Quanto vale a aposta? Um deputado!
Vem aí a Primavera e lá para o Outono teremos o início de mais um ciclo eleitoral, com as eleições Legislativas Regionais, já em 2008, e Europeias, Legislativas Nacionais e Autárquicas, sucessivamente, em 2009.
Nas Flores, destes quatro escrutínios, as “bregas” que mais aquecem os bastidores são as eleições dos 3 deputados do círculo [de ilha] à Assembleia Regional, já este ano, e dos autarcas, nos Municípios de Santa Cruz e das Lajes, para o ano que vem.
Por vários sinais que nos vão sendo dados, sem qualquer especulação ociosa, arriscamos uma previsão das movimentações das “peças no xadrez”.
Comecemos pelas eleições Regionais deste ano.
A grande questão está em saber se o PS conseguirá manter os dois deputados eleitos [na ilha das Flores]. Ao que tudo indica, a nível regional, Carlos César está a embalar para uma terceira maioria absoluta. Todavia, as Flores sempre foram pródigas em destoar das tendências e dos ciclos regionais, pelo que não seria de espantar que desta vez o PS não repetisse a inédita proeza de eleger dois deputados [na ilha das Flores], tal como aconteceu em 2004.
É sabido que Manuel Herberto Rosa tem hoje uma base eleitoral de apoio mais consistente que há uns anos, fruto, sobretudo, do merecido destaque que tem vindo a ganhar na bancada socialista do Parlamento [Regional] e de um trabalho “de sapa”, muito diligente, junto do eleitorado florentino, para mais quando a “máquina governativa rosa” ganhou tentáculos no aparelho público e privado da ilha que nada ficam a dever aos dos tempos do PSD de Mota Amaral.
Acontece que, ao invés desses tempos, hoje, os eleitores das Flores usam o seu voto, muito mais, numa lógica de “carta de alforria” - para satisfação de certos interesses particulares - do que com um sentido de gratidão ou protesto pelo resultado duma apreciação global dos programas e das obras executadas em benefício público.
Donde, começa a instalar-se a percepção que o PS/Flores terá dificuldade em satisfazer a pulverização de todos os “nichos eleitorais” e estes, cientes de que um punhado ou apenas um voto (como já aconteceu em eleições passadas) pode decidir da eleição de um deputado [na ilha das Flores], não estão dispostos a “vender a preço de saldo a sua cruzinha nas urnas”.
Por outro lado, se nas Lajes o PS parece ter perdido, ou pelo menos parece não ter acalentado, um certo élan recente, em Santa Cruz é notório o “divórcio” entre o Poder Municipal e a representação florentina regional, da mesma cor [rosa].
Ora, daqui resulta que os eleitores das Flores, intuindo a vitória de Carlos César, podem achar que “dar” dois deputados ao PS é uma “oferta” demasiado generosa face aos lucros alcançados. Um, e chega!
Pela ordem natural das coisas, através da rotatividade entre os dois maiores partidos, seria o PSD a aproveitar a perda de um deputado do PS. Porém, também aqui, a “ordem natural” não se aplica.
O PSD/Flores não existe. Existem, sim, dois ou três caciques, o Poder de uma Câmara Municipal (com menor “peso” ao nível da ilha) e duas ou três figuras que gravitam à volta destes suportes. O que quer dizer que o PSD não dispõe mais hoje de uma “figura de ilha” que mais possa ter como objectivo do que a sua própria eleição. A CPI está nas mãos do deputado em exercício (em substituição de João Lourenço [presidente do Executivo lajense]) e a CPC de Santa Cruz é liderada pelo vereador que mais oposição tem feito ao Executivo santacruzense.
Assim, é de prever refinada “luta de galos” entre um e outro. O primeiro, [António Maria Gonçalves] há-de apostar no "factor João Lourenço", nas boas graças do Grupo Parlamentar do PSD - a que Costa Neves não se importa de ser alheio - e ao facto de já lá estar. O segundo, alegadamente, [Carlos Silva] por ser quem melhor pode atrair o eleitorado perdido em Santa Cruz, na sua postura de dinâmico “homem da ilha” e, por fim, num marcar de posição interna para a era pós-Costa Neves, para o qual contará com as influências de Duarte Freitas, que tem vindo a assumir veladamente o apetite pela liderança dos social-democratas açorianos, num cenário de regresso do Parlamento Europeu e disputa das eleições [Regionais] em 2012.
Portanto, um ou outro será o cabeça de lista do PSD pelas Flores às Regionais, sendo previsível que, de entre a “guerrilha sem quartel”, não venha a resultar mais que a eleição de um deputado.
Onde irá parar, então, o terceiro deputado das Flores? Esta é a maior dúvida. Se, por um lado, a CDU, de Paulo Valadão, apresenta desgaste e algum “cisco debaixo do tapete”, por outro, depois de tempos promissores, o CDS/PP não conseguiu exorcizar algumas derrotas “à tangente” que sofreu, nem aparenta ter pacificado os desentendimentos que o têm fustigado em Santa Cruz, ou conseguido um mínimo razoável de implantação nas Lajes.
O já habitual bizarro “voto de protesto” dos florentinos poderá pender para uma destas duas forças, mas só se uma delas conseguir transfigurar-se, apresentando uma figura movida pela força do carisma que faça acreditar poder vir a ser a voz incómoda e destemida na Assembleia Regional, a tal “voz das Flores”, que, como tal, mereceria também a empatia da Região, pela sua singularidade. Para já, essa possibilidade real ainda não encontrou rosto...
Resta uma quarta hipótese, em caso ou apesar da “falência” da CDU e do CDS/PP:
Qualquer um dos outros partidos - que nunca tiveram assento parlamentar - pode tirar “um coelho da cartola” e, mais uma vez, não inédita mas peregrinamente, fazer história e (re)colocar a ilha das Flores no mapa político dos Açores...
Preto no Branco!
Ricardo Alves Gomes