domingo, 8 de janeiro de 2012

Cabral Vieira: “Não acredito que nosso futuro esteja no turismo [de massas]”

“O turismo de massas é o turismo ligado à hotelaria que construímos nos últimos anos nos Açores e não acredito que esse seja o nosso turismo, porque nós não temos clima, não temos praia, não temos reconhecimento no mercado internacional. Acredito mais no turismo rural”, afirma o florentino José Cabral Vieira, economista e vice-reitor da Universidade dos Açores, em entrevista ao jornal «Correio dos Açores».

- Não acredita muito no turismo?

- Sou céptico. Eu já acreditei no turismo mas penso que, apesar de toda a beleza paisagística e natural que temos nos Açores, vai ser extremamente difícil competir com outros destinos. Nós não estamos vocacionados para o turismo, para aquele turismo de massas que procura praias. O turismo de massas é o turismo ligado à hotelaria que construímos nos últimos anos e não acredito que esse é o nosso turismo, porque não temos clima, não temos praia, não temos reconhecimento no mercado internacional. Temos obtido bons resultados ao nível do pequeno turismo rural. Basta ver que muitos dos empreendimentos de turismo rural conseguem, facilmente, comercializar e sobreviver ao nível da grande hotelaria. A grande hotelaria depende de uma coisa - que é o grande problema das pequenas regiões - que são os operadores [turísticos] e uma grande parte da receita fica nesses operadores e não chega à Região. Isto enquanto ao nível do pequeno empreendimento mais disperso pelas diferentes ilhas, já é mais fácil comercializar ao nível da internet e assim se consegue ter um mercado.

- A economia do turismo não vai criar riqueza nos Açores?

- Acredito que não. Podia atingir, se os Açores se direccionassem para um turismo de nicho, o tal turismo rural disperso pelas diferentes ilhas com elevado valor acrescentado. O turismo de massas não vai vingar na Região porque a maior parte do rendimento fica necessariamente no exterior e depende dos operadores [turísticos]. A comercialização aqui é fundamental e quando falo em comercialização, os hotéis ficam sem ninguém. De vez em quando os operadores [turísticos] fazem umas birras, digamos assim, e vê-se quais são as consequências. E, logo depois, impõem um novo preço para trazer[-nos] alguns estrangeiros. Esta não é, efectivamente, a melhor forma, a não ser quando a hotelaria está integrada em cadeias internacionais e mesmo assim não há grande rendimento.

Eu acredito mais no turismo rural nos Açores. Sou céptico em relação ao turismo de massas exactamente porque acho que a política do betão estragou o nosso património todo. Nos Açores não temos nada, não preservamos aldeias históricas, lugares históricos, como Marvão, Sortelha, lugares que foram preservadas ao longo do tempo obviamente dando conforto às pessoas mas sem as desvirtuar e que têm um grande contributo turístico. Nos Açores todos os poderes regionais e autárquicos foram destruindo património edificado, algum do qual existia há centenas de anos. Arrancámos calçadas históricas que são irrecuperáveis neste momento. Pegámos em casas que eram de pedra e destruímos algumas e rebocámos outras, descaracterizando-as totalmente. Desapareceu o nosso património, que não era valorizado, mas que, na nova economia do turismo, poderia ter algum valor. Podíamos ter preservado alguns nichos que destruímos e que são irrecuperáveis e hoje, infelizmente, temos uma economia de betão para mostrar aos turistas.

Nós podíamos ter nos Açores trilhos turísticos, agora asfaltados sem que lá passe um carro por dia, e que podiam ser extremamente importantes. São trilhos que têm a sua história, desde as grutas onde os agricultores se sentavam para se abrigar das chuvas. Todo este património, num país desenvolvido tinha sido aproveitado porque tinham essa estratégia em relação ao futuro e nos Açores foi destruído à procura de um retorno imediato.

Nos Açores temos as Furnas e as Sete Cidades mas isso só não são os Açores, isso só por si não traz turismo. O nosso meio rural não se podia ter descaracterizado e descaracterizou-se, até as casas são de cimento sem se ter preservado qualquer traçado. As nossas ruas poderiam ter sido preservadas e podiam ser “vendidas” ao turista em visitas guiadas. Muitos dos nossos moinhos foram abandonados ou destruídos. Portanto, há muito património que foi destruído ao longo das últimas três décadas que os Açores não souberam aproveitar.

Por isso, não acredito num turismo de massas, de hotelaria, e sou céptico porque acho que aquilo que tínhamos relativamente ao património edificado e histórico rural, e não só, foi destruído pela política do betão.


Entrevista publicada no «Correio dos Açores» de 20 de Dezembro.
Saudações florentinas!!

14 comentários:

Anónimo disse...

Muito bem. Incrivel como este senh9or disse tudo o que eu sempre pensei. Este Govberno Socialista destruiu sem parar tudo o que era a Historia das nossas ilhas e continua a destruir hoje e amanha. Basta ver o que fizeram em Ponta Delgada. É cada predio de betao que ate mete repulsa so de olhar. E o turismo de massas é uma aberrante. Em vez de trazer lucro só gera prejuizo e quem perde sao os açorianos. Mais hoteis horriveis e gigantescos não já chega.

Anónimo disse...

com todo o apreço que tenho por Cabral Vieira,já digo isso há mais de vinte anos,quando fizeram aqueles mostrengos nas sete cidades hoje ruínas que nos custaram fortunas.Mas isto já vem de muito detrás...do tempo do Mota Amaral.O nosso grande defeito é querer imitar os outros e esta acção cobre todo o leque da nossa fraca (issima) economia,desde o mar até à serra.Não é preciso ser licenciado em economia ..basta só senso comume aritmética de 4ª classe
N.F.

Anónimo disse...

Quero acreditar que os açores possui actualmente grandes capacidades hoteleiras capazes de competir com outros destinos turisticos mundialmente conhecidos. Infelizmente ainda não compreenderam que o problema de acesso aos açores está somente nos lobis da sata e da tap que praticam preços que não se justificam. Além dos vôos de ligação aos açores serem em horarios inaceitaveis, são horarios incompreensiveis, 5h30 e 6h00 da manhã no aeroporto, parece que vamos fazer uma viagem trans-continental! Os turistas e os admiradores dos açores quando estão de férias não estão para se levantar da cama a estas horas, sendo de todo compreensivel. Além disso e relativamente ao mesmo assunto, horarios praticados pela sata açores são de todos inaceitaveis, para fazer uma viagem inter ilhas não se justifica terem de ir para o aeroporto às 6h da manhâ! Enfim, a sata açores e sata internacional bem como a tap fazem o que querem e o governo regional assina por baixo. Enquanto não entenderem que o problema do acesso dos turistas aos açores são o factor preço/horarios praticados por estas companhias não chegamos a lado nenhum nem saímos da sepa trota.
Quem procura os açores procura-o pela sua geografia, pela sua tranquilidade, pela sua natureza, pelo facto de existirem 9 ilhas, pela sua cultura, festividades, tradições, ruralidade, etc, etc, etc, etc.
O problema do turismo nos açores têm um reponsavel, chama-se Carlos César e o partido socialista.
A todos os que vivem do turismo, força e votos de um excelente ano de 2012.

Anónimo disse...

Em Ponta Delgada, a desordem urbanísta, é da competência da Câmara Municipal de Ponta Delgada.

É incrível como um ignorante, como o comentador de cima, não sabe distinguir as coisas.

Uma coisa é o turismo outra é a construção desordenada, selvajem e especulativa que sucedeu principalmente em PDL, a cidade mais feia e suja da Região.

O Dr. Cabral Vieira fala num modelo de turismo que deve ser adoptado e o comentador de cima fala em construção, como isso fosse da competência urbanística do Governo.

E são estas mentiras que vão fazendo escola, através da vergonhosa campanha do PSD - controlado por Lisboa - contra os Açores e contra a sua economia.

É preciso apanhar os traidores e pendurá-los num pau de figueira!

Anónimo disse...

Os Açores não tem ainda estruturas para turismo de massas.

Nem em S. Miguel, nem na Terceira nem nas outras ilhas.

Há países e regiões, com um clima muito mais agreste do que o nosso, que desenvolveram uma actividade turistica interessante. A Islandia e a Noruega, por exemplo.

Para seleccionarmos turismo de qualidade, em contraponto ao turismo de massas, temos de ter serviços com qualidade. E não temos.

A mão de obra que se dedica ao turismo não é qualificada. Faz da actividade part time. De manhã ordenha vacas à tarde serve no restaurante, atirando garfos para cima da mesa.

Anónimo disse...

Eu tambem concordo plenamente,ainda bem que nas Flores ouve alguem inteligente para conservar a Aldeia da Quada,e realmente e pena que outras coisas nas Flores nao se tenham conservado!
Por exemplo o convento e Santa Cruz,que pintaram com uma cor berrante que nada tem a ver com a arqitetura,enfim um inumero de coisas!

Anónimo disse...

Os Açores nunca vão ter turismo de massas, que procura, como se sabe, praias todo o ano ou as atracções das grandes cidades.

O nosso turismo é diferente. Assenta na valorização das nossas paisagens, no contacto com a natureza e na nossa riqueza cultural.

Nunca faremos concorrência às Canárias e às Caraíbas, que tem praia e sol todo o ano.

O nosso turismo deve ter por modelo a Escócia, as ilhas do Canal da Mancha, a Noruega e a ilha Inglesa de Man.
Apostar na qualidade e no mar.

Aqui nas Flores muito há ainda para explorar.

O quê? pergunta o tal da cana roca com cara de tolo...

A excelecencia das nossas lagoas e do nosso relevo. Não se percebe como é que nos pontos mais visitados, não existam pequenos pontos de venda, devidamente enquadrados na paisagem, onde o turista encontre o nosso artesanato, as nossas bolachas tradicionais, as nossas compotas, a nossa fruta, um simples postal, ou até um simples fotógrafo.

São mais valias que se perdem.

As nossas costas, vistas do mar, são impares no mundo. A organização de viagens de barco, com almoço ou jantar incluídos, é comum.
Porque não organizar este tipo de actividades?

O mergulho, o "scuba" e o "snorkel" nos nossos baixios é de uma beleza fora do comum. Porque não organizar roteiros próprios, dando emprego a gente especializada?

O alojamento num dado lugar não tem de ser feito forçosamente em hoteis e pensões. Pode ser conseguido em casas tradicionais, desocupadas ou particulares, nos mais variados regimes.
Na Escócia por exemplo, o "bed and breakfast" é muito comum.
Há também regimes onde as pessoas partilham a casa do proprietário, e participam nas suas actividades, indo à pesca ou ajudando na agricultura.

Como se pode ver, muito há para fazer e oportunidades não faltam.
Aqui, com juizo e bom senso, nenhum jovem precisa de emigrar.

Anónimo disse...

Há uma pessoa que vai delirar com a ultima ideia de cima.
Hospeda, cobra dinheiro e fica com a cana roca arrancada e as courelas limpas!

Anónimo disse...

Só queria lembrar a destruição do posto de observação meteorológico, um património riquissimo de santa cruz é da responsablidade do actual governo e do Pereira quando esteve nas obras publicas,com a responsablidade da sua resconstrução,pois nem a pedra apare-se.

Anónimo disse...

O mamarracho do observatório, sempre foi uma nódoa no nosso património. Era feio, disforme e estava completamente desfazado da paisagem.
Não sei quem foi a alma caridosa que o mandou abater. Mas bato-lhe naturalmente palmas.
Fez muito bem.

Anónimo disse...

o anónimo das 23.08 fala sempre mal da cana-roca mas parece-me que ainda o vou ver arrencar muitas cepas se não quiser morrer à fome.

Anónimo disse...

esse anónimo das 02:22 devia ser abatido.
Passa-se um pouco no turismo do nosso ilhéu o que se passa na presente discussão! Toda a gente quer fazer um bocadinho e o que se aproveita no fim é nada... Resumindo, a massificação do turismo é utópica e nem à 30 anos atrás me parecia uma solução viável pelas razões já em cima apresentadas.
Quanto às restantes capacidades túristicas, deveria haver uma muito maior organização institucional de forma a que os serviços prestados estejam de acordo com o que o cliente procura (p ex. reestrutarando a direcção regional do turismo e criando uma entidade reguladora). Mesmo tendo muitas belezas naturais, estas são "visíveis num dia" pelo que o espólio cultural também é essencial a quem procura estas terras, e aí amigos o problema é muito fundo. Roberto Mesquita? passa despercebido no meio de tanto cabo verdeano....
Convento de S. Boaventura? chama demais a atenção...
Posto metereológio?? em alguma casa da faja...

Vamos apostar no turismo de forma organizada, vamos-nos esforçar para prestar um bom turismo.
Concluindo,
"Como se pode ver, muito há para fazer e oportunidades não faltam.
Aqui, com juizo e bom senso, nenhum jovem precisa de emigrar."

Anónimo disse...

A criatura das 12:49 fafa, fala, fala, mas não concretiza nada.
Não propõe nada de palpavel, de concreto, de exequível.

Agente todos sabe que "devia haver melhor organização institucional". Mas como é que isso se faz?
"Reestrutarando a direcção regional do turismo" diz ele.
Como e em que moldes?
"Criando uma entidade reguladora" diz ele. Para regular o quê e com que critérios?

Está mais do que provado. O motor do nosso turismo, aqui nas Flores, está nos privados.
E há, felizmente para todos nós, jovens com ideias. Esses é que tem de ser incentivados, porque é deles que depende a nossa sobrevivencia como ilha e como povo.

Não é arranjando gabinetes, metendo lá dentro funcionários públicos e propiciando mordomias que se vai muito longe.
É com iniciativa, empreendedorismo e sentido de lucro.

Anónimo disse...

e sinceramente o caro amigo acha que os privados apresentam condições que levam ao "sentido de lucro"? De que serve apoiar as novas empresas se essas não tiverem lideres capazes? Diga-me lá se nos ultimos 30 anos os superfluos apoios governamentais que têm dinamizado o empreendorismo local (dos jovens e dos nem tanto...) têm levado a algum porto.
A meu ver, a criação de uma entidade reguladora com inspecções periódicas, sem compadrios, que atribuisse um selo de qualidade e divulgasse gratuitamente os estabelecimentos que se encontrassem dentro das normas estabelecidas (e estamos a falar de turismo, não de higiene e segurança) era um passo dado no caminho do sucesso.