Lapas continuam em risco de extinção
A actual exploração contínua e exagerada de lapas poderá levar à sua extinção, concluiu um grupo de investigadores da Universidade dos Açores.
Sinais de excessiva exploração de lapas estão presentes em todas as ilhas do arquipélago, por isso não há uma ilha específica onde a sobre-exploração é mais visível ou onde o risco de extinção é maior. Em entrevista ao jornal «Diário dos Açores», a investigadora responsável pelo projecto PatelGene considera que “a principal salvaguarda deste recurso está na sensibilização da população açoriana”.
Ana Neto desenvolveu um projecto dedicado à ecologia e genética populacional de lapas na Região, denominado “PatelGene - estrutura genética das lapas no arquipélago dos Açores: implicações para a conservação e designação de áreas marinhas protegidas”. Após cerca de dois anos de trabalho, os resultados foram apresentados no seminário final do projecto na Universidade dos Açores, tendo a investigadora salientado que se verifica um excesso de exploração deste recurso no arquipélago e que a diversidade genética de Patella aspera (lapa-brava) na Região é reduzida. Além disso, verifica-se “elevada consanguinidade”, o que sugere a existência de uma população reprodutora “relativamente reduzida” - por via da sobre-exploração.
Embora as lapas estejam protegidas por lei, que define épocas de defeso e tamanhos mínimos de captura, a sobre-exploração preocupa os investigadores, pois as lapas não são organismos isolados. Ou seja, as lapas existem num ecossistema costeiro que tem outros organismos. Quando se explora desmedidamente este recurso, as algas crescem e depois de instaladas não deixam espaço disponível para as lapas jovens se fixarem. Por esse motivo, a população de lapas fica comprometida.
Do estudo foi possível apurar que a exploração excessiva das lapas pode causar, efectivamente, a extinção deste recurso económico, pois, segundo a investigadora, a lapa-brava no arquipélago apresenta um “comportamento aparentemente bastante resiliente em termos do seu ciclo de vida”, pelo que a “extinção local pode acontecer se a exploração for excessiva e descontrolada”, destacando no entanto que “é pouco provável que esta ocorra a uma escala regional”. A sobre-exploração das lapas é “mais notória nas ilhas com maior rácio de habitats por perímetro de costa”, refere.
Com vista a atenuar a apanha exagerada de lapas, Ana Neto aponta várias coisas que podem ser feitas, nomeadamente “assegurar que as medidas existentes (áreas de protecção, épocas de defeso, tamanhos mínimos de captura, etc.) funcionem”. Para a investigadora, é igualmente possível estabelecer e testar “vários cenários de conservação tendo em conta taxas de migração entre ilhas e níveis de exploração”, realçando contudo que “a principal salvaguarda deste recurso está na sensibilização da população açoriana para a sua fragilidade, complementada com uma fiscalização eficiente que, de facto, puna os prevaricadores”.
Neste sentido, os investigadores queixam-se da falta de fiscalização por parte das entidades competentes nas áreas onde há maior exploração comercial de lapas. “Como investigadores habituados a ‘patrulhar’ as zonas costeiras nos Açores, são inúmeras as vezes que encontramos apanhadores de lapas em zonas de protecção, dentro e fora das épocas de defeso, e sem respeitar os tamanhos mínimos legais para a sua captura”, denuncia, acrescentando que “a fiscalização é importante, mas a componente educativa é fundamental. Os açorianos têm de perceber que a remoção intensiva de lapas leva a um estado de desequilíbrio não natural no ecossistema marinho costeiro”.
A equipa de investigação liderada por Ana Neto foi composta por seis investigadores que se debruçaram sobre um projecto que teve como principal objectivo obter “informação teórica e prática fundamentada que sirva de base à elaboração de estratégias de conservação que levem a uma exploração sustentável” das lapas nos Açores.
Notícia: jornal «Diário dos Açores».
Saudações florentinas!!
2 comentários:
Se fosse só apanhadas pelo pessoal da Ilha nunca tinha fim mas, há Traineiras a pescar nas Flores que rapam o pouco que há. Precisava mais fiscalização tanto de noite como de dia.
Leis temos. Umas rústicas, provenientes da deputação tosca, outras refinadas, com pareceres jurídicos comprados.
Tanto umas como outras servem para quê, se depois não são aplicadas?
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