Flores no meio do mar: viagem mágica
Quem viaja para a ilha das Flores procura calma, silêncio, contacto com a natureza, paisagens de cortar o fôlego e percursos bem marcados para caminhar. Há várias cascatas e lagoas para descobrir, uma grande abundância de floresta laurissilva, arbustos retorcidos e zonas de musgo espesso como nunca vi, que temos medo de pisar para não estragar.
Tome, pois, nota dos seguintes locais, mas lembre-se que a ilha das Flores é, no seu todo, paradisíaca valendo a pena percorrê-la de carro de uma ponta à outra. Tenha, no entanto, cuidado para não atropelar nenhum dos muitos coelhos que correm desvairados pela estrada.
Poço da Alagoínha
Comparada frequentemente ao Jardim do Éden, a Alagoínha esconde-se dentro de uma floresta que terá de atravessar a pé. São cerca de 20 minutos por um trilho de pedras irregulares, entre árvores altas, ao som dos passarinhos e do murmúrio de água a correr. A experiência faz parte do suspense para o que vai encontrar no final: dezenas de pequenas cascatas que brotam de um monte cheio de vegetação e que correm para um lago que espelha toda a beleza envolvente.
Lagoas
Na ilha das Flores há sete crateras vulcânicas que se transformaram em lagoas, todas bem sinalizadas ao longo da estrada. As nossas preferidas foram a Lagoa Funda e, ao seu lado, a Lagoa Comprida, mas as restantes oferecem igual encanto.
Outros locais a visitar se houver tempo
Poço do Bacalhau: uma cascata perto da localidade da Fajã Grande;
Rocha dos Bordões: um morro basáltico invulgar;
Farol da Ponta do Albernaz: o farol mais ocidental da Europa;
Gruta dos Enxaréus: uma grande cavidade à beira-mar, outrora esconderijo de piratas, visitável apenas em passeios de barco organizados.
Caminhadas
Poderá encontrar toda a informação de que precisa sobre os quatro trilhos marcados que existem na ilha das Flores. Uma vez que o nosso tempo era limitado, não percorremos nenhum deles na totalidade. Fizemos, todavia, parcialmente dois que nos ficaram na memória.
O primeiro foi o trilho da Fajã de Lopo Vaz. Trata-se de um percurso sempre a descer até à fajã, situada bem no fundo de uma vertente verde escarpada. Receosos da subida, caminhamos apenas até ao ponto donde se avista a fajã, onde nos sentámos, rendidos à serenidade e à beleza envolventes.
O segundo foi o trilho que parte da Ponta da Fajã em direção a Ponta Delgada, ao longo de uma falésia junto ao mar, com vistas soberbas sobre a Fajã Grande e o ilhéu de Monchique, o último pontinho de terra da Europa.
Restaurantes
Na Fajãzinha: restaurante Pôr do Sol. Aberto só ao jantar, no dia em que fomos havia um buffet com comida tradicional dos Açores e da ilha das Flores em particular. Não o servem sempre, só quando recebem reservas de grupos. Naquele dia, havia uma mesa grande com turistas alemães e outra com os familiares de uns irmãos de visita à sua ilha natal.
Em Ponta Delgada: restaurante O Pescador. A especialidade é peixe fresco, pescado no próprio dia pelo filho do dono do restaurante. Excelente na sua simplicidade.
Na Fajã Grande: restaurantes Maresia e Zona Balnear. No Maresia, que tem uma esplanada rente ao mar e uma decoração alternativa com sofás usados, comemos muito bem. Vá, no entanto, preparado com bastante dinheiro, já que o multibanco mais perto fica a cerca de 20km. No Zona Balnear, apesar de nos terem apresentado um dos piores bifes de sempre, comemos uns filetes de abrótea frescos que nunca esqueceremos. Convém, pois, perguntar à entrada se têm peixe fresco, como aliás o deve fazer em qualquer restaurante a que vá nos Açores.
E porque a conversa conduz a novas descobertas...
No restaurante Pôr do Sol, conhecemos dois irmãos septuagenários que emigraram para a América quando ainda eram crianças. Contaram-nos, num português inseguro mas orgulhoso, que tinham passado praticamente toda a vida do outro lado do Atlântico, mas que voltavam à ilha das Flores pelo menos uma vez por ano para reencontrar familiares e matar saudades. Irradiavam felicidade numa mesa comprida onde sorriam tanto pessoas de muita idade como outras ainda jovens.
No decurso do jantar, o dono do restaurante perguntou-nos se não queríamos ir a seguir ao Bodo, no Império da Fajãzinha. “Mas o que é que se vai passar lá?” - perguntámos nós curiosos. “As pessoas rezam e, no final, cantam e tocam. É muito bonito.” - disse ele. Perdemos essa parte, porque chegámos atrasados. Ainda fomos, porém, a tempo de beber um licor de anis oferecido por um dos irmãos emigrantes, que ficou todo contente por nos reencontrar e ainda mais por aceitarmos a bebida. Por acanhamento, não ficámos para comer os doces nem para jogar ao bingo com o resto da população da aldeia, pela noite fora. Fomos, antes, para a Cuada ouvir os cagarros, bem aconchegadinhos na cama.
Curiosidade: em 1452, os navegadores portugueses Diogo de Teive e o seu filho, João de Teive, descobriram no meio do Oceano Atlântico uma ilha a que chamaram Flores. Nessa altura, eram umas flores de cor amarela, os cubres, que cobriam abundantemente as suas vertentes escarpadas. Hoje em dia, predominam as hortênsias que, apesar de serem muito apreciadas pelos turistas, são consideradas uma praga pelos açorianos.
Notícia: blogue «Viagens à Solta».
Saudações florentinas!!
2 comentários:
não há mesmo nada de santa cruz para mostrar, se não há mostrem o pereira e o josé do corvo.
Gostei muito desse texto! É um incentivo a mais para que eu vá conhecer essa Ilha das Flores. Acho até que escritos como esse deveriam circular em revistas e blogs de turismo aqui do Brasil; seria promissor.
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