segunda-feira, 3 de junho de 2013

Ano de autárquicas: «Os Câmara boys»

As Câmaras Municipais são as maiores agências de emprego do país.

A integração de "boys" partidários nos quadros de pessoal das Câmaras e empresas municipais é regra e, com a aproximação da data das eleições autárquicas, adivinha-se um despautério de admissões e nomeações em catadupa.

Esta situação é particularmente expressiva no que diz respeito aos dirigentes que, nas juventudes partidárias, organizam as campanhas eleitorais e arregimentam votos. Uma vez instalados nos seus "tachos", continuam por norma a trabalhar ao serviço dos partidos mas remunerados à custa dos municípios. Ao longo dos últimos anos, este fenómeno agravou-se de tal forma que algumas empresas municipais mais parecem sedes partidárias dissimuladas.

Contudo, é nos municípios mais pequenos, alguns com apenas quatro ou cinco mil eleitores, que este problema se torna ainda mais grave e dramático no plano social. Nesses municípios, a obtenção de um qualquer emprego, ou a promoção numa função, depende quase exclusivamente do presidente de Câmara local. Isto porque o maior empregador no concelho é a Câmara; o segundo maior é, por regra, a Misericórdia local ou alguma instituição de solidariedade, que actua em conúbio com o poder autárquico. Segue-se-lhes a administração central descentralizada, de forte dependência política, ou eventualmente uma empresa de média dimensão... amiga da Câmara Municipal. Com esta estrutura de emprego, só o presidente de Câmara e os caciques que dele dependem conseguem atribuir empregos que, em regra, beneficiam afilhados e familiares do presidente, os militantes do partido e os apaniguados das redes clientelares. Claro que a sua seleção raramente resulta do seu currículo ou das suas competências.

Estas práticas reiteradas, nomeadamente nos pequenos concelhos do interior, consolidam, na maioria do território nacional, a ideia de que o estudo, a formação e o esforço de nada adiantam. Fazem vingar a tese de que a qualidade do desempenho é irrelevante para ocupar um qualquer cargo. A qualidade não constitui critério de escolha de colaboradores, ou de progressão nas carreiras. A estrutura de recursos humanos está invertida. O profissionalismo foi dizimado pelo clientelismo.


Artigo de opinião da professor universitário Paulo Morais, publicado (originalmente) no jornal «Correio da Manhã», de 16 de Abril de 2013.
Saudações florentinas!!

6 comentários:

Anónimo disse...

Ao ir lendo o texto vao passando nomes pela cabeça.
Porque será?
Aqui na ilha nada disso acontece....

Anónimo disse...

É o país que temos.
São as Camaras que temos.
É a gente que temos.
Parafraseando Cidinha Campos, está no DNA.

Anónimo disse...

A situação descrita assenta como uma luva no concelho de Sta. Cruz das flores. E só por os nomes dos santos e dos milagres.
E mai nada !

Anónimo disse...

Sabem-me dizer que assessores, chefes de gabinete e secretários há em cada uma das Câmaras (Lajes e Santa Cruz)? Em Santa Cruz tenho a ideia de haver um chefe de gabinete, um assessor e uma secretária...

Anónimo disse...

Assenta como uma luva nas camaras das Flores - Lajes e Santa Cruz - e noutras do arquipélago.
Havia uma Camara nos Açores cujo presidente mandou comprar um carro blindado, com fax no interior e modernices diversas, para passear em canadas esburacadas e caminhos recônditos. Com motorista fardado e chapa preta todos os dias a brilhar.
Um esbanjamento escandaloso, que na altura toda a gente calou.
Na Camara em questão, como seria de esperar, as viaturas estão hoje encostadas à parede sem pingo de gasóleo.
Fiz-me entender, ou é preciso um desenho?

Anónimo disse...

A todos os que usam escrever neste espaço e noutros, muito obrigado em especial aqueles que colocam nas suas palavras dignidade, humanismo, seriedade, querência entre outras coisas.
Estou presente nesta pequena escrita, para alertar os munícipes, mas em especial os futuros, já eleitos, responsáveis pela Câmara das Lajes das Flores.
É informação corrente e divulgada entre os funcionários da referida autarquia, que está a ser levado acabo uma estratégia de vingança por parte dos poder cessante, para deixar o parque de máquinas o mais destruído possível, bem como a viabilidade de as reparar.
Seria muito urgente que este assunto fosse tornado público, bem como uma estratégica para impedir que esse plano, já em execução, avance mais para limites insustentáveis.
Ainda neste assunto, da vingança politica, é de informar que, as placas de identificação de obras, neste caso estradas e caminhos levadas acabo no mandato do Sr. João Lourenço e companhia, estão a ser arrancadas entenda-se placas e respativas lápides onde se encontram.
A saber, estas lápides são de todos nós, e quando falo em nós refiro-me a todos os florentinos, açorianos, portugueses e europeus, sim porque estas obras foram co-financiadas a 85% pela CE.
Se dúvidas suscitarem e se alguém ler este alerta, que vá à ilha das Flores, concretamente ao concelho das Lajes e que veja ou mande investigar da situação degradante e vingativa que lá existe. Certos grupos de pessoas estão num desespero tal que até as boas maneira, boa educação, civismo, dignidade, humanismo foram abandonados, ao ponto de se comportarem como autênticos animais. Ou será que sempre o foram e só agora se estão a manifestar?