terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Frederico Cardigos: «Encarar o mar como um bem patrimonial a preservar»

“Há novas actividades [maritimo]turísticas implementadas e começam a aproximar-se interessados na exploração dos grandes fundos oceânicos”, a acompanhar as tradicionais actividades ligadas ao mar, como o transporte marítimo, as pescas e a extracção de inertes.

Entre as actividades turísticas, Frederico Cardigos destaca a navegação de recreio que tem vindo a registar valores crescentes na Região ao longo dos anos e o director regional dos Assuntos do Mar espera que com o investimento a realizar na rede regional de marinas “venham ainda a ampliar-se os actuais registos”.

Também a observação de cetáceos, que começou por ser “uma actividade quase familiar na ilha do Pico”, gera actualmente rendimentos brutos superiores a duas dezenas de milhões de euros anuais e movimenta dezenas de milhar de turistas. Apesar da observação de cetáceos ainda não estar implementada em todas as ilhas, Frederico Cardigos acredita que quando tal acontecer se registe um “aumento sustentável”.

Até o mergulho com escafandro autónomo que “praticamente não tinha expressão no arquipélago”, parece agora ter despoletado devido a investimentos feitos por empreendedores e autoridades nas ilhas Graciosa, Corvo, Santa Maria e Flores. Feito para que também contribuiu a descoberta das agregações de tintureiras que pode levar a que a actividade “cresça abruptamente”.

No entanto Frederico Cardigos alerta para se ter algum cuidado “no tentar aumentar os rendimentos e não a massificação do mergulho, embora claramente ainda haja espaço para crescimento” e adianta que mais do que trazer mais pessoas para o arquipélago, “terá de haver uma clara orientação no sentido da manutenção da excelência”, refere.

Excelência que é mantida no arquipélago e confirmada por todos os prémios e reconhecimento que foram atribuídos nos últimos anos. “Os Açores são mesmo considerados um local de excelência, onde o homem vive em harmonia com a natureza. Mais do que não podermos estragar essa imagem, temos de manter e melhorar os factos que a sustentam”, refere.

No entanto Frederico Cardigos revela que é preciso muito mais, “é necessário perceber o que fazer com estes milhões de quilómetros cúbicos de água. O que fazer com tanto e tão profundo fundo marinho”, questiona. Há já uma estratégia definida “que assenta no conhecimento, na planificação, na aposta na sensibilização ambiental, também como ferramenta de adopção patrimonial, e no empreendedorismo privado. Os primeiros resultados, já com diversas certificações internacionais, confirmam o rigor e a pertinência do percurso escolhido pela Região”, acrescenta.

Frederico Cardigos refere que desde a fundação da Universidade dos Açores, os cientistas, em conjunto com diversos parceiros, “estudam detalhadamente os nossos mares, desde a componente aérea, onde se incluem as aves marinhas, passando pela circulação oceânica das grandes massas de água, os mananciais de pescado e a geologia e dinâmica dos fundos, todos os detalhes têm sido escalpelizados”, afirma.

Os estudos efectuados têm provocado novas perguntas e novos desafios mas com os conhecimentos obtidos “aprendeu-se nos Açores a encarar o mar não como uma fronteira ou um caminho tormentoso, mas sim como um bem patrimonial a respeitar e a preservar e uma fascinante oportunidade de alicerçar o progresso”, uma estratégia que deve ser continuada.

Porque só quando o mar for encarado como um bem patrimonial é que se podem desenvolver estratégias de defesa mas também de protecção, mesmo quando estiverem em causa projectos de investimento empreendedores.


Entrevista publicada no «Correio dos Açores» de 3 de Janeiro.
Saudações florentinas!!

6 comentários:

Anónimo disse...

Este rapaz vai longe.

Anónimo disse...

Este secretario regional deveria ter vergonha dele mesmo, na vila de santa cruz da ilha das Flores temos um saneamento básico a correr directamente para o mar se qualquer tipo de tratamento das àguas sujas! Tenha vergonha e demita-se pois as suas capacidades ambientais deixam muito a desejar. Numa ilha com o galardão da reserva da biosferia existir um atentado ambiental destes é publicidade enganosa para não dizer outra coisa!
Enfim, nós por cá somos uns tolos, ignorantes, burros, cegos, anormais....?????

Fórum ilha das Flores disse...

Adenda informativa através de uma notícia do «Açoriano Oriental»: "Açores 'mostram-se' na Feira de Actividades Náuticas BOOT 2012 (na Alemanha) como destino mundial de mergulho".

José Toste, director-executivo da Associação Regional de Turismo (ART), frisou que os Açores «são um dos melhores sítios do mundo para mergulhar», mas defendeu que, num mercado competitivo como este com vários destinos já consolidados, os Açores «devem apresentar-se como uma alternativa a locais mais saturados, para pessoas que procuram novidades».

«É dessa forma que os Açores podem destacar-se e captar mercado», frisou, acrescentando que um dos principais argumentos deste destino é a «grande variedade de mergulho que permite».

José Toste salientou que se «pode mergulhar em todo o arquipélago», sendo o Corvo a única ilha onde não existe actualmente um centro de mergulho.

«Quem quiser mergulhar com tubarões-baleia ou com jamantas vai para Santa Maria, quem quiser mergulhar com tubarões vai para as ilhas do Triângulo (Pico, Faial e São Jorge), quem prefere o mergulho arqueológico vai para a Terceira, há uma grande variedade de oferta», afirmou o director executivo da Associação Regional de Turismo.

Anónimo disse...

“aprendeu-se nos Açores a encarar o mar não como uma fronteira ou um caminho tormentoso, mas sim como um bem patrimonial a respeitar e a preservar e uma fascinante oportunidade de alicerçar o progresso” ....aprendeu-se não....já se sabia....os "boys" portugueses que veem para cá "mandar" é que não sabem!

Fórum ilha das Flores disse...

Adenda informativa através de entrevista conjunta do «Diário Insular» e «Correio dos Açores» ao biólogo marinho João Pedro Barreiros: "Açores regulam muito mal destino único para mergulho".

Os Açores, em termos de Oceano Atlântico e para latitudes equivalentes, constituem, de facto, um destino de mergulho turístico - seja ele contemplativo, técnico, fotográfico, etc. - muito diversificado e, em termos de águas europeias, absolutamente único.

A minha expectativa passa por três aspectos essenciais: o estabelecimento de parques subaquáticos e reservas especialmente pensadas e mantidas, bem como vigiadas, para serem prioritariamente utilizadas pelas Operadoras Comerciais de Mergulho; a modernização, profissionalismo e competência dessas mesmas operadoras que deverão ser absolutamente exemplares em todas as componentes do seu trabalho; a oferta de mergulhos diversificados para os vários níveis dos praticantes e a informação honesta e correta das características sazonais dos nossos mares.

Porém, é preciso deixar bem claro que o mar não é só de alguns e que a prática do mergulho recreativo e turístico não pode nem deve entrar em conflito com outras actividades marinhas, tais como a pesca lúdica e, muito concretamente, a caça submarina. Felizmente, há lugar para todos e a eventual "ganância" do lucro e a procura de objectivos de cariz politizado não podem, nem devem, interferir no bom senso.

Transformaram os meros, sem qualquer razão, numa espécie de "Panda dos Mares". Repito que não existe nenhuma justificação para que esta proibição absurda se mantenha. Ainda por cima, trata-se de um caso flagrante de falta de visão, pois podem-se capturar meros de todas as formas quando a caça submarina é, de facto, a única arte sustentável para a captura de meros.

Quanto ao mergulho com tubarões, entendo que se trata de uma "caixa de Pandora" que se vai abrir e que pode trazer consequências imprevisíveis e potencialmente muito complicadas. Associar qualquer animal selvagem a alimentos fornecidos por humanos é sempre uma má ideia que deu maus resultados em vários locais do mundo. Fazê-lo com predadores é ainda pior. (...) Percebo que se trata de um nicho de mercado único na Europa mas (...) os Açores já são, sem o mergulho com tubarões, um extraordinário destino de mergulho recreativo e de caça submarina, pelo que não me parece nem necessário nem útil que se abra a tal "caixa de Pandora".

Mergulho com escafandro autónomo - seja com ar ou outras misturas - e caça submarina (que é sempre em apneia) podem e devem ser actividades complementares e não antagónicas. Pode e deve haver caça submarina nos Açores também como "cartaz turístico" embora, naturalmente, as áreas de contemplação recreativa no mergulho devam situar-se, preferencialmente, em reservas. Como digo, há espaço para todos...

Anónimo disse...

Anónimo número 3: usar como argumento para denegrir alguém o seu local de nascimento não só denota uma atitude xenófoba como revela falta de outros argumentos, nomeadamente relativos à sua competência ou capacidade de trabalho, que são, afinal, o que aqui interessa.
Curiosamente, foi este "estrangeiro" que conduziu o processo de classificação das Flores como Reserva da Biosfera...
Anónimo número 2: o saneamento de Sta Cruz não é da responsabilidade do Governo, portanto não se compreende o sentido do seu comentário.