grande, juntamente com o capitão Domingos Rodrigues Ramos e do seu filho, o também capitão Gaspar Henriques e a esposa deste, Francisca Rodrigues, os meus octo-avós António Lourenço e Maria de Freitas, precisamente os pais de Bartolomeu Lourenço. Por sua vez também integraram a delegação da Fajãzinha os meus octo-avós, o alferes André de Fraga e Bárbara de Freitas, pais da esposa de Bartolomeu Lourenço, Isabel de Freitas. Acrescente-se que as restantes cinco pessoas que integraram a delegação da Fajã foram: Amaro Carneiro e sua mulher Maria de Freitas, António Jorge e sua mulher Maria de Freitas e Isabel Rodrigues, viúva.
Não deixa de ser interessante o facto de a delegação da Ponta ser bem mais numerosa do que a da Fajã. Creio que isso se deveu ao facto de a Ponta até 1767 pertencer à freguesia de Ponta Delgada, instituída já há alguns anos e a Fajã, na mesma altura, ser ainda um pequeno lugarejo pertencente à paróquia das Lajes. Outro aspecto a realçar é o facto de a paróquia das Fajãs, à altura, ter mais seis lugares povoados para além destes e nenhum deles se fazer representar, talvez por serem povoados bem mais pequenos do que os outros quatro representados: Cuada, Caldeira, Ribeira da Lapa, Fajã dos Valadões, Pico Redondo e Pentes.
Carlos Fagundes
Este artigo foi (originalmente) publicado no «Pico da Vigia».
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