De ilhas de degredo a paraíso turístico
Em 40 anos de democracia e autonomia conquistadas pela Revolução dos Cravos, os Açores deixaram de ser ilhas de degredo, desenvolveram uma economia baseada numa agropecuária competitiva e depositam esperanças num novo ciclo de crescimento baseado no turismo.
Já antes dos anos 1960, o arquipélago dos Açores era terra de desterro para oposicionistas à ditadura, mas naquela época houve "uma coincidência entre essa realidade e as escalas que se faziam nos Açores com as tropas que iam para a guerra colonial". Essa circunstância fez estacionar em São Miguel alguns jovens milicianos anti-salazaristas, como Manuel Alegre, que se cruzavam com os oposicionistas locais e outros desterrados, como Melo Antunes, explicou Maria Inácia Rezola, investigadora do Instituto de História Contemporânea da Universidade Nova de Lisboa.
Quanto às ilhas, estas deixaram de ser olhadas como terras isoladas nestes últimos 40 anos e procuram hoje ser vistas como um novo paraíso turístico para determinados mercados. O presidente da Câmara de Comércio e Indústria de Ponta Delgada, Mário Fortuna afirma que os Açores são hoje “radicalmente diferentes” e que os “índices de desenvolvimento económico se alteraram de forma significativa”.
Com o “novo enquadramento político” (a constituição da Autonomia), foram canalizadas verbas “significativas” para os Açores, o que permitiu a evolução económica, tendo ainda havido o contributo dos fundos europeus e as transferências ao abrigo do acordo das Lajes, explicou Mário Fortuna.
O economista da Universidade dos Açores salientou que a agricultura de subsistência evoluiu para uma “agropecuária competitiva” e para uma indústria de laticínios forte (o leite representa 30% da produção nacional), acrescentando que a Região transformou as pescas num setor de exportação e que o turismo tem tido “incrementos bastante significativos”. Para Mário Fortuna, há “uma perspetiva de crescimento positiva” no turismo e a Região deve apostar na “qualidade” e nos nichos ligados ao turismo de natureza.
É hoje consensual que as nove ilhas foram equipadas a nível de infraestruturas, que “todos os indicadores sociais e culturais melhoraram espetacularmente” e o Produto Interno Bruto (PIB) ‘per capita’ multiplicou-se por dez, como escreveu Mota Amaral, ex-presidente do Governo Regional.
Mas há também vozes que recorrentemente alertam para o problema da “coesão”, apontando que as ilhas mais pequenas poderão ficar para trás no desenvolvimento. Como no resto do país, apontam-se também críticas à aplicação dos fundos europeus em muitos investimentos "não reprodutivos".
Entre os desafios a vencer, estão também índices de desenvolvimento social que, apesar da melhoria, são, em alguns casos, os piores do país. É o caso do insucesso escolar e do abandono escolar precoce, que o presidente do Governo Regional, Vasco Cordeiro reconheceu e sublinhou nas intervenções públicas que fez ao longo do primeiro ano do mandato que iniciou em Novembro de 2012, ser "um desafio absolutamente vital" e "estratégico", apelando para um "sobressalto cívico" nesta matéria, por considerar que o futuro da Região se joga na qualificação dos açorianos.
Notícia: jornal «Açoriano Oriental».
Saudações florentinas!!
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